Cientistas descobrem açúcar que pode substituir o glifosato

Pesquisadores da Universidade de Tübingen, na Alemanha, descobriram uma substância, de origem natural, que tem os mesmos efeitos do controverso glifosato, o agrotóxico mais usado no Brasil, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e que é motivo de controvérsia devido a seus riscos para a saúde e o meio ambiente.

A alternativa natural é uma molécula de açúcar liberada por um tipo de cianobactérias, também chamadas de algas verde-azuladas. O grupo de pesquisadores conduzia estudos apenas para analisar a bactéria e descobriu a molécula de açúcar por acaso.

A cianobactéria em questão, a Synechococcus elongatus, é de água doce e bastante egoísta. Ela excreta o açúcar 7-desoxi-Sedoheptulose (7dSh) para inibir o desenvolvimento de cepas de bactérias concorrentes. A inibição é tão bem-sucedida que os cientistas quiseram saber o que há por trás do mecanismo.

Klaus Brilisauer e seus colegas Stephanie Grond e Karl Forchhammer descobriram que o 7dSh age sobre a mesma via metabólica que o glifosato.

“Ele age sobre outra enzima, mas é a mesma via metabólica, a chamada via do chiquimato”, explicou Brilisauer em entrevista à DW. O efeito é o mesmo: as plantas tratadas com o açúcar têm seu crescimento interrompido.

Por meio da via do chiquimato, plantas e microrganismos produzem importantes aminoácidos. Dado que esse tipo de metabolismo não existe em formas mais avançadas de vida, como humanos e animais, o açúcar é inofensivo para a saúde delas. “Nós tratamos embriões de peixe-zebra com uma dose bem alta sem nenhum efeito negativo”, disse Brilisauer.

A nova substância, entretanto, ainda não pode ser utilizada porque precisa ser testada fora dos laboratórios. Além disso, uma autorização para ser usada como herbicida também está pendente.

“Nós já estamos conversando com parceiros”, afirmou Brilisauer. Inicialmente, os parceiros devem testar a substância, e apenas depois um pedido de aprovação de uso como herbicida será submetido. O processo pode levar 18 meses ou mais, mas Brilisauer está otimista.

“Nós esperamos uma boa degradabilidade e baixa ecotoxicidade”, afirmou ele. Na prática, porém, justamente a degradabilidade pode arruinar o uso da substância. Se se degradar muito rapidamente em campo, ela não será capaz de desenvolver seu efeito inibidor de ervas daninhas.

Brilisauer não tem receio de que a Bayer, produtora do glifosato, tenha objeção à chegada de uma alternativa natural ao mercado. “No longo prazo, o glifosato vai desaparecer do mercado de toda forma”, afirmou, acrescentando que a Bayer até seria bem-vinda para participar do desenvolvimento da substância. A Universidade de Tübingen já apresentou um pedido de patente.  Deutsche Welle

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