Utilizando o biogás como umas das fontes de energia, usina dá nova destinação a dejetos que eram dispensados de forma inadequada
O Paraná coleciona números invejáveis quando o assunto é o agronegócio, e com a suinocultura a história se repete: o Estado conta com o segundo maior rebanho de suínos do Brasil. A região de Toledo é responsável por 25% da produção estadual. O município de Ouro Verde do Oeste, que integra a região, tem sua economia centrada na agropecuária, onde está enquadrada a suinocultura. Ao mesmo tempo em que a cadeia produtiva é o sustento de muitas famílias, também é um grande problema ambiental, por conta da dificuldade de destinação correta dos dejetos. A chegada da primeira usina híbrida de biogás e energia fotovoltaica em larga escala do Brasil ao município, da empresa EnerDinBo, está mudando essa realidade.
A usina, que entrou em funcionamento recentemente, se utiliza da energia solar, e do biogás produzido a partir dos excrementos dos porcos. A decisão para instalação em Ouro Verde do Oeste foi estratégica: há 22 suínos alojados por habitante no município, que produzem +1000 toneladas de dejetos por dia – antes, um passivo ambiental; hoje, matéria-prima de primeira necessidade para a usina.
Quarenta produtores de suínos são parceiros do projeto nesta etapa inicial. Celso Junior Cestari foi um dos selecionados e já colhe os resultados. “Os dejetos eram utilizados na fertirrigação das pastagens e lavouras, mas no período de entressafra era um problema porque acumulava muito, principalmente no período de chuvas, que vai de meados de novembro a fevereiro”, relembra.
Agora, a propriedade de Celso é rota do caminhão da usina, que capta o esterco para que ele se torne energia. “Nós vamos até a propriedade do suinocultor e coletamos os dejetos dos suínos sem custo nenhum. Fazemos toda a logística da coleta bem como o tratamento desses dejetos na nossa planta de geração de energia elétrica a biogás. Os dejetos chegam na usina e passam por uma breve separação da fração líquida e da fração sólida, porque o que interessa é o que tem de sólido para produção do biogás. Fazemos separação para garantir a retirada de materiais que são inerentes à atividade de suinocultura. Depois isso entra nos chamados biodigestores, em um ambiente sem a presença de oxigênio”, explica o diretor técnico da EnerDinBo, Thiago González.
O material passa por quatro fases: hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese. “O biogás é composto por 65% de metano, 25% a 30% de CO2 e demais gases como oxigênio e nitrogênio. A concentração de metano é queimada nos motores para gerar a energia elétrica. O cheiro forte fica todo dentro dos biodigestores e não vai para os vizinhos”, complementa Thiago.
Mais sustentabilidade, maior produção de suínos
Devido à ausência de local adequado para a destinação de dejetos e subprodutos da produção de suínos, a expansão das granjas estava limitada, diminuindo o potencial econômico para o produtor e, consequentemente, para a região. Com a alternativa, o cenário é outro: além da certeza de que o material ganhou uma importante serventia, o produtor também pode aumentar o número de animais.
No caso do Celso, a granja, que tinha 1700 porcos, passou a contar com 2400. Além disso, o ciclo se fecha com a produção de biofertilizantes feitos com o que sobra da geração de energia. O produto é doado aos suinocultores cadastrados, além de estar disponível para os demais que tiverem interesse. “Não precisamos nos preocupar mais com o destino dos dejetos e uma das vantagens é que quando precisar fazer uma adubação em alguma área posso contar com um produto de maior qualidade e que não vai agredir o solo nem o meio ambiente”, elogia o suinocultor.
A transformação proporcionada pela usina é equivalente ao plantio de 22 mil árvores ao ano. “O cuidado com a sustentabilidade pode abrir novos mercados para as indústrias da carne de porco. Nossa intenção é oferecer para os produtores melhor qualidade na produção de suínos”, conclui Thiago. Divulgação