No primeiro semestre deste ano, a geração de energia elétrica para à rede pela fonte biomassa, da qual o setor sucroenergético costuma representar mais de 80% do total, foi de 12,2 mil GWh. Esse número representa 16% de toda a geração de energia elétrica pela Usina Itaipu em 2020 e pode atender 6,3 milhões de residências.
A cada dia mais a bioeletricidade se mostra importante para a matriz energética brasileira, sendo a terceira principal fonte, atrás apenas das hidrelétricas e da energia eólica. O engenheiro agrônomo, Alcides Torres, da Scot Consultoria afirma que o setor tem condições de disponibilizar mais bioeletricidade ao Sistema Interligado Nacional (SIN) até o fim de 2022.. “Estima-se que aproveitamos somente 15% do potencial de produção.”, pontua.
Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), estruturalmente, a biomassa da cana tem possibilidade de responder positivamente em momentos de escassez hídrica. “Há uma possibilidade de geração extra a mais do que o planejado inicialmente, com uma gestão sobre a biomassa própria e de terceiros, com a aquisição de cavaco de madeira, pó de serra, casca de arroz, de amendoim etc. Essa é uma avaliação sempre feita antes de começar a safra. Assim, para isto acontecer temos que ter um planejamento bem antecipado para organizar as operações de gestão da biomassa própria e, principalmente, de terceiros. Estamos aguardando ainda a publicação dos procedimentos de como será essa aquisição de energia extra pelo Sistema Interligado. Mas com certeza, neste ano, como sempre, vamos ajudar em muito o Sistema com a nossa geração renovável, sem intermitência, nos meses mais críticos do 2º semestre, e a portaria publicada recentemente pelo MME ajudará sobretudo no planejamento da safra seguinte, já que as diretrizes da portaria vigerão até dezembro de 2022, explica o gerente de Bioeletricidade da Unica, Zilmar Souza.
A safra atual
Contudo, desde o início da safra 2021/2022 até a primeira metade de julho, a quantidade de cana-de-açúcar processada pelas usinas atingiu 256,75 milhões de toneladas, ante 277,15 milhões de toneladas mesmo período do último ciclo agrícola. Trata-se de uma queda de 7,36% em comparação com o mesmo período da safra passada, o que refletiu também na geração de bioeletricidade. Comparativamente a 01 de janeiro a 15 de julho de 2020, a redução na geração de energia elétrica para a rede pela biomassa em geral foi de 2,65%.
Impasses
Em abril deste ano, a pedido do Ministério de Minas e Energia (MME), a UNICA e a Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen) apresentaram levantamento apontando que centrais movidas a biomassa, principalmente de bagaço de cana-de-açúcar, poderiam melhorar o cenário de oferta atual e gerar 4,6 mil GWh adicionais em energia entre agosto de 2021 e dezembro de 2022 com medidas de incentivo do governo, como uma contratação emergencial para compra da produção extra.
Com a edição da portaria pelo MME, estabelecem-se as Diretrizes para a Oferta Adicional de Geração de Energia Elétrica Proveniente de Usina Termelétrica (UTE) à biomassa para atendimento ao SIN, o que poderá estimular essa geração estimada inicialmente em 4,6 mil GWh adicionais em energia entre agosto de 2021 e dezembro de 2022. “As usinas já estão avaliando a possibilidade de colocar esta geração extra de pé, mas ainda estão aguardando a operacionalização de como será adquirida esta energia, a ser provida pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) e pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), em até quinze dias após a publicação da Portaria. Esperamos que o ONS e CCEE consiga prover esses procedimentos até antes do prazo limite”, explica Souza .
Diante deste cenário, o setor sucroenergético espera contribuir na garantia do suprimento energético ao país, neste momento de crise hídrica. É importante destacar que a portaria editada pelo MME é um mecanismo inovador e pode ajudar a viabilizar geração extra renovável até o fim desta safra e, sobretudo, planejar excedentes para a safra do ano que vem, e pode representar o primeiro passa para se rediscutir instrumentos regulatórios que estimulem a bioeletricidade. “A UNICA espera que a regulamentação acabe reconhecendo que a biomassa funciona como um seguro, com uma geração não intermitente para o setor elétrico brasileiro e deve ser incentivada para ganhar escala e evitar o stop and go que vimos no desenvolvimento dessa fonte renovável nos últimos anos”, pontua o gerente de Bioeletricidade da Unica.
Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia