Insegurança no preço da cana gera receio em produtor de cana
Alexandro Santos, Coordenador Técnico do Instituto para Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG) conversou com o Canal – Jornal da Bioenergia e revelou um pouco sobre a realidade dos produtores canavieiros do Estado de Goiás. Entre elas, a insegurança jurídica, a defasagem de preços e outros pontos.
Canal- Jornal da Bioenergia: Quais os principais desafios para os produtores para essa safra canavieira?
Alexandro Santos: Sem dúvida os canaviais envelhecidos serão um dos grandes desafios. Os custos dos tratos culturais realizados em 2022 foram muito altos e, consequentemente, os investimentos para renovação de canaviais. A insegurança no preço do quilo de ATR, em queda, também desmotivou o produtor a renovar os canaviais. Outro ponto de destaque são as dificuldades em atender as legislações trabalhista e ambiental nas propriedades. Muito excesso praticado contra os produtores independentes de cana. Um outro desafio é o entrave que já persiste por décadas relativo ao órgão regulador do setor – o CONSECANA. Existe uma defasagem no preço do quilo de ATR que já persiste há muito tempo no modelo de cálculo e além do mais há muitas dificuldades para se regulamentar a remuneração de 100% das CBIO´s ao produtor.
Canal: Quais as principais variedades estarão em Goiás nesta safra?
Alexandro: As principais variedades hoje cultivadas nas áreas dos fornecedores são RB867515, CTC4, RB966928, RB855453 e RB855156.
Canal: O produtor enfrenta muitos desafios para aumentar a produtividade. Em resumo, quais os caminhos orientados para ter esse incremento?
Alexandro: Em primeiro lugar é necessário o produtor se conscientizar sobre a necessidade de se fazer Gestão de custos. Também o aprimoramento das técnicas agronômicas, como correção da fertilidade do solo, conforme análise de solo, locação das variedades conforme ambientes de produção classificados por meio de análises pedagógica se faz muito importante.
Podemos citar ainda o uso adequado das ferramentas disponíveis como: inibidor de florescimento, maturadores e nutrição foliar. Ainda existe muita dúvida e aplicação desse tipo de técnica de forma errada ou equivocada. As recomendações para pragas infestantes e plantas daninhas ainda também é um desafio para se alcançar níveis de produtividade com três dígitos. Se faz necessário a busca contínua na eficiência e otimização das operações realizadas no Canavial.
Canal: Quais serão os maiores desafios de quem planta cana para fornecer para as usinas?
Alexandro: A insegurança jurídica e a falta de clareza mediante a um sistema de remuneração complexo e, às vezes, difícil de ser entendido, são grandes entraves até hoje nesse quesito de relação produtor versus indústria. Como já dito, ao continuar o modelo de remuneração do produtor da forma como vem sendo praticado há anos, com muita defasagem, a tendência são os produtores existentes migrarem para outras culturas e os que não entraram até hoje, se afastem ainda mais do sistema. Também o nível de competitividade tem aumentado quando comparado a soja com a cana. Contratos com mais solidez, liquidez e mais curtos, tem sido a preferência dos proprietários de terras, especialmente no plantio da soja.
Canal: O Senar/ Faeg desenvolveu tecnologia para ajudar o produtor?
Alexandro: O Sistema FAEG SENAR IFAG muito tem feito pela cadeia produtiva da cana-de-açúcar no Estado de Goiás. Através de sua Comissão Técnica, a FAEG tem buscado a consolidação de políticas públicas que vem de encontro às necessidades dos produtores independentes, como por exemplo, o apoio na regulamentação da venda de CBIOS pelos produtores. A continuidade na busca por melhorias na relação fornecedor e indústria também tem sido constante, de modo a estabelecer parcerias e continuidade do processo.
O SENAR também tem sido muito importante no processo de desenvolvimento da cadeia produtiva da cana-de-açúcar, oferecendo cursos, treinamentos, capacitações tanto para trabalhadores do campo quanto para gestores das unidades agrícolas e industriais. Além de tudo isso contamos com startups que estão sendo cultivadas e aceleradas dentro de nosso espaço, trazendo soluções pertinentes aos nossos produtores, tanto nas áreas de produção quanto na gestão do negócio. O IFAG também tem realizado diversos estudos, inclusive elaborando estimativas de custos de produção, para subsidiar o produtor em suas decisões.