Presidente-executivo da Associação Pró-Desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás (Adial), Edwal Portilho, o Tchequinho, conversa com o Canal – Jornal da Bioenergia sobre os entraves e a realidade da indústria goiana.
Ele revela que reforma tributária, dificuldade energética são alguns das dificuldades vividas hoje pelo setor, mas que a indústria é fundamental para o desenvolvimento econômico de qualquer Estado ou município.
Confira a entrevista completa.
Canal – Jornal da Bioenergia: Hoje, quais os principais desafios da indústria nacional e a goiana?
Edwal Portilho: A condição dos custos industriais em relação ao resto do mundo, ou seja, o Brasil tem custos, o chamado Custo Brasil, extremamente alto, com carga tributária elevada, encargos trabalhistas e sociais extremamente altos. E essas exigências nos deixam em um baixo patamar de competitividade, sem conseguir colocar grande parte dos nossos produtos industrializados no mercado internacional. Essa situação nos limita ao mercado interno e nuances de mercado, prejudicando os planos de negócio das indústrias no longo prazo.
Ainda há a questão da taxa de juros, a deficiência de crédito e também o baixo investimento, inovação e condições para que as empresas invistam em inovação. Por mais que se propague que há como fazer a inovação, mas na prática são poucos nichos que têm avançado no desenvolvimento tecnológico.
Canal: A indústria goiana é destaque, liderando as unidades industriais com mais de 5 pessoas ocupadas entre 1996 e 2021. A que se deve essa liderança?
Edwal: Atribuo esse crescimento exponencial frente aos demais estados na geração de novas indústrias os incentivos fiscais estaduais, essas iniciativas atraíram investimentos para dentro do país, permitindo por um custo mais barato do produto industrializado e agregando valor a matérias-primas, oferecendo condições de importar insumos e materiais de acondicionamento de outros estados ou de outros países e compondo um custo menor com a dos impostos a ser pago.
A decisão de Goiás foi deixar de esperar uma indústria que pagasse 100% dos impostos. O Estado então atribuiu 30% de ICMS e os outros os 70% seriam pagos por meio da geração de empregos e negócios para o estado. Por isso o crescimento extraordinário está levando o PIB de R$ 15 bi em para quase R$ 300 em 2023.
Canal: A Reforma Tributária ainda está em votação e representa um imbróglio para a economia goiana. A Adial acredita que a proposta que está no Senado será alterada com soluções que beneficiem o desenvolvimento da indústria e da agropecuária no país?
Edwal: Na Reforma Tributária entendemos que o Estado de Goiás será frontalmente atingido, porque como foi aprovado na Câmara perde toda a condição de oferecer os incentivos fiscais, pois passa 100% da arrecadação dos impostos, do IVA adual para o destino, além disso estabelece alíquotas que tentam permear padrões para todos os segmentos.
Há 40 anos, o ICMS vem se adaptando às questões regionais e de segmentos, das cadeias produtivas – mais longas ou curtas- e essas condições de adequações serão todas perdidas. Ou seja, a produção de algum produto industrializado, em alguma região do Brasil Central principalmente, será inviável.
Então, ao longo do tempo haverá uma desindustrialização nesses lugares e não garanto que haverá nova industrialização em outros pontos facilmente, porque a alíquota está conversando para o IVA é entre 27 e 29%, que é um absurdo de carga tributária para os produtos industrializados, serviços e assim por diante.
Canal: Nos últimos anos, quais foram as principais conquistas da Adial, no seu ponto de vista?
Edwal: Dentre as maiores conquistas da Adial no Estado de Goiás destaco AgreGo, pois compreende onze segmentos, as cadeias produtivas que foram individualmente discutidas com o Governo, empresários e o setor produtivo em geral, além de outros órgãos de âmbito federal
O programa permite mostrar os gargalos e de enxergar caminhos para facilitar o desenvolvimento de cada cadeia produtiva. São elas: Bovinos, Suínos, Frango, Lácteos, Milho, Soja, Pescados, Atomatados, Farmacêutico, Sucroenergético e Automotivo.
Canal: A Adial é um membro do Conselho Gestor do Fundeinfra. Na sua visão, as obras aprovadas vão beneficiar a agricultura e a indústria goiana? Quais os principais déficits de infraestrutura em Goiás?
Edwal: A nossa participação no Fundeinfra é importante para mostrar a importância das empresas embarcadoras – as indústrias que recebem matéria-prima como as que realizas as expedições dos seus produtos industrializados- temos condição de demonstrar quais os trechos, são mais necessários para o desenvolvimento econômico, redução de custos e agilização na produção. Então, a nossa participação é realmente muito importante.
E nos gargalos de infraestrutura, além de estradas nós tínhamos a ferrovia que agora está sendo suprida e está amadurecendo bem rapidamente com a Norte-Sul. Hoje, o grande gargalo continua sendo a energia elétrica. Mas estamos, em parceria com a Equatorial, tratando pontualmente das demandas das indústrias que acabam reverberando também para as cidades e para o campo.
Canal: A Adial desenvolve parcerias para promover o social. Como funciona?
Edwal: Na área social além da questão de geração emprego com os salários na média melhores se comparados ao outros segmentos, a indústria goiana tem buscado preencher suas vagas, por meio da Adial Talentos, para que as pessoas assinem as suas carteiras e valorizem a carteira assinada e possam ter um plano de desenvolvimento de vida, como carreira profissional, com condições mais garantidas, como com o FGTS para construir ou financiar a sua casa, ter uma aposentadoria com plano de previdência, para ter uma velhice com qualidade de vida.
Temos feito isso juntamente com o Governo Federal e Estadual e também com as prefeituras, o foco é sensibilizar a população da importância da carteira assinada oferecendo qualidade de vida, paz mais harmonia e equilíbrio nos lares.
Além disso, desenvolvemos ações filantrópicas com OSs, como a Cufa, a OVG e outros parceiros do terceiro setor. A indústria goiana deposita quase três bilhões de reais goiana deposita no Fundo de Proteção Social, chamado Protege, onde a Adial também participa também no Conselho acompanhando, fiscalizando e sugerindo investimentos sociais para que sejam bem aplicados esses recursos.
Canal: Um recado para o setor.
Edwal: Mesmo com reforma tributária, com problema de suprimento energético, com dificuldades de falta de mão de obra treinada, temos que continuar enfrentando esses gargalos buscando desenvolvimento industrial, que é o mesmo que o desenvolvimento econômico e social do Estado. Os problemas não são de agora, sempre existiram e sempre há surpresas. O nosso país não é para amadores e do empreendedorismo. Resiliência, comprometimento e foco no trabalho do desenvolvimento industrial de Goiás é o que é realizado no dia a dia do trabalho da Adial , ouvindo as demandas e buscando as soluções para os empreendedores, seja na indústria, na logística, seja na área de serviços e de comércio.