Usinas devem manter aposta no açúcar, mesmo com o consumo de etanol em alta

Nos últimos meses, o consumo de etanol no mercado interno mostrou reação. Ainda assim, o aumento da demanda não deve ser suficiente para mudar o foco das usinas, que apostaram em um mix de produção mais açucareiro nesta safra devido aos preços favoráveis e devem manter a estratégia na próxima temporada.

As vendas de etanol hidratado totalizaram 1,7 bilhão de litros em outubro, volume 29% maior que o de outubro de 2022, conforme dados da União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia (Unica) divulgados na última semana.

Segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), na semana que se encerrou em 4 de novembro, o etanol hidratado foi mais atrativo ao consumidor do que a gasolina em cidades que respondem por 63% do consumo nacional de combustíveis.

A demanda permaneceu baixa durante todo o primeiro semestre. Já se esperava recuperação desde a metade do ano, quando o governo federal retomou a cobrança de PIS e Cofins sobre a gasolina e o etanol, uma decisão que elevou a competitividade do biocombustível.

“A gente vê, sim, uma recuperação do consumo, e ela está atrelada à retomada da tributação, que fez com que a paridade ficasse abaixo de 70%”, disse o especialista de inteligência de mercado na área de açúcar e etanol da StoneX, Filipi Cardoso.

Mas os preços do biocombustível não tiveram espaço para novos aumentos, pois a grande oferta segue pressionando as cotações.

Segundo Cardoso, o volume de cana da safra 2023/24 é maior que o da anterior, e os níveis de produtividade do atua ciclo são muito elevados. “Então, mesmo com as usinas aumentando o mix para o açúcar, a oferta de etanol está alta”, disse. A ascensão do etanol de milho é outro fator que tem elevado os estoques.

Açúcar mais vantajoso
No acumulado do ciclo agrícola até 1º de novembro, a fabricação do biocombustível no Centro-Sul cresceu 10%, para 26,98 bilhões de litros, segundo a Unica. Nesse cenário, o açúcar tem oferecido rendimento maior às usinas, o que explica por que o mix deve continuar açucareiro na próxima safra.

“Para o etanol ficar mais competitivo, seria preciso haver espaço para os preços para as distribuidoras subirem muito. Para isso, o preço da gasolina teria que avançar muito, o que também não é um cenário provável neste momento”, disse.

Para o diretor da Archer Consulting, Arnaldo Luiz Correa, “a prioridade das usinas é açúcar até o limite da armazenagem”.

Na entressafra, o mix pode pender um pouco mais para o etanol, já que as usinas têm que cumprir obrigações legais de manter estoques do produto nesse período. “A moagem deverá retornar com força total em março, e voltada para o açúcar”, estimou Cardoso, da StoneX.

Na avaliação do Rabobank, os preços internacionais do açúcar continuarão positivos em 2024 e até em 2025. “Enquanto o Centro-Sul enfrenta uma safra enorme, a Índia e a Tailândia, que são exportadores relevantes, têm sofrido impactos negativos do clima com a volta do El Niño. As projeções de queda da produção na Índia e na Tailândia contribuíram para o déficit de 1,9 milhão de toneladas no balanço global previsto pelo Rabobank para 2023/24 (outubro/setembro)”, escreveu em relatório.

Moagem em 2024/25
A moagem de cana da próxima temporada no Centro-Sul, que começa oficialmente em abril de 2024, pode diminuir, mas o volume ainda deverá ser robusto. O Rabobank estima processamento de 610 milhões de toneladas na safra 2024/25. No ciclo atual, a moagem deverá ficar entre 620 milhões e 635 milhões de toneladas.

Mesmo com um processamento menor, as usinas do Centro-Sul, pensando no cenário favorável ao açúcar, investem na ampliação da capacidade. O resultado deve ser uma produção de 40,9 milhões de toneladas na próxima safra, projetou o banco — para a safra atual, a estimativa é de 40,4 milhões.

Para o etanol, a projeção inicial é de 31,7 bilhões de litros em 2024/25, abaixo dos 32,4 bilhões previstos para a safra atual. Globo Rural

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