O Agronegócio é uma potência nacional, mas que deixou um pouco a desejar em 2022, caindo sua participação no PIB de 26,6% para 24,8%. Agora, em 2023, a projeção da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em parceria com o centro de estudos Cepea, da Esalq/USP, é ainda mais baixa. A projeção é de que o PIB do Agronegócio brasileiro de 2023 caia quase 1%, fechando com R$2,6 trilhões frente a R$2,62 trilhões em 2022.
A previsão para o agronegócio em 2024 é se manter estável, em comparação a 2023. Acompanhando pesquisas e o mercado, é preciso observar que há vários fatores que influenciarão diretamente os resultados do presente ano, como a relação entre os preços de produtos e custos de produção nos diferentes segmentos, da magnitude da retomada da agroindústria e dos efeitos climáticos, principalmente do El Niño, sobre a produtividade do Brasil.
Para se destacar, é preciso que o setor destine os investimentos nos pontos certos, para obter melhor desempenho em meio às oportunidades de negócios. Abaixo, abordo alguns pontos de atenção para o mercado do Agro ter no radar.
Inteligência Artificial
A inteligência artificial (IA) tem sido amplamente implementada no agronegócio, que pode usá-la para diversas finalidades, desde previsões climáticas e dados de colheita, até o processamento de dados de mercado em grande escala. Os resultados podem ser usados para acelerar a tomada de decisões sobre várias etapas do processo de plantio.
Outra utilidade é o monitoramento do plantio. Com a ajuda de imagens e informações fornecidas, a IA auxilia na identificação de pragas, diagnóstico de doenças e sugestão de medidas de controle fitossanitário. A inteligência artificial pode apoiar ainda o gerenciamento de recursos com base no histórico das atividades e parâmetros de consumo, oferecendo insights de melhor aproveitamento dos insumos.
A manutenção preditiva dos equipamentos também pode ser aprimorada pela IA, um diferencial importante no dia a dia do campo. Por meio da integração de dispositivos e a análise constante da IA, é possível que o sistema gere alertas de manutenção preventiva das máquinas, fazendo com que não haja paradas inesperadas e, consequentemente, a parada ou o atraso na plantação ou colheita.
Bioenergia de etanol de milho
Segundo projeções do consultor do Safras e Mercado, 2023 registrará uma safra de 84 milhões de toneladas de milho e estima-se que, em 2024, o volume suba para 88 milhões de toneladas. Dessa demanda, 14,5 milhões de toneladas foram utilizados para a produção de etanol de milho e, para o ano que vem, a previsão de uso é de 18 milhões de toneladas.
Diversas usinas foram criadas durante o ano, até mesmo se preparando para aproveitar a demanda do próximo ano. Para atendê-las, há sistemas que fazem o acompanhamento, controle e gestão de todo o ciclo de produção, do plantio à colheita, da logística ao processo industrial do milho e da cana-de-açúcar. A geração de bioenergia conta com um processo muito técnico e rigoroso, portanto o monitoramento eficiente é essencial.
Comercialização de commodities
O Brasil é um imenso produtor de commodities e, apesar do recuo nos indicadores de preço do Banco Central, a tendência é que as negociações sejam impulsionadas em 2024. Por ter uma negociação diária e extremamente dinâmica, com alguns fatores de risco e influência, é preciso que as empresas agrícolas tenham ferramentas de comercialização e precificação aderentes a essa realidade. Hoje, o mercado disponibiliza soluções específicas para a automatização de cálculos de precificação, com base em índices flutuantes e premissas de modelos de precificação. Esses processos garantem uma operação mais segura e otimizada, com uma gestão de contratos mais inteligente e ágil.
Crédito Rural
Analisando o cenário à parte do programa de concessão de crédito do Governo Federal, a Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) registrou 128.584 contratos dos produtores, correspondente a R$131,8 bilhões de financiamentos liberados pelas instituições financeiras. O crédito rural é parte importante para a modernização da agricultura nacional, já que grande parte dos produtores utilizam os recursos para investir em equipamentos e tecnologias que incrementam sua atuação.
Sustentabilidade
A agenda ESG tem se fortalecido e no contexto do Agronegócio toma uma proporção ainda maior. Práticas de cultivo mais sustentáveis, uso eficiente de recursos hídricos, agricultura de precisão e crédito de carbono são temas em pauta. Existem ferramentas que podem apoiar os produtores a implementar práticas sustentáveis no campo, gerindo de forma eficiente os recursos naturais e os insumos agrícolas. Há também soluções que já calculam o impacto e a geração de carbono, a fim de promover uma compensação futura ou a venda/compra desse crédito.
Outro fator que contribui para essa necessidade de transformação do agro é o consumidor. Vemos uma crescente ênfase na procura por alimentos orgânicos e de procedência confiável, de plantações que contem com práticas sustentáveis. Nesse sentido, os produtos rurais podem se destacar a partir da implementação do blockchain, ferramenta que mapeia e garante todo o “deslocamento” do material e em todas as suas fases, podendo ser lido através de uma etiqueta com código 2D (QR Code).
O agronegócio está navegando por um cenário dinâmico, impulsionado pela tecnologia, pela busca de práticas mais sustentáveis e pela evolução nas políticas de negociação. A convergência dessas tendências cria oportunidades significativas para a inovação, promovendo um setor agrícola mais eficiente, transparente e alinhado com as expectativas da sociedade e do mercado global, para isso, vale estar preparado.
*Fabrício Orrigo, diretor de produtos de Agro da TOTVS