O óleo de cozinha velho que vai, muitas vezes, para o ralo pode ser utilizado como matéria prima para a produção de biodiesel. É o que mostra uma pesquisa em desenvolvimento na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). De acordo com a professora Margarete Soares da Silva, uma das responsáveis pela coordenação da pesquisa, no Brasil já existem várias indústrias que produzem biodiesel com óleos novos e usados tanto de gordura animal quanto vegetal. A técnica que vem sendo desenvolvida na UEMS, porém, tem o objetivo de produzir biodiesel usando óleo de soja 100% residual, ou seja, que já tenha sido usado na produção de alimentos, em escala doméstica ou industrial.
“O óleo muitas vezes não é reaproveitado na indústria. Nas residências alguns utilizam para fazer sabão, mas a maioria ainda joga no ralo. Então nossa proposta é fazer biodiesel com este óleo residual, tornando o processo mais barato e ainda evitando a poluição causada pelo descarte de gorduras na natureza”, disse Margarete. O biodiesel da UEMS já passou por testes de qualidade e foi aprovado em vários deles, inclusive no teste de degradação oxidativa no qual o biodiesel é aquecido à temperatura de 110ºC. Os pesquisadores fizeram a análise térmica do biodiesel, que ficou 12 horas sob esta temperatura e atendeu à norma de qualidade brasileira, exigida pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), atendendo também as normas europeia e americana.
O trabalho, que também tem como orientador o pesquisador Antônio Rogério Fiorucci, teve início com a pesquisa do então acadêmico Rafael Gomes Dias, hoje já formado. Neste momento a pesquisa continua sendo desenvolvida por um grupo de alunas de mestrado em Recursos Naturais (PGRN): Talita Moreira Ramos, Eliane Ferreira de Souza e Juliana Rodrigues Ferraz. O grupo agora investiga se as características do biodiesel produzido na Universidade atende aos demais padrões exigidos pela ANP, além do uso de etanol e conservantes naturais na produção do biodiesel. Outra vertente dessa pesquisa é o desenvolvimento de novos catalisadores para síntese de Biodiesel, que está sendo orientada pelo professor Alberto Adriano Cavalheiro da UEMS em Naviraí.
Na produção do biodiesel é preciso que o óleo reaja com um álcool, sendo o mais utilizado pelas indústrias o metanol, que é um combustível fóssil, tóxico e de custo elevado para o país. Por isto os pesquisadores da UEMS estão testando também com o álcool etanol, que é efeito da cana-de-açúcar e isto pode tornar o processo mais barato e menos poluente. No Brasil ainda não é possível abastecer os veículos apenas com biodiesel, como já acontece em alguns países da Europa. A legislação brasileira, porém, determina que todo diesel comercializado em todo o território nacional tenha 7% de biodiesel em sua composição. “O acréscimo do biodiesel ao diesel é obrigatório e este percentual tende a aumentar, conforme o Brasil for dando conta desta demanda. Pois o biodiesel que é produzido hoje é basicamente destinado para a mistura ao diesel. Então isto diminui custo com o diesel e o apelo ecológico também muito forte, pois está se substituindo um combustível altamente poluente, por um biocombustível que não é tão impactante”, contou a professora. IDEST