Em ano de inúmeras derrotas econômicas, políticas, sociais e morais para a sociedade brasileira, o agronegócio voltou a nos honrar. Seus pequenos, médios e grandes produtores integrados em modernas cadeias produtivas, cooperativas, associações, sindicatos, trabalharam firme para produzir e trazer US$ 88,2 bilhões ao Brasil em exportações.
Se o número foi 8,8% menor que o valor trazido em 2014 pois os preços não ajudaram, ao câmbio atual, representam mais de 356 bilhões de reais entrando e circulando na nossa pálida economia, permitindo algum crescimento, distribuição de renda e orçamento para programas sociais e de inclusão.
As importações do agro tiveram queda de 21,3%, totalizando US$ 13,8 bilhões. Os produtos que mais importamos foram trigo, papel e vestuário (e produtos têxteis de algodão), entre outros. O saldo do agro foi de US$ 75,2 bilhões, 6,2% menor.
O triste é que os demais produtos fora do agro apresentaram queda de quase 20% no valor exportado (US$ 128,4 bi em 2014, para US$ 102,9 bi em 2015) levando o agro a incríveis 46,2% de participação nas exportações brasileiras. Mesmo com um câmbio muito mais favorável, a combalida indústria não conseguiu crescer em vendas. Nosso problema de competitividade é grave.
A balança comercial fechou 2015 com superávit de US$ 19,7 bi, uma boa recuperação em relação ao tombo de 2014, mas vinda principalmente da enorme queda nas importações, pelo efeito crise e câmbio. Se não fosse o agro, fecharíamos com déficit de US$ 55 bilhões. Se conseguimos distribuir alguma renda ficou claro que os geradores desta renda foram os integrantes do agronegócio.
Os produtos mais exportados em valores foram a soja, frango, açúcar, farelo de soja, celulose, café verde, milho, carne bovina, fumo e papel. Ganharam comparativamente vendas externas milho, celulose, trigo, papel e óleo de soja, entre outros. Perderam valores exportados em 2015 a soja, açúcar, farelo de soja, carne bovina, frango, café, bovinos vivos e outros, seja por perda de quantidades, ou de preços.
Os países que mais importaram do nosso agro foram a China, Estados Unidos, Países Baixos, Alemanha, Japão, Rússia, Arábia Saudita, Itália, Coréia do Sul e Vietnã. Os que mais cresceram como importadores foram Vietnã, Bangladesh, Irã, Coréia do Sul, Arábia Saudita e Iraque, entre outros. Perdemos valores de vendas na Rússia, Venezuela, Países Baixos, Hong Kong e China, entre outros.
Para 2016, se o clima permitir, teremos safra recorde e perspectivas de superar estas vendas com o estímulo do câmbio (que apesar de trazer melhores preços em reais, também pressiona os custos), do crescimento no consumo mundial e de alguns preços que devem ficar melhores. Mas será outra vez duro trabalho com muitos riscos e desafios.
Num país onde proliferam imagens de “manifestantes” que destroem recursos e afrontam valores, não podemos deixar de agradecer aos que dificilmente se manifestam e não fazem manchetes, pois alocam seu tempo trabalhando duro e lutando contra diversas forças contrárias para salvarem a sociedade brasileira de uma situação que poderia ser ainda muito pior.
Fica aqui o nosso muito obrigado aos produtores rurais, pois se tem gente, ou “coletivos” no Brasil querendo “passe livre”, tem gente, também absolutamente igual, trabalhando coletivamente e muito para pagar o custo de cada passe.
Marcos Fava Neves é Professor Titular da FEA-RP/USP
Rafael Kalaki e Doutorando em Administração da FEA-RP/USP