Não é novidade que a cogeração de energia elétrica nas usinas tem alavancado o setor sucroenergético. Em 2014 e 2015, a energia foi o produto que mais remunerou o setor. E dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) mostram que de 2011 até hoje, a cogeração a partir da biomassa acrescentou 5.107 MW na matriz energética brasileira, o que representa uma Usina Belo Monte. Assim, investir em variedades que permitem maior rendimento energético é uma realidade.
Visando o aumento da capacidade de produção energética do setor, as entidades de pesquisa de melhoramento genético trabalham no desenvolvimento de variedades de cana com maior percentual de biomassa, a chamada cana-energia.
Desde 2008, o Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, desenvolve essa pesquisa. Mauro Alexandre Xavier, pesquisador do Instituto afirma que a espécie que tem sido mais utilizada pelos programas de melhoramento para a geração de progênies que permitem a seleção da chamada “cana-energia” é Saccharum spontanem, que tem como característica ampla plasticidade fenotípica.
A pesquisa do IAC está em fase de desenvolvimento em cinco estados do país – São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Tocantins. “Nesse momento estamos constituindo uma rede de experimentação para validação de um grupo de clones”, explica o pesquisador.
Diferentemente das outras variedades, a cana-energia tem mais acúmulo de biomassa e altos percentuais de fibras na sua composição. Devido a essa última característica, a variedade também pode ser usada como matéria-prima para a produção de bioquímicos e biocombustíveis de segunda geração.
Assim, as pesquisas de institutos e empresas vêm ganhando cada vez mais visibilidade no setor devido à sua alta produtividade, teor de fibras e rendimento de biomassa por área, que a tornam uma excelente opção de matéria-prima para diferentes projetos. Além disso, tais características têm impacto direto no custo de produção e tornam mais competitivos os projetos que venham a utiliza-la como matéria-prima.
A produtividade da cana-energia pode ser o dobro da obtida com a cana tradicional. Já o teor de fibras é aproximadamente 30% – valor duas vezes maior que o da cana convencional – quando colhida de forma integral.
Outra característica importante é que, por ser extremamente rústica, a cana-energia pode ser plantada em áreas mais restritivas, como em ambientes degradados ou com menor oferta hídrica, sem a necessidade de concorrer com a produção de alimentos. Para a Granbio, a união desses atributos tem impacto direto no custo de produção de projetos que venham a utiliza-la como matéria-prima.
A Granbio começou as pesquisas em 2012, na Estação Experimental da companhia, localizada em Barra de São Miguel (AL). No local foram realizados cruzamentos envolvendo tipos ancestrais da cana, que hoje compõem o banco de germoplasma da empresa, e de convênios com institutos de pesquisa brasileiros, como IAC e Ridesa.
Hoje os testes dessa variedade em cincos estados das regiões Sudeste, Nordeste e Centro-oeste, com características de clima e solo distintas. A previsão é que a primeira variedade comercial da cana-energia da GranBio, batizada de Cana Vertix®, seja lançada até o fim deste ano.
O pesquisador do IAC ressalta que é importante posicionar paralelamente os programas de melhoramento em paralelo, indústria tradicional e cana energia e que ambos ao final devem ser complementares, o que significa mais oportunidades e opções para o setor sucroenergético.
Ana Flávia Marinho-Canal-Jornal da Bioenergia