Diversificação do etanol 2G abre novos nichos de mercado

O desenvolvimento de um novo processo biotecnológico para produção de etanol de segunda geração (2G), chamado sunliquid, capaz de converter açúcares em produtos para aplicações além do combustível automotivo, motivou uma parceria inédita entre as empresas Clariant, detentora da tecnologia, e a Werner & Mertz, fabricante dos produtos de limpeza na Alemanha. O consultor de Emissões e Tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Alfred Szwarc, avalia que o acordo firmado no início de 2016 entre as duas multinacionais, envolvendo o fornecimento anual de mil toneladas de biocombustível celulósico para ser usado como limpador multiuso Frosch Bio-Spiritus, é o primeiro de muitos projetos comerciais a serem explorados pela indústria química no decorrer dos próximos anos, quando o uso do etanol 2G for ainda mais diversificado.

Segundo o especialista da UNICA, o aproveitamento do bioetanol 2.0 em novos nichos de mercado é uma questão de tempo, ocorrerá na medida em que novas tecnologias, especialmente as enzimáticas, forem surgindo, algo semelhante ao observado com o etanol de primeira geração. “O desenvolvimento tecnológico do produto propiciará, naturalmente, novas oportunidades de negócios. Foi assim com o etanol 1G, que atualmente é usado como combustível e também como matéria–prima limpa e renovável na fabricação de bioplástico”, explica Szwarc.

Atualmente, no Brasil, 100% das garrafas PET comercializadas pela Coca-Cola, conhecidas como PlantBottle, são compostas por bioplástico obtido diretamente do etanol de primeira geração, que além de abastecer mais de 25 milhões de automóveis flex também serve como base para a confecção de 12 bilhões de embalagens distribuídas anualmente pela Tetra Pak. “Com o avanço do etanol 2G, que pode elevar em 50% a produção do biocombustível sem a necessidade de ampliar a área de cultivo de cana, esta história estará certamente fadada ao sucesso”, ressalta o consultor.

Para o gerente de Negócios da Clariant nas Américas, Martin Mitchel, a tecnologia sunliquid está pronta para o mercado brasileiro. “Realizamos amplos testes e convertemos mais de 400 toneladas de bagaço, pontas e folhas de cana-de-açúcar em etanol, na cidade de Straubing, confirmando a eficiência e a viabilidade comercial com essas matérias-primas. Estamos dialogando com diferentes players no País”, informa, acrescentando que a Clariant estuda a integração da sunliquid a uma planta brasileira de etanol 1G, principalmente pelas “condições favoráveis da cadeia de fornecimento de biomassa e a infraestrutura já existentes.”

O etanol celulósico, produzido a partir de qualquer resíduo agrícola, como a palha e o bagaço da cana, é hoje uma das maiores apostas da indústria química. O segmento enxerga o produto como a solução mais sustentável para substituir derivados de petróleo, principalmente nos países europeus. Neles, onde a capacidade agrícola para produzir biocombustível de primeira geração é limitada e a dependência pela gasolina e óleo diesel gera altos níveis de poluição, o bioetanol 2.0, com poder de reduzir em até 95% as emissões de gases causadores do efeito estufa se comparado à gasolina, representa uma grande alternativa energética.

Esq. p/ dir.: Executivos da Clariant, Markus Rarbach e Andre Koltermann recebem o Prêmio de Inovação na Alemanha concedido pela Ministra Federal do Meio Ambiente, Barbara Hendricks, e Holger Lösch, membro da Diretoria Executiva do BDI Tecnologia premiada

Em dezembro de 2015, menos de um ano após ter sido lançada oficialmente pela Clariant, a plataforma sunliquid, concebida em uma fábrica pré-comercial localizada na cidade de Straubing, no estado da Baviera, teve a sua eficácia reconhecida pelo Ministério Federal de Meio Ambiente, Preservação da Natureza, Construção e Segurança Nuclear da Alemanha. Na oportunidade, o governo alemão, com apoio da Federação das Indústrias Alemãs (BDI), concebeu à Clariant o Prêmio de Inovação para Clima e Meio Ambiente (IKU). A marca suíça superou 14 concorrentes na mesma categoria.

Martin Mitchell destaca a importância deste reconhecimento inédito para a companhia em cinco anos de realização do evento. “Essa premiação de grande prestígio valida nossa metodologia e demonstra que os biocombustíveis à base de resíduos agrícolas têm um papel estratégico para tornar a mobilidade mais sustentável em todo o mundo”, exalta. Para o especialista em Emissões e Tecnologia da UNICA, o Prêmio tem peso significativo pelo fato de ter sido entregue pela Alemanha, “um dos países que mais investem em energias renováveis atualmente, e um dos primeiros a produzir etanol 2G à base de madeira, ainda no século 19.”

Dois séculos mais tarde, com o surgimento da tecnologia sunliquid, a Clariant otimiza ainda mais a fabricação do biocombustível celulósico ao integrar a produção de enzimas ao processo e o seu pré-tratamento sem uso de produtos químicos. Segundo o executivo da multinacional de origem suíça, que tem o Brasil como base para operações na América Latina, a tecnologia reduziu significativamente as despesas gerais para obtenção de biocombustível celulósico. “Até agora, os gastos com enzimas representavam a maior parcela dos custos do processo – que correspondem a 25-35% das despesas operacionais gerais, considerando o fornecimento externo. Os valores foram drasticamente reduzidos para cerca de 10%,” informa Mitchell.  Unica

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