Na Bahia, os bons ventos continuam na direção certa, enquanto a luz do sol tem dado novos ânimos à produção energética. Prova disso é o estágio avançado em que se encontra o parque híbrido de geração de energia eólica e solar, em fase de instalação na cidade de Caetité, sudoeste do estado. Para se ter uma ideia, a energia proveniente do parque híbrido poderá abastecer uma cidade com 130 mil habitantes.
Iniciado em outubro de 2015, o projeto deve ser finalizado ainda no primeiro semestre de 2016. No total serão instaladas 19.200 placas fotovoltaicas e dois parques eólicos com oito aerogeradores. O investimento aportado para concretização do projeto foi de R$ 25,7 milhões com financiamento da Finep Inovação e Pesquisa. Quando estiver em pleno funcionamento, o parque híbrido terá 26,4 MW de potência instalada, sendo 21,6 MW de energia eólica e 4,8 MW picos de energia solar fotovoltaica, com capacidade de geração de 12 MW médios.
O diretor de Projetos da Renova Energia, empresa que projetou o empreendimento, Carlos Rogério Freire de Carvalho, destaca que trata-se de uma iniciativa pioneira. Segundo ele, o parque foi criado como uma alternativa para viabilizar financeiramente a implantação de uma usina solar, e o modelo híbrido tem como objetivo aproveitar toda a infraestrutura aplicada na região de Caetité e nos municípios vizinhos. “Nessa região, a Renova já implantou os Complexos Eólicos Alto Sertão I e II. O Híbrido foi pensado de maneira a aproveitar para a fonte solar a infraestrutura já montada para a fonte eólica, de forma a ganhar sinergia com a utilização, por exemplo, de uma mesma linha de transmissão. Como o pico de geração de uma e outra na região ocorre em turnos distintos – solar durante o dia e eólica, à noite –, o escoamento da produção pode ser feito por uma única linha”, explica.
Os estudos de viabilidade do projeto levaram em consideração o fato de que os ventos de Caetité e municípios vizinhos são considerados por especialistas os melhores do mundo. Além disso, no Atlas Brasileiro de Energia Solar a Bahia aparece como a região de maior irradiação solar do Brasil. “Soma-se a essas circunstâncias naturais todo o incentivo dado pelo poder público local na construção de uma cadeia produtiva para a energia eólica e a movimentação que está sendo feita em prol do desenvolvimento da fonte solar”, destaca Carlos Rogério. Vale lembrar que no Leilão de Energia de Reserva (LER) 2014, o primeiro exclusivo para a fonte solar, cerca da metade dos 31 projetos vencedores serão implantados na Bahia.
Cadeia produtiva
Um dos grandes entraves da produção de energia solar no Brasil, sem dúvidas, está relacionado ao alto custo das placas e demais materiais utilizados nos projetos. No parque híbrido da Bahia não é diferente – a maioria dos painéis fotovoltaicos utilizados no empreendimento vem do exterior.
O professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Odilon Francisco Pavón Duarte, que coordena o Centro de Demonstração de Energias Renováveis e o Laboratório de Eficiência Energética da Faculdade de Engenharia da instituição, comenta que, no Brasil, devido à instalação das fábricas de aerogeradores, os custos se reduziram consideravelmente devido à falta da necessidade de importação de peças para construção deles, possibilitando o avanço nos sistemas de geração eólica nacional. Atualmente cerca de 70% dos equipamentos utilizados na geração de energia eólica são produzidos no país.
Já quanto às placas solares, há uma enorme variação no custo com base nos tipos de painéis solares (tecnologia) e na sua eficiência. “No entanto, os tipos de placas usadas para instalações solares residenciais são similares e os custos são definidos globalmente. Esse custo caiu abruptamente nos últimos anos. O valor da placa solar hoje é cerca de metade do preço observado em 2008, e de 100 vezes menor do que era em 1977”, compara Pavón. Nos Estados Unidos, em 2015, as células fotovoltaicas atingiram os seus menores preços históricos mais de uma vez, chegando ao patamar de US$ 0,36/W. “No caso do Brasil, devido principalmente aos impostos, o custo por watt fica ao redor de US$ 2,00/W para um sistema de 10 kW. Já para uma configuração de 1.000 kW, o custo cai para US$ 1,25/W”.
Pavón avalia que o Brasil está perdendo grande oportunidade de ampliar o uso de fontes complementares de energia devido aos altos valores do custo de aquisição de geradores eólicos e solares. “Apesar do aumento da produtividade e da redução de custos, a energia eólica corresponde a apenas 1,1% na matriz elétrica brasileira e a fonte solar nem sequer é citada no Balanço Energético Nacional 2014 (BEN)”. Segundo ele, os principais entraves, além dos custos, são os atrasos na instalação das redes de transmissão e as complicações que envolvem a concessão de licenciamento ambiental para a implementação dos parques eólicos e solares.
Mauro Passos, presidente do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina (Instituto Ideal), ressalta que o Brasil é o quarto país que mais investe em energia eólica e, hoje, não há mais necessidade de importação dos equipamentos, já que estão sendo produzidos aqui há mais de um ano.
Com relação às mudanças econômicas do país e a alta nas taxas a serem pagas às concessionárias de energia, Passos analisa que esses foram os principais motivos que levaram o consumidor a investir em energias renováveis – isso sem contar a questão ambiental envolvida. Para os próximos anos, as perspectivas são positivas. “Toda a inovação tecnológica precisa passar por um processo de confiança. O mesmo que aconteceu nos parques eólicos vai acontecer agora com a questão solar: mais pessoas estão conhecendo a tecnologia e se motivando a utilizá-las”.
Energia solar
A viabilidade econômica da produção de energia a partir de fonte solar é a menor devido ao custo das placas. Além disso, o processo de leilões ainda é muito recente. “Os parques solares são em tamanho bem menor que os eólicos. É um mercado muito incipiente ainda, que não nos permite fazer uma avaliação precisa do que haverá nos próximos anos. O que chama atenção é o interesse que a fonte vem despertando no consumidor residencial. Em 2015 houve aumento de 400% em residências com relação a 2014.”, enumera Passos.
Raphael Pintão, sócio-diretor da Neosolar Energia, pontua que, além do custo da tecnologia fotovoltaica no Brasil, há também algumas desvantagens em termos de impostos para quem fabrica aqui. “Algumas mudanças positivas têm ocorrido, tentando melhorar a competitividade, porém ainda não somos competitivos.”
Segundo Pintão, há perspectivas de novos incentivos e, especialmente, de aumento dos volumes de demanda no Brasil. “No entanto, há que se lembrar que o maior fator de baixa competitividade é o próprio “custo Brasil” e isso não é exclusividade das placas fotovoltaicas”, diz. De acordo com o empresário, essa baixa competitividade pode ser parcialmente encoberta com a desvalorização do Real. Nesse caso, para placas fotovoltaicas, o benefício é baixo, pois o maior custo são as células fotovoltaicas, que são importadas. “As empresas nacionais com alguma presença relevante no mercado são apenas montadoras e nenhuma fabrica as células. Além disso, há muita preocupação do mercado com relação à qualidade dos produtos nacionais, visto os prazos longos de garantia e vida útil das placas, se comparados ao tempo de existência dos fabricantes”, conclui.
Ana Flávia Marinho-CANAL-Jornal da Bioenergia