Engenheiro agrônomo com MBA de gestão em Cooperativa, o presidente da Comissão de Cana-de-Açúcar da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Joaquim Sardinha, é produtor de cana-de-açúcar em Quirinópolis, na Região Sudoeste de Goiás, há nove anos. Nesta entrevista, ele comenta os cenários da produção canavieira e fala com otimismo sobre as condições para o produtor.
Canal: Há otimismo para o produtor de cana em 2016?
Joaquim: Há sim. Nos três últimos anos passamos por uma dificuldade tremenda, com preços muito baixos e custos de produção muito altos. O mercado deu uma reagida, haja vista que o açúcar e o etanol no mercado internacional foram mais bem remunerados. Com base nessas considerações, a condição de produtor hoje está bem melhor. A remuneração aumentou . O que interfere para o nós, produtores, hoje é a condição climática. Tivemos chuvas demais em algumas regiões e falta de precipitações em outras. Mas em compensação todos os preços estão bem melhores, com um acréscimo de mais de 20% no líquido no mix geral.
Hoje, temos usina que trabalha juntamente com a cogeração de energia, só com etanol ou só com açúcar. Mas a geração de energia a partir da biomassa da cana ainda não faz parte dos lucros do produtor. Enfim, o produtor não é remunerado pela biomassa e pela vinhaça que deixa na usina. Só é remunerado pela taxa da ATR que entrega.
Canal: Quais os desafios da produção de cana na região Centro-Sul?
Joaquim: É romper a condição climática. A única forma é com a irrigação. Assim, dependemos de governo e de agilidade. Sempre esbarramos nas questões ambientais – na burocracia do estado, das agências reguladoras e outras.
Canal: E os principais atrativos?
Joaquim: O preço e o crédito. O crédito na nossa região, no sudoeste goiano, nunca faltou e está melhorando a cada dia. Ganhamos de antemão a briga com o Banco do Brasil, em que eles devem acatar os projetos de cana-de-açúcar da região sudoeste de Goiás.
A produção de cana – de-açúcar é muito bem vista e, por isso, não temos as dificuldades que existem em outras regiões, como pedidos de falência, fechamentos de usinas e outros.
Não podemos negar que no setor existem problemas no estado, mas são originários de situações antigas. Nas usinas atuais e que estão em novo modelo de gestão, como as que temos na região, não registamos adversidades.
Canal: Quais pragas e doenças que afetam mais os canaviais goianos?
Joaquim: Cigarrinha e broca. Já na época seca, devido às queimadas e o tempo seco, destaco a lagarta elasmo, que é a pior delas, uma praga de difícil controle. A cinza deixada pela queimada atrai a lagarta, que prefere ambiente seco e solo arenoso.
Canal: Como reduzir custos de produção?
Joaquim: Temos usado a agricultura de precisão para reduzir a quantidade de adubo e, assim, aplicar o fertilizante com taxa variável, seguindo a carência do solo. Em uma única área há vários perfis e a agricultura de precisão permite que o agricultor coloque a quantidade necessária de adubação no solo para determinada área.
Outra indicação é fazer a ambientação de solo, que permite não errar na escolha da variedade genética de cana-de-açúcar que se deve plantar. Para isso deve-se fazer um estudo para identificar os ambientes do solo.
Infelizmente, não temos um denominador único que mostra que a cana será eficaz sem essa avaliação. Por exemplo, em Goiás, temos em uma mesma área os cinco tipos de ambientes. Às vezes, podem-se ter duas a três variedades que se adaptam a sua região.
Canal: A necessidade de variedades mais adequadas à região do Cerrado tem sido atendida?
Joaquim: Temos tido muitas variedades da Ridesa para Goiás. Além disso, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) instalou na Região Sudoeste de Goiás um campo para testar novas variedades. Eles começaram as atividades com variedades dedicadas para São Paulo e Nordeste. De certa forma partes dessas variedades de adaptaram bem para o cerrado, em especial as do Nordeste.
Outra que trouxe variedades para o cerrado é a Canavialis. Assim, essas empresas de pesquisa permitem certo conforto ao produtor do cerrado.
Canal: Qual a importância da produtividade agrícola dentro do processo produtivo sucroenergético?
Joaquim: Hoje apostamos em produtividade. O custo de produção é muito alto. Temos que correr atrás da cana de três dígitos, não dá para se acomodar apenas nos dois. E, é possível, atingir essa meta e essa remuneração. As pesquisas têm mostrado isso. Cheguei a ver em dia de campo cana de 200 toneladas por hectare, então é plausível o agricultor chegar perto dessa marca.
Cejane Pupulin- Canal-Jornal da Bioenergia