A matriz energética brasileira é baseada na produção de hidrelétricas, com mais de 61%. A biomassa, gerada a partir de resíduos vegetais ou animais, representam 9% desta matriz. Mas, segundo especialistas, a energia de biomassa tem espaço e capacidade para suprir quase um terço do consumo de energia brasileira.
De acordo com Zilmar José de Souza, gerente de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) a biomassa é a uma das maiores fontes de energia elétrica nacional e tem espaço para suprir quase um terço do consumo de energia brasileira.
Com 14,6 mil MW da potência instalada da matriz elétrica do Brasil, a participação da biomassa é pouco mais de 9% do total de 161 mil MW do sistema. Somente a biomassa de cana-de-açúcar contribui com 11 mil MW. As demais fontes são compostas por insumos florestais, principalmente a lenha de eucalipto, resíduos sólidos urbanos e restos vegetais. Apenas com essa fonte, o Brasil evitou 19% de emissão de CO2 na atmosfera.
Souza ressalta que o potencial técnico da biomassa da cana pode ir além e alcançar quase duas usinas do porte de Itaipu, com geração de 165 TWh até 2024. “A produção atual é representativa, mas para atender o Acordo de Paris, firmado em 2015, é também importante o aumento de participação na matriz energética de outras fontes renováveis, como a solar e a eólica”, explica o gerente da Unica.
Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) revelam que a biomassa é a terceira maior fonte de energia elétrica nacional. Com 14,6 mil MW da potência instalada da matriz elétrica do Brasil, a participação da biomassa é pouco mais de 9% do total de 161 mil MW do sistema. Somente a biomassa de cana-de-açúcar contribui com 11 mil MW.
Deficiência
Segundo o professor e sócio-fundador e Diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, a biomassa tem como foco a produção de energia elétrica para autoconsumo, mas e a exportação do excedente produzido é dificultada pela ausência de condições que facilitem a conexão dessas usinas à rede para comercializar energia. “As usinas de açúcar e etanol estão dispersas geograficamente, sendo por vezes distantes de subestações capazes de escoar a energia produzida. Com isto, o aceso à rede acaba constituindo-se em uma barreira para a incorporação de novos empreendimentos de geração movidos a biomassa”, pontua.
Outra dificuldade levantada pelo gerente da Unica é a ausência de regras claras para o setor sucroenergético e bioeletrecidade. “Há ausência de um ambiente regulado com leilões dedicados a estimular a produção de energia por biomassa na matriz energética brasileira”, pontua.
Assim, de acordo com os especialistas para que a produção de eletricidade a biomassa possa ampliar a sua participação na matriz elétrica nacional, é preciso superar entraves como a falta estímulos e planejamento de longo prazo, capazes de incentivar investimentos no setor direcionados á bioeletrecidade; a falta de incentivo à modernização e atualização tecnológica das caldeiras, que representam grande potencial adicional de geração de energia elétrica. No caso do setor sucroalcooleiro, grande parte das usinas existentes utilizam caldeiras de baixa pressão. Portanto, são importantes inciativas capazes de fomentar a renovação e modernização das instalações de cogeração; a falta de incentivos ao retrofit dos equipamentos das usinas próprios para geração de energia elétrica e soluções de viabilidade técnica e de investimentos para a conexão dos sistemas à rede de transmissão e distribuição de energia elétrica existente.
Adriano pontua que para estimular os investimentos no setor é importante a criação de uma política setorial consistente, adequada e de longo prazo, facilidade de acesso ao crédito, benefícios fiscais e a modificação na sistemática dos leilões de energia. “A realização de leilões regionais e por fonte podem conferir maior competitividade à biomassa, que por ser uma fonte extremamente importante para a complementaridade da geração sazonal e regional, deixará de ser prejudicada pela competição com outras fontes com preço de equilíbrio mais baixo. No modelo de leilões atual, colocar a biomassa juntamente com outras fontes de energia alternativas, como a eólica, cujo custo de geração é menor, acabam com a competitividade da fonte”, explica.
Crescimento
Os especialistas são otimistas em relação ao crescimento da bioeletricidade na matriz energética brasileira. O Brasil assumiu o compromisso na COP 21, em Paris, no qual se compromete a contribuir para redução de emissões de gases de efeito estufa, objetivando limitar o aumento da temperatura no globo terrestre a um máximo de 2ºC até 2100. Com essa finalidade, o país apresentou sua Intended Nationally Determined Contribution (Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada) (iNDCs ) que apresenta entre os compromissos o uso de fontes renováveis, excluindo a fonte hidráulica, e o uso da biomassa. Entre as definições se destaca o aumento da participação de bioenergia sustentável na matriz energética para aproximadamente 18% até 2030.
Além disso, o último Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2024) indica que a geração de bioeletricidade sucroenergética para a rede tem potencial técnico para o aproveitamento da palha e ponta varia entre 7,4 e 11,7 GWmedios, em 2024. Segundo o PDE 2024, o potencial técnico do bagaço de cana-de-açúcar continua bastante promissor, embora questões de competitividade possam limitar seu aproveitamento pleno.
Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia