O sol como fonte de energia para movimentar um ônibus. O que antes poderia ser apenas uma utopia se tornou realidade em Santa Catarina. O projeto “Ônibus Elétrico Assistido por Energia Solar Fotovoltaica” é resultado de pesquisa e desenvolvimento do Centro de Pesquisa e Capacitação em Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e envolve o conceito de “deslocamento produtivo” aliado a um veículo de propulsão 100% elétrica para o qual a energia utilizada para recarga das baterias é proveniente de geradores solares fotovoltaicos do Laboratório Fotovoltaica (UFSC). O ônibus elétrico já foi desenvolvido e está em fase de testes por alguns meses, para avaliação dos pesquisadores e eventuais melhorias.
Alexandre de Albuquerque Montenegro, pesquisador que participou do desenvolvimento do projeto, explica que um dos principais motivos para sua proposição foi a redução do impacto da poluição provocada por veículos no meio urbano, pois na operação de motores elétricos não há emissão de gases poluentes típica dos motores a combustão. Há também a redução na poluição sonora, pois os motores elétricos são extremamente silenciosos.
A energia utilizada para recarga do banco de baterias do ônibus elétrico da UFSC é proveniente dos créditos de energia dos geradores solares fotovoltaicos instalados no Laboratório Fotovoltaica (UFSC), no Sapiens Parque, em Florianópolis (SC). “O motor elétrico quase não esquenta e tem a vantagem de ser bem menor e possuir maior torque do que o motor a combustão. Além disso, os motores elétricos possuem bem menos componentes do que os a combustão, ou seja, menos custos com manutenção”, comenta Alexandre.
Utilização
O Brasil tem grande potencial para utilizar tecnologias menos poluentes e mais modernas para o transporte público, o que substituiria – ou ao menos reduziria – a utilização de veículos movidos a motores a combustão. No entanto, para que essa mudança ocorra, segundo Alexandre, é necessário o desenvolvimento do mercado interno de ônibus elétricos, o que reduziria os custos com a produção em maior escala desses veículos e de seus componentes.
Desde dezembro de 2016, quando o ônibus elétrico começou a circular, vem sendo realizado um trajeto para transportar integrantes da equipe do Laboratório Fotovoltaica (UFSC) entre o campus central da universidade e a sede do laboratório, no Sapiens Parque (distância de 26 km em cada percurso). Atualmente, nos dias letivos, o ônibus elétrico tem feito cinco viagens de ida e volta entre o Sapiens e a UFSC (260 km).
No conceito de deslocamento produtivo, os usuários, ao entrarem no ônibus, encontram um ambiente de trabalho com poltronas confortáveis, ar condicionado, tomadas USB para cada assento e duas mesas de reunião com tomadas 220V para notebooks. Assim, o passageiro pode desempenhar suas atividades como se estivessem em um escritório enquanto se deslocam do campus central da UFSC para o laboratório no Sapiens Parque, localizado no norte da ilha de Florianópolis.
“Através do transporte público convencional, o trajeto entre UFSC e Sapiens Parque leva mais de uma hora, o que fazia que vários integrantes da equipe optassem por utilizar carro próprio. Com o ônibus elétrico em operação, praticamente toda a equipe utiliza essa forma de transporte, pelo conforto e rapidez, pois o trajeto entre UFSC e Sapiens Parque leva 35 minutos, quase o mesmo tempo que o deslocamento de carro”, comenta Alexandre.
Especificações
O veículo tem modelo de carroceria Marcopolo com capacidade para 38 passageiros sentados e rampa de acesso para portadores de necessidades especiais. O chassi elétrico é assinado pela Mercedes-Benz e o motor elétrico elaborado pela WEG. O projeto de integração elétrica foi desenvolvido pela Eletra em parceria com o Laboratório Fotovoltaica (UFSC). O ônibus elétrico possui um banco de baterias de íons lítio com 128 kWh de capacidade e 70 km de autonomia. Além disso, é utilizado um sistema de frenagem regenerativa que devolve às baterias cerca de 30% da energia gasta no translado. O projeto foi financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e conta com a parceria das empresas WEG, Marcopolo, Mercedes e Eletra.
O eletroposto, onde o ônibus elétrico é recarregado, possui cobertura fotovoltaica que abriga um carregador com 75 kW de potência do tipo “carga lenta” (pouco mais de uma hora para fazer cada recarga). Para se ter uma ideia, a cada retorno ao Sapiens do trajeto de ida e volta (52 km), o banco de baterias do ônibus elétrico é recarregado no eletroposto.
Nas simulações realizadas, estima-se que, na base anual, a soma do consumo das edificações e das recargas do ônibus elétrico corresponde a 80% do que é gerado pelos sistemas fotovoltaicos conectados à rede instalados no Laboratório Fotovoltaica (UFSC). Ou seja, por meio de sistemas fotovoltaicos conectados à rede, o laboratório gera 25% de energia a mais do que a soma do consumo das edificações e o ônibus elétrico.
Ana Flávia Marinho-Canal-Jornal da Bioenergia