O setor aéreo mundial deve, até 2050, reduzir suas emissões de CO2 aos níveis de 2005, o que significa baixar pela metade os patamares atuais. Custos de produção e disponibilidade de matérias-primas ainda representam os maiores desafios para que as empresas do segmento promovam, em larga escala, a substituição da gasolina e do querosene de aviação (QAV) fóssil por outro de origem renovável. Segundo avaliação do consultor de Emissões e Tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Alfred Szwarc, os biocombustíveis já oferecem um caminho promissor no segmento aéreo, particularmente no Brasil. Embora não tenham “decolado” em termos de mercado, o etanol já abastece um número significativo de aviões agrícola no País.
O executivo pondera que nos últimos 40 anos, canaviais em abundância e expertise tecnológica foram dois fatores decisivos para a expansão do etanol em nossa frota automotiva. Agora, assim como no passado, estes diferenciais poderão novamente representar uma vantagem competitiva no médio e longo prazo para o setor aéreo. “Não é à toa que somos pioneiros no uso de 100% de etanol de cana na aviação agrícola, com o desenvolvimento do modelo Ipanema, fabricado há 11 anos pela Embraer. Também atraímos a atenção de gigantes como a Boeing, que desde 2009 investe em uma série de iniciativas envolvendo o bioquerosene de cana”, observa Alfred.
Na primeira quinzena de julho (07/07) deste ano, as duas principais multinacionais do setor aéreo deram andamento a um importante programa para a ampliação do uso de biocombustíveis. Resultado de uma parceria iniciada em 2012, que possibilitou a criação de um centro de pesquisas em São José dos Campos (SP), as companhias apresentaram o avião Embraer 170, modelo que testará novas tecnologias de segurança e performance, além de uma mistura de 10% de bioquerosene de cana ao convencional.
Nos próximos meses, o objetivo central do Programa é comprovar a eficácia da utilização do combustível renovável no sistema Drop In, quando o produto pode ser transportado e adicionado ao querosene mineral na estrutura já existente, sem que haja nenhum problema de compatibilidade em dutos, tanques, bombas de abastecimento, e até mesmo a necessidade de alterações estruturais nas aeronaves em operação.
Testes no Brasil
No Brasil, apesar do pioneirismo na fabricação de mais de 300 modelos Ipanema movidos 100% a etanol – destinados à pulverização agrícola –, os primeiros projetos para uso de combustíveis alternativos em aviões comerciais começaram em 2009, quando as empresas Embraer, Azul, General Electric (GE) e Amyris assinaram um acordo de cooperação. Mas foi no ano seguinte, após um voo teste de 45 minutos utilizando 50% de um combustível a base de pinhão manso, que uma aeronave de carreira da TAM comprovou na prática a viabilidade técnica dos biocombustíveis.
Em 2012, durante a Conferência Rio+20, encontro mundial sobre mudanças climáticas organizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), a companhia Azul realizou outro voo-teste, desta vez usando 50% de combustível produzido da cana.
Em 2013, no Dia do Aviador, um voo histórico da GOL partiu do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em direção ao Aeroporto Internacional Presidente Juscelino Kubitschek, em Brasília. Foi a primeira viagem comercial de uma aeronave no País, utilizando biocombustível. Na oportunidade, a aeronave foi abastecida com uma mistura de 25% de óleo de milho e de gorduras residuais junto ao tradicional querosene fóssil.
No ano seguinte, a GOL voltou a inovar e estabeleceu a primeira rota fixa (Recife – Fernando de Noronha) para um avião movido com combustível mais sustentável – até 10% de bioquerosene de cana adicionado ao QAV. Resultado: redução de 30% das emissões de CO2 em cada viagem.
Amsterdã-Oslo
No exterior, desde 2008, empresas como Virgin Atlantic Airways, Air New Zealand, Continental Airlines e United Airline já promoveram diversos voos usando querosene de origem renovável. Em janeiro de 2009, a companhia aérea japonesa Japan Airlines também fez um evento teste em que utilizou biocombustível feito de flores e algas.
De março a maio deste ano, os combustíveis de base vegetal voltaram a marcar presença em 80 viagens feitas por aviões da Embraer entre Amsterdã, na Holanda, e Oslo, na Noruega. Durante pouco mais de quatro semanas, o projeto foi organizado no âmbito da Iniciativa Rumo ao Querosene Sustentável na Aviação (ITAKA, em inglês) e envolveu a companhia aérea KLM.
Não é apenas na aviação comercial ou agrícola que matérias-primas renováveis são combustíveis potenciais. Até aviões militares já fizeram uso delas. Em abril de 2010, por exemplo, em comemoração ao Dia da Terra, o jato supersônico F-18 Green Homet fez uma demonstração voando com uma mistura de 50% de combustível produzido do partir da camelina (planta que produz óleo).
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