Doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mestre em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina, e bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Uberlândia. Presidente-Executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) desde Setembro de 2011. Foi membro da diretoria da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) de junho de 2006 a abril de 2011. Foi economista-chefe do Ministério de Minas e Energia (2003-2006), coordenadora de Política Institucional do Ministério da Fazenda (2002-2003), assessora de assuntos econômicos no Ministério de Minas e Energia (2001), Assessora na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) (2001-2001) e professora da UFSC.
Este ano traz grandes desafios para a energia eólica no Brasil. Na opinião de Elbia Gannoum, Presidente-Executiva da ABEEólica, as principais questões que precisam ser equacionadas e resolvidas são:
Incerteza em relação aos leilões de energia
O Leilão de Reserva agendando para 19/12/2017 foi cancelado. Segundo Elbia, o cancelamento foi negativo e causou apreensão junto ao segmento. “O Brasil está enfrentando turbulências econômicas e políticas, também estamos diante de um debate sobre a demanda por energia. Ao contrário do que tem sido argumentado, é necessário contratar energia de reserva de baixo custo, que é o caso das eólicas. Há um entendimento equivocado e superficial de que a contratação de energia de reserva vai onerar o consumidor, quando a verdade é o oposto. Sem eólica de reserva, se necessário vamos ter que acionar as caríssimas usinas térmicas”. Segundo a executiva, o que o governo fez ao cancelar o LER foi criar um problema futuro. Ela acrescenta: “um Leilão de Reserva, se realizado rapidamente, pode amenizar esta questão e impedir aumentos na conta do consumidor. A questão é que a energia eólica tem sido fundamental nos últimos anos para o sistema nacional brasileiro e a indústria foi capaz de montar uma cadeia produtiva eficiente e com altos investimentos”. Ela alerta ainda que a contratação de pelo menos 2 GWs de energia eólica por ano é fundamental para dar um sinal de investimento e segurança para toda a cadeia produtiva, além de ser essencial para alcançar os objetivos que o Brasil assinou na COP.
“Então, para 2017, a demanda vai ser uma questão importante. Será um ano em que o governo brasileiro terá que tomar importantes medidas estratégicas e agir de forma clara para manter a cadeia produtiva da energia eólica e mostrar seu compromisso com as questões climáticas” afirma. Elbia diz que existe hoje uma grande insegurança das empresas da cadeia produtiva e essa situação pode inibir novos investimentos.
Transmissão
Elbia ressalta que o Brasil precisará se concentrar nas questões que emperram a transmissão de energia. “É um problema grave. A ABEEólica contratou um profundo estudo com o objetivo de analisar todo o sistema de transmissão do país, seus entraves e quais seriam saídas viáveis. O material, distribuído em cinco cadernos temáticos, está em produção e seus resultados serão compartilhados com órgãos do governo federal e estudiosos do assunto para que se amplie o debate técnico sobre o assunto” afirma. Segundo a executiva, os cadernos do estudo abordam, por exemplo, medidas operativas adaptativas de curto prazo para liberar transmissão; revitalização do mecanismo de instalações de transmissão de interesse exclusivo de geração para conexão compartilhada (ICG); leilões coordenados de transmissão e geração; planejamento proativo para expansão das redes, entre outros.
A Abeeólica tem defendido que é preciso trabalhar com a realidade de que o planejamento de transmissão e sua respectiva implantação leva mais tempo para a energia eólica e, portanto, precisa começar antes, demandando maiores investimentos e riscos. Elbia ressalta: “chegamos, com isso, num ponto importante: quem vai investir em transmissão? É fundamental que o governo dê sinais claros que possam atrair investidores para a ampliação das linhas. O último leilão de transmissão, realizado em outubro, que teve 21 dos 24 lotes arrematados, já mostrou uma mudança considerável e atraiu investidores. Isso porque foram aprimoradas algumas premissas do leilão e retorno para o investidor, o aumento da Receita Anual Permitida (RAP), por exemplo, não equaciona totalmente o problema, mas foi um sinalizador positivo que trouxe investidores ao leilão”.
Neste se ntido, deu-se um passo adiante, mas ainda há muito a melhorar em regulamentações que promovam uma maior atratividade para investidores. Uma das sugestões do estudo, por exemplo, é dar sinais claros e seguros para atrair empresas de geração também para a transmissão.
O “casamento” geração e transmissão faz todo o sentido, mas há necessidade de maior segurança para o investidor” fiz a executiva.
Elbia cita ainda que a transmissão precisa acompanhar essa nova realidade, caso contrário, se tornará um verdadeiro obstáculo para o futuro de fontes de energia mais sustentáveis. “É necessário, por exemplo, trabalhar com a realidade de que o planejamento da transmissão e sua implementação demoram mais do que a energia eólica e, portanto, precisa começar antes, exigindo maiores investimentos e riscos. E aqui há um ponto importante: quem vai investir na transmissão? É essencial que o governo forneça sinais claros que possam atrair investidores para expandir as linhas” diz.
Financiamento
A Abeeólica lembra que recentemente, o BNDES anunciou novas regras de financiamento para o setor de energia e declarou seu apoio à energias renováveis de baixo impacto, mantendo as boas condições para a energia eólica, por exemplo. “Isso foi uma notícia positiva e acalmou um pouco os investidores. A questão, no entanto, é que o Brasil precisa desenvolver novas formas de financiamento e também há discussões importantes para que os bancos privados estejam mais presentes com opções para o setor de infraestrutura. Por outro lado, a instabilidade política cria insegurança para os investidores e, se as condições de financiamento não forem variadas e atraentes, isso pode dificultar o crescimento do Brasil não apenas em energia, mas em infraestrutura geral.”
Encerrando suas colocações a presidente-executiva da entidade diz que é muito importante notar que o crescimento das eólicas nos últimos anos foi enorme e muito positivo para o Brasil. “É algo do qual podemos nos orgulhar, mas que pode estar em grande risco se o governo não der sinais claros de novos leilões. Importante lembrar que o que estamos instalando no Brasil agora é resultado de leilões realizados há pelo menos três anos. Em 2017, teremos uma grande capacidade de ser instalada e devemos terminar o ano de 2017 com cerca de 13 GWs. Hoje, temos 10,6 GWs instalados. Será um bom resultado, mas é consequente de leilões realizados em anos anteriores. A questão de 2017, portanto, é que veremos a colheita de bons frutos no setor, que foram plantados nos leilões anteriores, mas precisamos trabalhar para garantir contratações que possam efetivamente gerar um crescimento seguro e sustentável para a indústria de energia eólica” finaliza.
Canal-Jornal da Bioenergia