Agronegócio: clima e custos são ameaças

O agronegócio é, atualmente, responsável por cerca de metade das exportações do Brasil. O setor está em expansão, com recordes de produção e geração de receita nos últimos anos. O ano de 2021, porém, acabou ficando um pouco abaixo das expectativas, principalmente por questões climáticas, e elas ainda devem afetar o próximo ano.

O setor deve enfrentar ainda altos custos de produção, com os insumos mais caros, o que limita a margem de lucro dos produtores. Nesse caso, essa alta está ligada a questões políticas externas, mas também à desvalorização do real.

Apesar disso, especialistas consultados pelo CNN Brasil Business esperam um ano positivo, apoiado na previsão de uma safra recorde em 2022.

Caso o cenário climático seja mais favorável, o agronegócio deve manter uma tendência de ajuda para os números positivos da economia e do comércio brasileiro.

Desempenho em 2021
Felippe Serigati, professor da FGV e integrante do FGV Agro, afirma que é importante lembrar que o agronegócio não é uma atividade homogênea, e cada setor possui desempenhos particulares, o que não mudou em 2021.

Em geral, porém, ele avalia que “2021 não foi um ano excepcional, mas também não foi tão ruim. O saldo é positivo, mas não para todos”.

Segundo ele, havia uma expectativa de produção no início do ano maior do que o concretizado pelo setor. O grande fator que levou a essa frustração foi o climático, com uma seca intensa em boa parte do ano e geadas em julho.

“Diversas culturas tiveram uma produtividade abaixo do esperado e dos investimentos realizados. As que mais sofreram foram milho, café e cana-de-açúcar”, diz.

Ao mesmo tempo, o cenário não foi tão negativo devido aos preços altos das commodities no exterior e ao real desvalorizado, o que permitiu uma receita boa a partir das exportações para o mercado internacional. Ou seja, mesmo com um volume menor, os preços seguraram as receitas.

Já Carlos Fava Neves, professor da FEA-RP-USP, classifica 2021 como “um ano muito bom. Tivemos quantidades boas de exportações mesmo que o volume tenha caído em relação a 2020. Os valores bateram recordes, deve chegar a US$ 119 bilhões, e a renda no campo cresceu 10% em reais”.

O grande ponto negativo, segundo ele, foi a seca, que para o professor impediu que 2021 fosse “o melhor ano da história do agronegócio”. A queda na produção gerou, por exemplo, uma alta nos preços dos alimentos no mercado interno.

Já no terceiro trimestre, o agronegócio recuou 8%, o pior desempenho em anos, e ajudou a levar o PIB (Produto Interno Bruto) para a segunda queda seguida no ano.

Outro destaque negativo para o professor foi o aumento do desmatamento ilegal na Amazônia. “Isso contribui de forma negativa para a imagem da agricultura, que ficou associada a esse desmatamento”, afirma, o que gera sanções ou uma perda de mercado consumidor no exterior.

Ao mesmo tempo em que o ano, em geral, foi positivo para o setor de pecuária, Fava Neves afirma que a performance acabou prejudicada pelo embargo da China à carne bovina brasileira, que durou três meses e retirou dos produtores o seu maior mercado consumidor.

“Não havia necessidade para um tempo tão longo do embargo. Não era para o problema ter se arrastado por tanto tempo. Foi um fato negativo, desnecessário, mas é preciso que a parceria se mantenha, com o Brasil fornecendo carne e grãos para o mercado chinês e mantendo bons preços para o consumidor chinês”, diz o professor.

Perspectivas para 2022
Segundo Serigati, a perspectiva para 2022 é positiva principalmente pelas projeções de condições climáticas mais favoráveis em boa parte do país, em especial no Centro-Oeste, importante área produtora de soja.

A produção do agronegócio é dividida em duas safras. A primeira, chamada de safra de verão, é plantada no fim de 2021 e colhida no começo de 2022, e a expectativa é que ela tenha um recorde de produção.

“Para a segunda safra a situação está em aberto. Deve ser um cenário neutro, mas pode mudar, não dá para dar certeza”, diz.

Entretanto, a perspectiva positiva de produção deve enfrentar um grande desafio, o de custos elevados de produção. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) já estima que os custos devem ser os maiores da história para o setor.

Serigati avalia que a maior parte dos fatores para isso são externos, com uma alta nos preços de insumos e fertilizantes pelo descompasso entre demanda e oferta mundial. Ao mesmo tempo, Belarus, um grande fornecedor de fertilizantes, tem enfrentado problemas políticos com os Estados Unidos e a União Europeia, que impuseram sanções ao país, dificultando a exportação e encarecendo os produtos. CNN  Brasil

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