Etanol de milho: vantagens e desvantagens

O etanol de milho no Brasil já é realidade – popular em outros países, ele ganhou espaço por aqui. Com relação à qualidade, não há diferença entre etanol produzido a partir de milho ou de cana-de-açúcar, mais tradicional no Brasil. As diferenças estão ligadas aos custos e tempo de produção, que variam em cada cultura.

De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produtividade estimada para a atual temporada da safra 2015/16 de cana deve ter aumento de 3,9%, chegando a 73.228 kg/ha. O Brasil deverá produzir 658,7 milhões de toneladas nesta safra. A produção brasileira de etanol total consolidou-se em 28,66 bilhões de litros na safra 2014/15 e a estimativa para a safra 2015/16 é um aumento de 1,9%.

Já sobre a produção de milho, considerando-se a safra 2015/2016, no sexto levantamento realizado pela Conab a área semeada com milho primeira safra apresentou redução de 6,4% quando comparada com a anterior. O diretor de Commodities da INTL FCStone, Glauco Monte estima para a primeira safra uma área de produção menor no Brasil. Para a segunda safra, além da projeção de área, a expectativa de produtividade também é reduzida, devido aos problemas de atraso para plantio. “Já podemos dizer que há algumas perdas contempladas”, lamenta.

A produção de milho no Brasil é prática antiga. Recentemente, a segunda safra tem ganhado mais espaço, enquanto a primeira – safrinha – se tornou a principal para o produtor. “Essa commodity tem oferecido boa rentabilidade para o produtor, o que fomentou aumento de área. Devido ao câmbio alto, tivemos exportação muito forte, o que trouxe preços recordes em 2015 para o milho”, comenta Monte.

Mercado
Segundo Monte, a alta do câmbio foi positiva para o produtor de milho, isso porque o preço base de exportação subiu e aumentou a competitividade brasileira no cenário internacional. “O mercado interno ficou com quase nada de produtos. Assim, o produtor também ganhou com a escassez interna”.

O Estado do Mato Grosso é hoje o maior produtor de milho do Brasil. O Centro-Oeste, em geral, se destaca e deve ter produção crescente, apesar das projeções para a safra atual. Monte explica que o produto está escasso no país por estarmos entre a safra verão e a segunda safra. Segundo o especialista, a oferta deve ser maior a partir de julho.

O gerente de planejamento da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), Cid Sanches, comenta que a principal vantagem em se investir na produção de etanol de milho Brasil está ligada ao fato de que há grande oferta e demanda do cereal, especialmente em Mato Grosso, onde o consumo interno é pequeno e as exportações representam quase 70% da produção. Em 2015, o total exportado no Estado foi de 14,5 milhões de toneladas e a produção de 21,2 milhões de toneladas. “Por ter uma grande produção e estar longe dos principais portos de embarque, o preço dentro de Mato Grosso é o menor do Brasil, com média de R$15/saca em 2015. Nesse sentido, produzir etanol a partir de milho é uma alternativa de agregação de valor ao produto, além de favorecer outras cadeias, como a da bovinocultura de corte, devido aos subprodutos que podem ser utilizados na nutrição animal” diz.

Potencial
Os produtores de Mato Grosso desenvolvem, com o governo estadual, um programa de transformação do excesso de milho em etanol. O vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Helio Sirimarco, comenta que o programa avançaria principalmente com um escalonamento das taxas de impostos. “Esse incentivo poderia elevar a produção de etanol de milho em usinas flex para 1.3 bilhão de litros, superando a de etanol da cana, hoje em 1.1 bilhão de litros.”

Estudo Instituto Mato-Grossense de Economia Aplicada do (IMEA) indica que o faturamento bruto de 10 milhões de toneladas de milho exportadas é de R$ 2.7 bilhões, e o Estado não tem arrecadação devido à isenção de ICMS das exportações de commodities. Com a transformação desse cereal em etanol, o valor – incluindo subprodutos e cogeração de energia – subiria para R$ 12.5 bilhões. A cogeração traria para arrecadação estimada em R$ 698 milhões e seria responsável por oito milhões de MWh por ano.

A industrialização de milho, neste patamar, elevaria a área de plantio de eucalipto do Estado para 951 mil hectares – a industrialização do cereal necessita do eucalipto -, as usinas e armazéns que usam a árvore gerariam R$ 3 bilhões por ano para os produtores de lenha.

Segundo Sirimarco, a produção de uma usina dedicada apenas a etanol de milho fica inviável com ICMS a 25%. “Um programa de incentivo do governo com uma taxa de 3% tornaria viável o investimento e geraria receitas de US$ 180 milhões para o Estado. O investidor teria retorno de R$ 5,20 por R$ 1 investido.” Com o amadurecimento dos projetos, o governo estadual colocaria taxas crescentes de impostos. Em um patamar de 7%, por exemplo, a arrecadação estadual seria de R$ 420 milhões, e o produtor teria um retorno de R$ 3,98 por cada R$ 1 investido.

No Estado de Goiás, segundo maior produtor de cana do Brasil e quarto maior produtor de milho, o etanol do cereal também tem se destacado. De acordo com o assessor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) para a área de Cana-de-Açúcar, Alexandro Alves, não há dúvidas do potencial para alcançar mais expressividade na produção de etanol, especialmente durante a entressafra. “O fator logístico é o que mais pesa na análise de viabilidade da produção de etanol de milho. Nisso Goiás não é tão competitivo quanto Mato Grosso.” Ainda assim, de acordo com o assessor, há boas perspectivas futuras para produção em Goiás.

Viabilidade
Atualmente a frota automotiva brasileira é de 34,3 milhões de automóveis, sendo 28% flex. A previsão é que em 2026 a frota chegue a 44,6 milhões, sendo 32% flex. “Isso mostra que a demanda por etanol tende a crescer. A produção a partir do milho pode ser mais uma alternativa para supri-la”, comenta Cid.

A maior desvantagem da produção de etanol de milho está ligada ao rendimento.  Se por um lado o milho produz mais etanol, por outro é necessário maior área de plantio. Uma tonelada de cana-de-açúcar produz entre 80 e 90 litros de etanol, enquanto a mesma quantidade de milho produz de 390 a 410 litros. Entretanto, a cana produz em média 77 ton/ha e o milho 6 ton/ha.

Realidade
No Mato Grosso estão em operação três usinas flex e outra deve iniciar em 2017; em Goiás já são duas flex. Há ainda dois projetos de usinas full a serem construídos em Mato Grosso e uma em Mato Grosso do Sul. Conforme destaca Alexandro Alves, em Goiás não há unidades exclusivas de produção de etanol de milho porque o objetivo é produzir etanol de milho no momento da entressafra da cana, potencializando o pátio industrial que ficava.

Para Alexandro, o desafio é encontrar um ponto de equilíbrio no preço da matéria-prima. “Cotações altas demais inviabilizam o processo, mesmo com a agregação de valor na indústria. Há a necessidade de trabalhar bem a parte logística, pois a questão do frete e armazenamento não é um problema somente para o produtor rural, mas para o industrial. A necessidade de investimento às vezes pode ser bem expressiva”, analisa.

Produção
Murilo Aguiar, Consultor em Gerenciamento de Risco – Açúcar & Etanol da INTL FCStone, explica que o crescente consumo de combustíveis no Brasil trouxe para o etanol um desafio de produção nos últimos anos, o qual até 2013 limitava-se basicamente na cana como matéria-prima industrial. Segundo a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), a produção total de etanol no Centro-Sul brasileiro encerrou a safra 2015/16 com mais de 28,2 bilhões de litros, maior volume histórico da região. “Para atender a demanda potencial do combustível renovável que surgirá até 2020, a entidade prevê a necessidade de 100 novas usinas de etanol, oportunidade até então barrada pela crise que vive o setor nos últimos anos, com baixos investimentos e reduzidos incentivos governamentais”, comenta o consultor.

Segundo a associação dos produtores de etanol de milho dos EUA (Renewable Fuels Association), a produção de etanol do país saltou de 6,14 bilhões de litros em 2000 para 56,06 bilhões de litros em 2015, crescimento de quase 16% a.a., enquanto no Brasil o crescimento foi de apenas 7% a.a., saindo de 10,6 bilhões para aproximadamente 30,2 bilhões de litros, provenientes apenas da cana. Já a produção de etanol utilizando o milho como matéria-prima, segundo a Unica, ainda traz números bem simbólicos para a região Centro-Sul, sendo de apenas 84,88 milhões de litros na safra 2014/15 e 141,05 milhões de litros na 2015/16 (finalizada em março), ou seja, 0,46% da produção total de etanol no Brasil.

“Sabe-se que a produção de etanol à base de milho está ainda em desenvolvimento e apresenta para o país um mercado potencial para incremento de produção. Uma das vantagens para as usinas é a disponibilidade do milho o ano todo.” Murilo destaca que outro ponto importante é que o milho possui a vantagem de estocagem. “Ressalta-se, contudo, a necessidade de investimento, desenvolvimento de uma cadeia de fornecedores e planejamento industrial/financeiro para a viabilidade do negócio.“

Ana Flávia Marinho | Canal – Jornal da Bioenergia

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