A consultora norte-americana em energia Sallie E. Greenberg, Ph.D. com mais de 25 anos de experiência em gestão de carbono, disse, na Capital paulista, que o desenvolvimento de projetos de captura e armazenamento de CO2 (sigla em inglês para Carbon Capture and Storage) é uma grande oportunidade de receita para as usinas de etanol no Brasil.
Os mesmos equipamentos que injetam carbono para auxiliar o bombeamento do petróleo agora estão prontos para aprimorar a sustentabilidade do etanol que, cada vez mais, substitui a energia de origem fóssil.
Segundo Sallie, que coordenou o primeiro empreendimento de CCS nos Estados Unidos – que lideram o mercado mundial do segmento – a captura e armazenamento de carbono no etanol impede a entrada na atmosfera de carbono que, de outra forma, seria emitido.
“O CO2 gerado na produção de etanol é ainda o mais indicado para armazenamento porque se trata do mais puro, com elevada concentração de carbono com um pouco de água. Isso o torna facilmente capturável e desidratado quando a água é removida”. O fato é que o carbono gerado na fabricação de etanol está praticamente pronto para ser estocado, devido ao seu elevado grau de concentração – diferentemente de outros setores em que o CO2 precisa ser separado de outros gases.
A explicação é que a biomassa utilizada para fabricação de biocombustíveis é proveniente de plantas, ou seja, durante seu crescimento já há a captura de carbono, mas este é novamente lançado na atmosfera quando convertido em energia. Mas, se este CO2 for capturado e transportado para um local de estoque permanente, como o subsolo, isso irá resultar em uma remoção negativa de CO2, ou seja, será capturada uma quantidade maior do que foi emitida.
Etanol de pegada negativa e créditos de carbono
A atividade de CCS no setor de etanol pode resultar em ganhos financeiros para as usinas tanto por meio da geração e comercialização de créditos de carbono como também pela certificação do biocombustível como “zero emissor” ou “emissor negativo”. Isso permite que o etanol seja monetizado com ágio em mercados internacionais que valorizam este atributo. O CCS, por exemplo, está previsto na lei da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) e pode significar oportunidade para a geração de um maior volume de Créditos de Descarbonização (CBios) e consequentemente de renda para as usinas de etanol.
O Brasil tem potencial de captura de carbono em torno de 200 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano, considerando o nível atual de atividade econômica do país. Neste sentido, o mercado brasileiro de captura e armazenamento de carbono no solo tem perspectiva de movimentar entre R$ 14 e R$ 20 bilhões anuais, com participação significativa do setor de etanol, indicam estimativas da CCS Brasil. Já o mercado mundial de CCS deve movimentar US$ 3,54 bilhões em 2024, com previsão de atingir US$ 14,51 bilhões em 2032.
O etanol de cana-de-açúcar produzido no Brasil já reduz em até 90% as emissões de gases que contribuem para as mudanças climáticas. A captura e o armazenamento do CO2 gerado durante o processo de produção do biocombustível faz com que essa pegada de carbono seja ainda menor, chegando a ser negativa.
“As mais de 360 usinas que produzem etanol no Brasil, em particular no Estado de São Paulo, têm a oportunidade de fazer do País o líder global nesse mercado, abrindo as portas para o acesso aos créditos de carbono e criando mais uma fonte de receita para as usinas”, pontua o geólogo Everton Oliveira, presidente da Hidroplan, realizadora do evento em parceria com a entidade CCS Brasil. “A captura e armazenamento de CO2 em depósitos geológicos profundos é uma janela para o futuro de um planeta com mais qualidade, onde uma tecnologia sofisticada oriunda da indústria do petróleo une-se agora ao processo de produção de biocombustíveis, permitindo a geração de um combustível com pegada de carbono negativa”, complementou o executivo.
Segundo a diretora da CCS Brasil, Nathália Weber, a lei do Combustível do Futuro chegou para estabelecer o marco-regulatório de CCS no país, determinando as diretrizes gerais para a atividade. “A legislação vai dar o arranque definitivo do assunto no Brasil, destravando projetos já engatilhados, que avançam agora para a fase de real implantação. Temos conhecimento técnico, condições geológicas e regramento.” Divulgação