*Murilo Teixeira
É notório o protagonismo que o tema da descarbonização da economia ganhou, especialmente nesse último ano, seja em debates de políticas públicas ou em anúncios recentes feitos por empresas dos mais variados segmentos. A pauta, que no passado era vista como algo distante, se tornou prioritária na agenda de todos os Países, fruto da conscientização, por parte da sociedade, de que o futuro do planeta depende fundamentalmente de modelos de negócios sustentáveis.
Na esteira do que já vem sendo estabelecido por outras grandes potências, como a China e a União Europeia, o Brasil também anunciou recentemente como meta ambiental a neutralização das emissões de carbono até o ano de 2060. Dessa forma, algumas iniciativas pioneiras apresentam-se como uma resposta a esse desafio, ao promover medidas que ajudam a integrar a sustentabilidade na estratégia de negócios de empresas de diferentes portes.
Esse é o caso do RenovaBio, política nacional de estímulo aos biocombustíveis, que passou a vigorar no final de 2019 e abre uma grande janela de oportunidade, especialmente para o setor sucroenergético. Entre outros grandes feitos, o Programa estimula a competitividade entre usinas, dá mais protagonismo aos biocombustíveis dentro da matriz energética, e estabelece uma política clara para a compra e venda de créditos de carbono.
De acordo com projeções do Governo, com as metas estabelecidas pelo RenovaBio, a produção nacional de etanol deve aumentar para 48 bilhões de litros em 2029 e, com isso, as usinas passarão a investir cerca de R$ 60 a R$ 70 bilhões na próxima década em suas operações. Mesmo com a revisão das metas das distribuidoras de combustíveis fósseis, que ocorreu no ano passado por conta da pandemia, em um cenário no qual a demanda por CBios tende a crescer a passos largos, a usina ou o produtor que não se interessar pela monetização da sustentabilidade como investimento, perderá não só em lucratividade, mas também em competitividade.
Para atender a esse mercado pujante é fundamental que o setor absorva essa mudança de paradigma, que vai muito além de identificar a viabilidade econômica dessa estratégia. Mais do que a monetização, o setor precisa continuar sua jornada de profissionalização na gestão, tendo por pilar “o que não é medido não pode ser gerenciado”. E cascateadas à profissionalização, decisões estratégicas relacionadas à modernização de ativos, digitalização de processos e à capacitação de pessoas certamente virão a reboque para melhor eficiência das operações.
Nesse panorama, as inovações tecnológicas atuam como um grande impulsionador de produtividade e competitividade, tão essenciais no momento atual, de consolidação do setor, caracterizado por importantes fusões e aquisições. Na Siemens Energy, mais do que o fornecimento de soluções de última geração, temos como objetivo ajudar os clientes a maximizar sua eficiência energética, com soluções que ofereçam retorno de investimento através de um trabalho conjunto.
Um grande exemplo que gosto de citar é o da Usina Delta, situada no município de mesmo nome, em Minas Gerais, que tem em operação a maior turbina a vapor do setor, e que foi produzida no complexo fabril e tecnológico da Siemens Energy em Jundiaí, São Paulo. A turbina de 73,5 MW, permitiu uma simbiose entre o processo produtivo de fabricação de açúcar e etanol, e a maximização da geração de energia elétrica durante os períodos de safra e entressafra, contribuindo adicionalmente para um aumento da confiabilidade e estabilidade da planta, além de fazer um melhor uso e maximizar o aproveitamento dos equipamentos já instalados.
Contudo, mais do que o fornecimento de uma configuração inovadora no quesito acionamento, nossa equipe contribuiu de maneira proativa na elaboração do balanço de massa e energia, cocriando com a Usina Delta, naquilo que resultou em um projeto pioneiro, inovador e de muito sucesso.
É importante destacar que, em última instância, não é o CBio em si que irá influenciar a decisão de investimento em eficiência energética. Contudo, quando você monetiza a sustentabilidade, está incentivando investimentos e torna o negócio resistente a fatores externos, como o que ocorreu no ano passado, quando muitas empresas que não estavam preparadas perderam espaço de mercado devido à pandemia. Afinal, uma das lições que tiramos desse período conturbado, é que as oportunidades de capitalização por meio da busca da sustentabilidade no ciclo de carbono pode ser uma questão de sobrevivência não só no aspecto ambiental, mas também econômico e estratégico.
*Especialista de Vendas na Siemens Energy Brasil