Autor: Edmundo Barbosa*
Com a recente política de tarifação imposta pelos Estados Unidos sobre produtos importados, vários países asiáticos — como Japão, Vietnã, Coreia do Sul e Indonésia — têm buscado fornecedores alternativos em setores estratégicos, como o de energia renovável e produtos agroindustriais.
A América Latina recebe veículos flex produzidos aqui no Brasil e poderá se beneficiar ainda mais. Nesse contexto, o Brasil emerge como um dos principais candidatos a suprir mercados impactados, com destaque para o setor sucroenergético. Especificamente, o açúcar e o etanol brasileiros apresentam condições favoráveis para ampliação de suas exportações para esses países afetados pelas medidas protecionistas dos EUA.
Vantagens Competitivas do Brasil no Setor Sucroenergético
O Brasil é líder mundial na produção e exportação de açúcar, bem como um dos pioneiros na utilização do etanol como biocombustível. A cadeia produtiva da cana-de-açúcar é altamente mecanizada, integrada e eficiente, com custos competitivos e um histórico consolidado de sustentabilidade, sobretudo no caso do etanol de segunda geração (produzido a partir do bagaço da cana).
O etanol brasileiro, além de substituir combustíveis fósseis com menor impacto ambiental, possui certificações internacionais de sustentabilidade, o que o torna atraente para mercados exigentes como os asiáticos. O açúcar também se beneficia de acordos sanitários e barreiras tarifárias menos restritivas com países da Ásia.
Países Asiáticos: Demanda Estratégica por Açúcar e Etanol
Países como Japão, Vietnã, Coreia do Sul e Indonésia possuem uma demanda significativa por combustíveis renováveis e produtos agroindustriais processados, mas enfrentam limitações internas quanto à produção de biomassa. A imposição de tarifas sobre importações norte-americanos pode gerar uma lacuna na oferta de produtos como o etanol, levando esses países a intensificar suas relações comerciais com fornecedores como o Brasil.
Nesse cenário, o etanol brasileiro pode ser incorporado à mistura com a gasolina como parte das políticas nacionais de descarbonização. Além disso, o açúcar brasileiro, reconhecido por sua qualidade e competitividade, pode expandir participação nos setores alimentício e industrial desses mercados, especialmente em bebidas, confeitaria e alimentos processados.
Estratégias para Consolidação no Mercado Asiático
Para que o Brasil aproveite plenamente essa janela de oportunidade, será fundamental:
1. Investir em certificações ambientais e tecnológicas, reforçando a imagem de sustentabilidade da produção de etanol. A certificação BONSUCRO é a escolhida pela maioria das usinas brasileiras.
2. Estabelecer acordos bilaterais de cooperação comercial e tecnológica com países asiáticos.
3. Aprimorar a logística de exportação, com rotas portuárias eficientes e seguros de embarque.
4. Fortalecer a diplomacia comercial brasileira, com missões empresariais e feiras setoriais na Ásia. Os Adidos Industriais, que serão agentes de promoção de negócios, irão reforçar a inserção do Brasil.
Conclusão
A conjuntura geopolítica atual, marcada pelo protecionismo americano, pode representar um ponto de inflexão para a agroindústria brasileira. A expansão das exportações de açúcar e etanol para países asiáticos afetados por tarifas dos EUA não apenas atende a uma demanda crescente por produtos sustentáveis, mas também fortalece a posição do Brasil como líder global em energia limpa e segurança alimentar. Cabe articular muito mais ênfase na inteligência comercial, inovação tecnológica e diplomacia para consolidar esse novo espaço no tabuleiro internacional.
Edmundo Barbosa*
Edmundo Barbosa é presidente executivo do Sindalcool, membro do Conselho da Indústria e da Agropecuária da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Bioenergia Brasil. Atua como empresário em João Pessoa-PB desde 1985. O Sindalcool, entidade que preside, é uma associação sem fins lucrativos que congrega empresas de toda a cadeia produtiva do setor de açúcar e biocombustíveis com operações na Paraíba. Assim, coordena, representa e defende os interesses de seus associados quanto ao desenvolvimento do setor e do mercado de energia limpa e renovável no Brasil, promovendo e divulgando a utilização dos biocombustíveis no País. O Sindalcool não assessora empresas em operações comerciais.