O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana em alta de 39 pontos (8.60 dólares por tonelada) no primeiro mês de negociação, o outubro/2015 e com variações positivas mais brandas nos meses seguintes. O spread outubro/2015-março/2016 estreitou para 79 pontos mostrando que aqueles que detinham ou ainda detém posições vendidas a descoberto contra o vencimento outubro/2015 estão recomprando-as talvez temendo que haja menos açúcar disponível no curto prazo do que anteriormente previsto. As usinas que rolaram seus hedges de venda de outubro para março para aproveitar a exorbitante taxa de carrego implícita, pode ser que revertam suas posições caso o spread negocie ao redor de 60-65 pontos. Setembro vai ser um mês interessante.
O estouro do dólar em relação ao real tem incentivado muitas empresas a aumentarem seus hedges de venda para 2016/2017 e mesmo para 2017/2018 aproveitando a curva do câmbio. Como NY também está se descolando do real mais em função do quadro fundamentalista do açúcar (mais construtivo conforme discutimos a semana passada), tem feito mais sentido a compra das puts que garantam um mínimo de rentabilidade do que a venda de futuros que ainda podem subir devido aos fundamentos. Com isso, as usinas têm tempo para fixar mais adiante quando o nível de preço lhes convier e a pressão sobre NY ao longo dos próximos vencimentos diminui. As puts no dinheiro ao longo da curva de preços da safra 2016/2017 (maio/julho/outubro/março) já somam mais de 16.000 lotes, ou seja, quase 1 milhão de toneladas.
O modelo de previsão de preços para os próximos meses do ano mostra um pico em dezembro/2015 (base vencimento março de 2016) de 13.26 centavos de dólar por libra-peso, todo o mais inalterado. Modelos erram embora a correlação desse tenha sido acima de 0.8500
Não estamos considerando alguns fatores, por exemplo, a possibilidade de introdução da CIDE para que o governo consiga minorar seu déficit orçamentário. A previsão é que uma CIDE de R$ 0,30 por litro de gasolina aumente a arrecadação do governo em R$ 10.5 bilhões. Hoje, o governo arrecada R$ 56 bilhões em impostos sobre combustíveis. A alteração do preço da gasolina vai deixar o etanol ainda mais competitivo e deve direcionar mais cana para a produção do combustível e mudar o planejamento das usinas para o próximo ano com propensão de diminuir a disponibilidade de açúcar.
O assunto não é novo, mas não dá para se calar diante de um governo tão incompetente como esse que temos hoje. Apenas esse ano, a forma inconsequente e irracional com a qual Dilma conduz o Brasil celeremente ao fundo do poço, o endividamento do setor sucroalcooleiro subiu – segundo cálculos da Archer – R$ 14,6 bilhões (R$ 22,86 por tonelada de cana moída). A desvalorização do real reflete o descaso da presidente na direção da economia e do equilíbrio fiscal e o enfraquecimento da moeda representou, conforme comentado aqui há algumas semanas, 84% da razão da queda dos preços do açúcar na bolsa de futuros em NY, ou seja, a perda de receita de exportação de açúcar em dólares motivada pela queda da moeda brasileira soma aproximadamente US$ 565 milhões nos primeiros oito meses do ano. Dilma deveria ganhar uma placa pelos imensos serviços prestados ao setor.
Mas essa “paixão” da presidente, não podemos esquecer, vem de longe. Uma reunião ocorrida em Brasília, em meados de 2012, objetivava aproximar a presidente do setor produtivo e faze-la ver que o aumento da demanda de combustível em função do crescimento da frota de veículos leves, amplamente financiada pelo crédito fácil iria esbarrar, mais cedo ou mais tarde, na (in)capacidade operacional que o país tinha em aumentar a produção de petróleo. Havia o risco, como alertara na época um especialista da área, de um apagão de combustíveis no Brasil e assim, a necessidade imperiosa de se produzir mais etanol. Mas para isso era necessária transparência na formação de preços dos combustíveis e nas regras do jogo para que os investidores, fossem eles brasileiros ou estrangeiros, se sentissem seguros e estimulados.
Para Dilma, no entanto, o setor deveria “se sacrificar” e “devolver um pouco” do que o pais lhe dera. Com a empáfia que lhe é peculiar aliada à formação marxista-leninista, em que o lucro é pecado, a presidente – hoje detentora de um solitário dígito de popularidade – cutucava um empresário do setor dizendo que o mesmo ficara muito rico. É bom lembrar que nessa época, a Petrobras já enfrentava o assalto aos seus cofres pela quadrilha que está aí sem que ainda houvesse sido descoberto.
As maiores pragas do canavial brasileiro não são a broca-da-cana (Diatrea saccharalis) ou o bicudo-da-cana (Sphenoforus levis), mas duas outras que destroem setores produtivos, empregos, riquezas, reputações, esperanças e tudo mais que lhes vier pela frente. Chamam-se Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e o único modo de erradicar o mal que essas duas pragas tem provocado ao setor e ao Brasil inteiro é pelo voto.
Tomo emprestado a frase do amigo e guru de uma geração de economistas, o professor José Roberto Mendonça de Barros: “Nunca antes neste País as coisas andaram tão atrapalhadas e incertas. O governo corre o risco de bater no muro”.
Arnaldo Luiz Corrêa, Diretor Archer Consulting