Pedro Luiz Côrtes explica que o combustível renovável é mais benéfico ao meio ambiente, mas pode não apresentar a efetividade do combustível fóssil
A discussão sobre o aumento da proporção de biodiesel no óleo diesel comercializado no Brasil tem gerado disputa entre agronegócio e setor de energia. Atualmente, o biodiesel representa 14% da composição do diesel produzido a partir do petróleo e a expectativa é que esse número chegue a 20% até 2030.
O professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo, analisa os prós e contras do uso desses combustíveis e os motivos de embate entre os defensores do biodiesel e aqueles que são contrários à sua utilização na composição do diesel.
Vantagens
Segundo o especialista, uma das principais vantagens do biodiesel é ser uma fonte renovável de energia e não contribuir para o aumento do efeito estufa, ou seja, não ter impacto nas mudanças climáticas. Ele esclarece que a queima desse combustível lança na atmosfera o dióxido de carbono (CO2), gás importante para o efeito estufa, mas, por ser de origem vegetal, esse CO2 é recuperado pelas plantas através da fotossíntese e não se acumula na atmosfera, ou seja, está sendo reciclado constantemente.
Conforme o docente, a produção do biodiesel também produz efeitos econômicos, pois contribui para a geração de empregos no campo e não sofre com a variação comercial de preços, como ocorre na importação de petróleo. Para ele, fatores geopolíticos e econômicos causam instabilidade na precificação dos barris de petróleo e, consequentemente, nos combustíveis derivados dessa substância.
Resistência
De acordo com Côrtes, aqueles que são contrários à decisão utilizam como argumento o menor poder calorífico do biodiesel em relação ao diesel, o que pode provocar redução na potência dos motores. Além disso, ele afirma que o biodiesel possui uma característica higroscópica, ou seja, tem a capacidade de absorver a umidade do ambiente e isso pode levar ao acúmulo de materiais presentes na água no fundo dos tanques de combustível e gerar mau funcionamento dos motores.
“Pode entupir filtros de sistemas de injeção e isso realmente pode ser um um problema, mas essa água poderia ser drenada, como acontece na aviação. Os aviões têm esse problema porque muitas vezes ficam em pátios abertos, com variação de temperatura ao longo do dia, e pode haver condensação de vapor e acúmulo de água nos tanques, então muitas vezes, antes de o avião dar a partida, eles fazem essa verificação, acredito que isso também poderia ser feito nos motores a biodiesel”, explica.
Agronegócio e setor de energia
De acordo com Pedro Luiz Côrtes, a votação para aumento de biodiesel no óleo diesel deve ocorrer em breve no Congresso e o governo é favorável a essa pauta, apesar de o setor de energia poder oferecer alguma resistência. O setor de agricultura e a bancada ruralista, por outro lado, são favoráveis à decisão, uma vez que significa maior produção de vegetais fontes de biodiesel, como a soja.
“Se tiver que aumentar a produção de soja para atender a essa demanda seria o paraíso para os produtores de soja, ou seja, eles teriam ainda mais motivos para produzir. E aumentar a produção não seria uma dificuldade, até porque o Brasil tem obtido ganho de produtividade sem necessariamente expandir as áreas, com aplicação de forte tecnologia no campo, o que fez a produção aumentar de maneira significativa ao longo dos últimos anos”, finaliza. (Jornal da USP no Ar)