Biodiesel: aumento da mistura estimula setor

Desde março deste ano, o diesel vendido ao consumidor já é composto por 10% de biodiesel, o chamado B10. Resultado de medida aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), a novidade foi antecipada em um ano, levando em conta o prazo máximo determinado pela Lei nº 13.263/16. De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), a expectativa é que demanda do biodiesel cresça em 1 bilhão de litros neste ano. A estimativa de consumo é de 5,3 bilhões de litros em 2018. A adoção do novo percentual no mês março coincide com o início da safra da soja (principal matéria-prima utilizada para produção do hidrodiesel).

O presidente da Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio), Erasmo Battistella, comenta que no leilão realizado no início de fevereiro, o L59 (primeiro com B10), as distribuidoras já adquiriram os volumes necessários para que, a partir de março, a mistura B10 começasse a chegar aos postos de todo o país. “É um aumento expressivo sobre a demanda do biocombustível – 25% – devido ao aumento da mistura, volume que deverá consumir parte da ociosidade com que o setor vinha trabalhando. Com os reflexos da recuperação econômica do país, a partir de meados de 2017, registra-se uma recuperação do consumo de diesel, devendo gerar um incremento ainda maior da demanda pelo biodiesel. Em 2017, com todos os desafios enfrentados pela indústria, a produção de biodiesel alcançou 4,29 bilhões de litros. Para 2018, o setor estima que a produção deva ultrapassar os 5,4 bilhões de litros.”

Da mesma forma, o diretor-superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski, confirma que a produção deve crescer significativamente. Segundo ele, a evolução do B8 para o B10 deve elevar em 29% a produção de biodiesel em 2018, em relação a 2017, ajudando na recuperação da indústria e agregando valor às matérias-primas.

Demanda

O setor de biodiesel, há algum tempo, vinha operando com grande capacidade ociosa. Com a nova perspectiva de demanda, as usinas estão se reposicionando para aumentar os volumes disponibilizados. Segundo Battistella, o mercado pode ficar tranquilo. “Nunca faltou e não vai faltar biodiesel”.

Com relação às matérias-primas, existe disponibilidade e, sobretudo, oportunidade para gerar ainda mais valor e renda. Principalmente com pesquisas e estudos que garantam uma produção cada vez mais sustentável. No Brasil, as áreas plantadas crescem por demanda de mercado pelo farelo da soja, principal oleaginosa nacional, e não pela produção e consumo do biodiesel.

Na matriz de transporte, o diesel ocupa historicamente uma parcela na faixa dos 50%, por ser o principal combustível utilizado para movimentar a frota de cargas e passageiros. Nesse cenário, Batistella considera que o aumento gradativo da mistura de biodiesel ajuda com a redução das emissões deste setor da economia, além de incentivar um maior consumo de combustíveis renováveis, meta presente na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), firmada em Paris durante a COP21. “Com o aumento de mistura, reduzimos a quantidade de diesel que obrigatoriamente necessitaria ser importada. Além disso, o biodiesel gera benefícios diretos de agregação de valor a um produto agrícola, aumentando o seu processamento interno, gerando 113% mais empregos e 35% mais PIB que a produção do diesel fóssil, segundo estudo realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) em 2012.”

Segundo o presidente da Aprobio, outros impactos também são vistos na economia de algumas cidades com usinas de biodiesel. Em Ipameri, cidade goiana com 24,7 mil habitantes, a alta do PIB da indústria foi de 290%, e do setor de serviços, 53%. Em São Simão, de 24 mil habitantes, também em Goiás, o PIB da indústria subiu 80%. O de serviços, 144%. Em Passo Fundo (RS), com cerca de 185 mil habitantes, o PIB industrial cresceu 107% com a instalação de uma usina de biodiesel, e o de serviços, 101%. Em contrapartida, Rosário do Sul, também no Rio Grande do Sul, onde uma unidade de processamento do biocombustível foi fechada, houve uma retração de 60% do PIB industrial. Os dados foram compilados pela Aprobio em 2015.

Para atender à demanda, Tokarski entende que o Brasil tem condições de elevar a produção. Segundo ele, a produção nacional de biodiesel deve alcançar 5,4 bilhões de litros por ano, ante a capacidade autorizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para produção de 7,9 bilhões de litros por ano. “Em relação ao aumento de área plantada, hoje o Brasil tem sucessivas safras recordes de soja, que é a principal matéria-prima para o biodiesel. Segundo última estimativa divulgada pela AgRural, a safra 2017/2018 de soja deve alcançar 117,9 milhões de toneladas. A produção de biodiesel de soja, no ano, deve ser de 3,7 bilhões de litros, o que dá, aproximadamente, 17 milhões de toneladas de soja dedicadas ao biodiesel (cerca de 15% da soja produzida no Brasil).” Para Donizete Tokarski, o cenário atual é uma transição energética gradual e necessária. “Aos poucos o biodiesel vem aumentando sua participação na matriz brasileira, colaborando para que ela seja ainda mais renovável. Hoje, o biodiesel representa 3% da matriz de combustíveis no Brasil. Com o B10, a expectativa é que chegue a 4% da matriz de combustíveis.”

Segundo a Ubrabio, estima-se que serão gerados 47 mil empregos diretos e indiretos ao longo de toda a cadeia produtiva, inclusive com a retomada de empreendimentos que estão parados. Também haverá impactos positivos na balança comercial brasileira, já que, considerando os preços atuais, a produção e o consumo de 5,4 bilhões de litros de biodiesel em 2018 equivale à economia de cerca de US$ 2,8 bilhões na balança comercial brasileira, pois cada litro de biodiesel substitui um litro de diesel de petróleo. Além disso, desde o início do uso do biodiesel no Brasil, em 2005, percebemos que o preço médio do biocombustível vem ganhando competitividade em relação ao diesel fóssil. Em dezembro de 2017, o preço médio do biodiesel puro (B100) no Brasil chegou a R$ 2,81, enquanto o preço médio do diesel S10 estava em R$ 3,06.

Ana Flávia Marinho-Canal-Jornal da Bioenergia

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