Bioenergia no Brasil: perspectivas de crescimento e inovação para 2025

Mário Campos Filho um dos principais nomes da bioenergia no Brasil é presidente da SIAMIG Bioenergia e da Bioenergia Brasil, além de ocupar posições de liderança no setor, como a presidência do Conselho Empresarial de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Federação das Indústrias de Minas Gerais (CEMA) e a vice-presidência do Centro Industrial e Empresarial de Minas Gerais (CIEMG).

Nesta entrevista, ele compartilha sua visão sobre o futuro da bioenergia, os desafios e as oportunidades do setor, e como o Brasil se posiciona como líder global no segmento de biocombustíveis. Discutimos as projeções para a produção de etanol em 2025, as inovações tecnológicas que estão moldando o setor, as perspectivas de crescimento da bioenergia, e as estratégias necessárias para garantir a sustentabilidade e a redução das emissões de gases de efeito estufa.

Mário também reflete sobre o papel do Brasil na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP30) e os avanços regulatórios que prometem impulsionar ainda mais o setor de bioenergia no país.

Acompanhe agora as respostas do presidente da Bioenergia Brasil sobre esses e outros temas essenciais para o desenvolvimento sustentável da nossa matriz energética.

Canal – Jornal da Bioenergia: Qual é a projeção para a produção de etanol de cana e de milho em 2025? Quais fatores devem influenciar esse cenário?

Mário Campos: Ainda não temos números concretos, mas já podemos projetar um cenário em que a produção de etanol deve apresentar crescimento em relação ao ano passado. Para isso, precisamos dividir a análise entre os segmentos de cana-de-açúcar e milho.

No segmento de cana, espera-se uma redução na produção de etanol devido a dois fatores principais: a menor disponibilidade de cana para processamento – algo que já estamos observando – e um direcionamento maior da matéria-prima para a produção de açúcar. Esse aumento na produção de açúcar já era esperado no ano passado, mas não se concretizou devido à qualidade da matéria-prima. No entanto, os investimentos realizados nesse setor nos últimos anos devem trazer resultados neste ano.

Por outro lado, a queda na produção de etanol a partir da cana será compensada pelo aumento expressivo da produção de etanol de milho. Esse crescimento será impulsionado tanto pela expansão de algumas plantas industriais quanto pela entrada em operação de novas unidades.

Com isso, a expectativa é de que a produção total de etanol neste ano fique próxima à do ano anterior.

Canal: Como o senhor avalia a evolução do setor de bioenergia no Brasil nos últimos anos? Quais fatores foram determinantes para esse crescimento?

Mário: Ao analisarmos os últimos anos, podemos observar uma recuperação significativa na condição financeira dos grupos que atuam no segmento de cana-de-açúcar. É importante lembrar que esse setor enfrentou um período crítico, com um nível de endividamento muito elevado. No entanto, nos últimos anos, houve uma melhora econômica e financeira, permitindo novos investimentos em ampliações, diversificação da produção e instalação de novas unidades. Testemunhamos um aumento nos investimentos em fábricas de açúcar e em destilarias autônomas de etanol, refletindo essa retomada.

No segmento de etanol de milho, o crescimento tem sido notável, com taxas de expansão expressivas. Essa indústria praticamente saiu do zero para representar cerca de 20% da produção nacional de etanol, tornando-se um componente essencial do setor. Hoje, a maior parte da oferta de etanol ainda vem da cana-de-açúcar, mas a participação do milho tem crescido de forma consistente e significativa.

Além disso, quando falamos em bioenergia de forma mais ampla, o segmento de cana também apresenta oportunidades em bioeletricidade e biogás/biometano. No caso da bioeletricidade, os investimentos foram praticamente paralisados nos últimos anos devido à forte concorrência com outras fontes renováveis que receberam incentivos fiscais tanto na esfera estadual quanto na produção de equipamentos. Isso reduziu significativamente os preços dessas fontes, tornando os projetos de bioeletricidade menos atrativos. Além disso, há anos não ocorrem os leilões que anteriormente ofereciam suporte e financiamento ao setor.

Já no caso do biometano, observamos um crescimento recente, impulsionado por projetos inovadores que vêm se destacando no mercado. Esses projetos, além de trazerem novas possibilidades, servem como referência para futuras decisões de investimento no setor.

Canal: Atualmente, quais são os principais desafios do setor de bioenergia no Brasil? E onde estão as maiores oportunidades de expansão nos próximos anos?

Mário: Na minha visão, o maior desafio do setor é garantir que a oferta esteja sempre alinhada com a demanda. Quando esse equilíbrio é rompido, as consequências podem ser muito prejudiciais para o setor. Se houver um excesso de oferta, os grupos econômicos enfrentam dificuldades para honrar os investimentos realizados e manter a rentabilidade. Por outro lado, um desequilíbrio pela falta de demanda, embora possa ser positivo para os produtores em termos de preços, pode inviabilizar o uso do produto e prejudicar a imagem da bioenergia como alternativa aos combustíveis fósseis.

Esse equilíbrio entre oferta e demanda é uma questão delicada, mas fundamental para o setor. Por isso, hoje pregamos prudência nos investimentos. Estamos lidando com uma realidade de consumo, especialmente de metanol, no mercado interno, que tem potencial, mas com limitações. Além disso, ainda enfrentamos desafios para reativar o potencial de novos usos, especialmente do etanol, em mercados emergentes.

Portanto, o grande desafio é garantir que a oferta e a demanda cresçam de forma equilibrada e sustentável ao longo do tempo, sem desequilíbrios acentuados. É isso que precisamos buscar para garantir um futuro sólido para o setor.

Canal: A tecnologia tem impulsionado avanços na produção e no consumo de bioenergia. Quais inovações o senhor acredita que terão maior impacto no futuro próximo?

Mário: Em termos de produção de etanol, os avanços no segmento de cana-de-açúcar estão, principalmente, no campo. Observamos melhorias significativas na produção de cana, como o uso de vinhaça localizada, práticas de irrigação mais eficientes, novas variedades de cana, e inovações na forma de cultivar e cuidar da cana-de-açúcar. A agricultura de precisão tem se destacado, e até mesmo a agricultura regenerativa tem sido aplicada nesse processo. Embora o clima continue sendo um fator determinante, é claro que houve melhorias no campo, e ainda há um enorme potencial de crescimento. A cana-de-açúcar possui um potencial imenso de expansão.

No segmento de etanol de milho, o cenário é igualmente promissor. Observa-se um crescimento expressivo, impulsionado pelo uso de tecnologias que permitem extrair mais etanol e outros produtos do milho. Esse avanço está fortemente relacionado às inovações tecnológicas utilizadas no processo de produção.

No que diz respeito à demanda, os novos usos do etanol apresentam grandes oportunidades. Um exemplo claro é a tendência de hibridização no mercado de veículos brasileiros, que busca maior eficiência no uso do etanol. Com a adoção de motores mais avançados, como os com injeção direta e turbo, a eficiência do etanol nos novos veículos tem se tornado ainda mais relevante.

Além disso, há um grande potencial no desenvolvimento de combustíveis sustentáveis, como o biometano e o SAF (combustível de aviação sustentável). O etanol pode ser uma das rotas para a produção de SAF, assim como o biometano, que também pode ser utilizado para a produção de SAF e biocombustíveis marítimos. Essas novas possibilidades estão sendo exploradas e podem impactar significativamente o futuro do setor.

É fundamental, no entanto, que o setor mantenha o equilíbrio na oferta, conforme mencionei na pergunta anterior, para garantir um desenvolvimento sustentável e sem sobras ou faltas de produto no mercado.

Canal: De que forma o setor de bioenergia pode contribuir para a sustentabilidade e a redução de emissões de gases de efeito estufa, garantindo ao mesmo tempo a segurança alimentar e a preservação dos recursos naturais?

Mário: Quando analisamos o setor no Brasil, não vejo uma interferência entre a produção de energia e a produção de alimentos. E explico o porquê: ao observamos os números, percebemos que a produção de matéria-prima tem crescido continuamente, e ainda há excedentes exportáveis. Além disso, no Brasil, a intensificação da produção de grãos, especialmente com a utilização da segunda safra, tem sido uma prática crescente. Esse aumento tem sido apoiado também pela expansão das áreas irrigadas, o que tem possibilitado esse crescimento.

Portanto, não vejo conflito entre essas produções. Todas essas cadeias produtivas geram energia e combustíveis, mas também produtos que são consumidos, seja diretamente pelo ser humano, como o açúcar proveniente da cana-de-açúcar, ou indiretamente, como o DDG, que é usado como ração animal e contribui para a produção de carne no setor de milho.

Adicionalmente, é importante destacar que o Brasil, sendo um grande exportador agrícola, possui uma forte conexão com o mercado internacional. Por essa razão, os preços internos das commodities brasileiras são geralmente os mais competitivos do mundo. Isso é evidente, por exemplo, no caso do açúcar, onde o preço interno, atrelado ao mercado global, é o mais baixo, pois não sofre interferências de subsídios ou proteções de mercado. Portanto, como país agroexportador, o Brasil consegue oferecer preços extremamente competitivos para suas commodities.

Assim, não vejo essa divisão entre alimentos e combustíveis no Brasil nas cadeias que produzem etanol. Essa observação é importante justamente por causa do vínculo com o mercado internacional, que atua como um “vaso comunicante”, minimizando qualquer interferência pontual entre as produções de alimentos e combustíveis.

Complementando a resposta anterior, nos últimos anos, temos observado um crescente foco na produção sustentável. Um dos grandes desafios do Brasil é implementar efetivamente o Código Florestal, aprovado em 2012. Isso envolve todo um processo de certificações, com o Renovabio desempenhando papel crucial nesse sentido, visando, entre outras coisas, zerar o desmatamento.

O setor está ciente dessa necessidade e tem seguido rigorosamente as diretrizes para alcançar esse objetivo. Além disso, há uma intensificação do processo de recomposição das reservas legais, especialmente em regiões que necessitam atender aos níveis mínimos exigidos pelo Código Florestal. Esse movimento tem ganhado força, principalmente com a atuação dos governos estaduais, que têm implementado processos de monitoramento e gestão mais ativos. Hoje, contamos com sistemas de informações mais robustos que permitem ao Estado gerenciar e validar as etapas necessárias para a implementação completa do Código Florestal.

Esses avanços são fundamentais, pois proporcionarão ao Brasil uma posição ainda mais forte no cenário global, eliminando críticas relacionadas ao uso da terra e à mudança no uso do solo, um tema frequentemente debatido internacionalmente.

Canal: Diante do atual cenário econômico e político, qual é a perspectiva para o futuro da bioenergia no Brasil? O país está preparado para assumir uma posição de liderança global nesse setor?

Mário: Primeiro, é importante destacar que o Brasil já ocupa uma posição de liderança global no setor de biocombustíveis. O que realmente importa não é apenas a quantidade produzida, mas sim a nossa inserção no mercado global. O Brasil é o país com o maior nível de mistura de etanol na gasolina, e a possibilidade de utilizar um produto renovável e limpo, como o etanol hidratado, de forma pura nos veículos, é um grande diferencial. Além disso, somos líderes na mistura de biodiesel no diesel, e temos também enormes possibilidades para o transporte pesado com o biometano, que avança com o mandato do SAF (Combustível de Aviação Sustentável).

Portanto, já temos uma liderança consolidada, mas o grande desafio agora é fazer com que outros países possam escalar o modelo brasileiro, criando um ecossistema global de biocombustíveis. Isso envolve a adoção de biocombustíveis em combustíveis fósseis, seguindo o exemplo do Brasil. Já estabelecemos essa liderança, e as regulamentações aprovadas em 2024 proporcionarão o suporte necessário para garantir a continuidade e o crescimento do setor.

É claro que o setor precisa continuar seu trabalho de evolução. A base foi estabelecida, mas agora é preciso construir o restante do caminho. Um dos objetivos é aumentar a presença dos biocombustíveis na matriz de transporte de outros países, com cada vez mais nações adotando e ampliando o uso de biocombustíveis. O próximo passo é consolidar essa expansão e avançar nos próximos anos para que o Brasil continue sendo um modelo de sucesso nesse setor.

Canal: Que mensagem o senhor deixaria para profissionais e investidores interessados em impulsionar o setor de bioenergia no Brasil?

Mário: A resposta a essa questão está diretamente relacionada ao que mencionei sobre a oferta e demanda. Atualmente, o Brasil atravessa um momento de alta taxa de juros, o que torna mais difícil transformar investimentos em realidade. Nesse contexto, é fundamental ter prudência nas decisões de investimento. Nos últimos anos, observamos um crescimento expressivo da capacidade de oferta, especialmente no segmento de etanol produzido a partir de grãos. Contudo, é essencial também criar uma demanda sólida para os próximos anos. Em algum momento, as taxas de juros vão cair e novas oportunidades vão surgir, mas é crucial que a oferta e a demanda caminhem de maneira equilibrada para garantir que os investimentos realizados possam ser rentáveis e suportar outras necessidades de investimento no futuro. Este é o principal recado que precisamos transmitir a todos.

Sobre os profissionais, o setor de bioenergia é extremamente promissor, tanto para o presente quanto para o futuro. É um setor que exige e oferece muitas oportunidades. Para os jovens que estão se preparando para o mercado de trabalho ou desejam expandir sua atuação nesse campo, investir na carreira dentro do segmento de bioenergia é uma excelente alternativa. O setor é dinâmico e está em constante crescimento, oferecendo um futuro promissor para aqueles que decidirem investir suas carreiras nele.

Canal: Nos próximos cinco anos, 18 novas usinas de etanol de cereais (milho e sorgo) devem entrar em operação, segundo a consultoria Céleres. Isso significa que a cana está perdendo protagonismo como principal matéria-prima do etanol? Como o senhor avalia a viabilidade econômica do sorgo nesse cenário?

Mário: Nos próximos cinco anos, 18 novas usinas de etanol de cereais devem entrar em operação, segundo a consultoria Célemes. Isso levanta a questão: será que a cana-de-açúcar está perdendo seu protagonismo como principal matéria-prima para a produção de etanol? É evidente que, nos últimos anos, o etanol produzido a partir de grãos teve um crescimento significativo. No entanto, não acredito que veremos a operação dessas 18 usinas de etanol de grãos no curto prazo, devido ao cenário atual de demanda.

Embora haja potencial para que essas usinas surjam em algum momento, dependendo de como conseguirmos lidar com o cenário de demanda, não acredito que isso aconteça no período planejado, especialmente em função da conjuntura brasileira, com a alta taxa de juros e, principalmente, pelo cenário de demanda mais restrita no curto e médio prazos. No entanto, no longo prazo, existem bons fundamentos para o setor. No momento, a cana-de-açúcar ainda ocupa o protagonismo, não apenas em termos de novos investimentos, mas também na maior parte da produção de etanol.

Nos últimos anos, observamos uma disparidade considerável entre o preço do açúcar e o preço do etanol, algo incomum para o setor. Essa diferença tem se mantido nas últimas três ou quatro safras e provavelmente persistirá por mais uma ou duas safras. Contudo, essa disparidade não é o padrão histórico, e é provável que os preços voltem a um patamar mais equilibrado, permitindo que a cana-de-açúcar recupere seu crescimento na produção de etanol nos próximos anos.

Embora a cana continue sendo a principal matéria-prima para o etanol, outras alternativas, como o sorgo, podem ganhar relevância, especialmente em regiões onde há dificuldades na produção de milho. O sorgo pode se tornar uma opção interessante, principalmente para a produção de etanol de grãos nessas áreas. Portanto, nos próximos anos, podemos ver um aumento no uso do sorgo para a produção de etanol em algumas regiões.

Canal: Como o setor de bioenergia pretende alinhar suas pautas para serem debatidas na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em Belém (PA)?

Mário: A COP é uma conferência entre países, e o principal objetivo é preparar o país anfitrião para esse papel, facilitando o diálogo com o governo. O governo precisa ter metas claras e estratégias definidas para conduzir as negociações. No caso da COP no Brasil, o governo brasileiro busca obter avanços significativos na área climática.

O setor privado participa desse processo através do diálogo com o governo, que começa antes da COP e continua com os eventos paralelos que ocorrem durante o evento principal. O setor de BNRG (bioenergia, renováveis e gás) estará envolvido dessa forma, apoiando os debates e contribuindo para as discussões nesses eventos paralelos, que ocorrem dentro das estruturas já consolidadas, e que historicamente participam da COP.

Um exemplo claro disso é a participação da CNI (Confederação Nacional da Indústria), que há anos está presente na COP de forma estruturada. O setor de BNRG estará muito próximo da CNI, assim como de outras confederações, como a CNA, para subsidiar os debates, além de colaborar com organismos internacionais que também têm tradição em participar da COP.

Vale ressaltar que ainda há muitas incertezas sobre como será essa COP, especialmente em relação à logística de participação. O número de participantes ainda não foi definido, e, como uma COP no Brasil tende a atrair grande interesse, a delegação brasileira pode ser muito grande. Isso foi visível na COP realizada em Dubai, onde a delegação brasileira foi uma das maiores. Embora o Brasil tenha uma mobilização significativa para participar das COPs, o processo de organização e a necessidade de permitir a participação de países de todo o mundo trazem desafios logísticos.

Portanto, é essencial que comecemos agora a nos envolver nos debates preparatórios, para garantir que as informações sobre os produtos do nosso setor sejam bem apresentadas e representadas durante a COP.

Canal: Quais foram as principais conquistas do setor de bioenergia no último ano? E quais desafios devem ser enfrentados neste ano?

Mário: O ano de 2024 foi um marco para o setor, especialmente em termos de projetos legislativos aprovados. Tivemos avanços significativos, como o Programa Veicular Brasileiro, que aborda equipamentos utilizados no etanol, incluindo veículos. Esse programa traz elementos importantes, como o IPI verde, a inclusão do híbrido a etanol e a implementação de ciclos de vida para cálculos. Essas mudanças indicam um grande avanço, como a substituição do sistema “tanque à roda” por um modelo mais eficiente e sustentável.

Além disso, tivemos a aprovação do marco geral do hidrogênio de baixa emissão, o PATEM, que trata do financiamento para a transição energética, e a Lei do Combustível do Futuro. A Lei do Renovabio também passou por aprimoramentos, incluindo a partilha do recurso C-bio entre os produtores de matéria-prima e as usinas, e o aumento das penalidades para distribuidores que não cumprem com as diretrizes do programa.

Outro grande avanço foi a regulamentação do mercado de carbono, assim como a reforma tributária, que trouxe novas diretrizes para o setor. No entanto, o maior desafio agora é a regulamentação dessas leis recém-aprovadas.

Um exemplo de ação que já está em andamento é a implementação do E30, que foi aprovado após estudos técnicos que comprovaram a viabilidade da mistura de etanol anidro a 30%. Esse é um passo importante, mas outras questões ainda precisam ser regulamentadas. O ano de 2025 será um grande desafio, pois exigirá a implementação de diversas regulamentações para dar efetividade a essas leis.

Em curto prazo, um dos maiores desafios do setor será a implementação do aumento da mistura para 30%. Esperamos, nos próximos meses, iniciar essa nova fase, o que é um reflexo da estabilidade na produção e na disponibilidade de etanol anidro. Desde a regularização da produção e a exigência de contratos pela ANP, não houve reduções nos níveis de mistura, apenas aumentos, com o último aumento para 27%, e agora a meta é alcançar os 30%.

Canal: Qual é a expectativa de produção de etanol para este ano? Quais estados lideram atualmente os rankings de produção de cana, etanol e açúcar no Brasil?

Mário: Começando pelo passado, a região Centro-Sul tem sido consolidada como o principal polo produtor de cana-de-açúcar, com destaque para São Paulo, Minas Gerais, Goiás e parte de Mato Grosso do Sul. Nos últimos anos, estados como Minas Gerais apresentaram crescimento na produção, com variações para cima e para baixo, mas de forma geral, o setor está bem consolidado.

No Centro-Oeste, os três estados – Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul – têm recebido diversos investimentos em usinas de etanol de grãos. Em Goiás, predomina a implementação de usinas flex, que combinam a produção de cana com a de etanol a partir de grãos, enquanto no Mato Grosso do Sul, há um crescimento expressivo das usinas exclusivamente dedicadas ao etanol de milho. Atualmente, essa região já se destaca como a maior ofertante de etanol do Brasil.

Uma mudança importante no cenário atual é a entrada definitiva da região Nordeste na produção de etanol de grãos. Com a inauguração de uma planta no Maranhão, essa região passará a ter um impacto significativo na oferta de etanol. Além disso, espera-se que, no próximo ano, a Bahia também inaugure uma unidade de etanol de grãos, o que transformará ainda mais o panorama de etanol no Nordeste do Brasil.

Em relação ao açúcar, a produção no Brasil permanece consolidada nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Paraná, com a produção nordestina mantendo uma forte tradição histórica. Observa-se que, no início deste ciclo, várias regiões receberam novos investimentos, com destaque para as usinas de cana que antes produziam apenas etanol e agora passaram a produzir também açúcar. Além disso, em diversas localidades, há projetos de otimização da produção de açúcar, com a intensificação da produção nessas regiões.

Em suma, o setor continua a evoluir, com uma reconfiguração importante da oferta e novos investimentos ampliando a capacidade produtiva.

Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia

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