Tamar Roitman é gerente executiva da Associação Brasileira de Biogás (ABiogás). A Associação é o canal de interlocução entre o setor de biogás e sociedade civil, os Governos Federal e estaduais, as autarquias e os órgãos responsáveis pelo planejamento energético brasileiro.
Canal – Jornal da Bioenergia: Quais as expectativas do setor ?
Tamar Roitman: Vemos um cenário bastante otimista com os resultados da COP 26 e a adesão do Brasil ao Acordo Global de Metano. O Brasil sozinho já é capaz de cumprir com as metas do Acordo apenas com o aproveitamento dos resíduos da produção agropecuária e do saneamento. O País tem um potencial de biogás inigualável no mundo e pode não apenas descarbonizar a nossa agropecuária, mas fazer isso de forma rentável e tornando os nossos produtos muito mais competitivos no mercado internacional.
Acreditamos que a consolidação de uma legislação federal para o setor vai trazer mais segurança jurídica para novos projetos, além de direcionar esforços para o desenvolvimento da indústria de biogás no Brasil.
Canal: Quais os principais desafios e entraves para o setor?
Tamar: Podemos citar como principais desafios o desconhecimento a respeito da tecnologia e a falta de políticas públicas direcionadas ao biogás.
No cenário de crescente demanda por fontes renováveis de energia e por confiabilidade do sistema, o biogás precisa ser visto como uma fonte que consegue unir as duas necessidades, garantindo segurança energética ao país, que hoje importa quantidade expressiva de combustíveis fósseis e fica sujeito aos preços internacionais de petróleo e de gás e às flutuações do câmbio.
É importante citar que existem linhas de financiamento bastante atrativas para o setor. Destaco o Plano ABC e o Plano ABC+, que destinam recursos bastante expressivos para projetos de baixo carbono no setor agropecuário.
Ainda que existam recursos disponíveis, os financiamentos exigem altas garantias por parte dos empreendedores, o que demanda a existência de fundos garantidores adequados aos projetos de biogás.
Nesse sentido, a ABiogás trabalha na operacionalização de um Fundo Garantidor para projetos de biogás. O fundo está sendo desenvolvido em parceria com o Laboratório Global de Inovação em Finanças Climáticas (LAB), coordenado pela Climate Policy Initiative (CPI) e que reúne mais de 70 instituições de todo o planeta.
O Fundo Garantidor de biogás vai focar na fase de construção dos projetos, amparando empreendedores que não têm garantias, ou que já tenham garantias travadas em outros projetos, como ocorre bastante no setor agropecuário.
Canal: A que se deve o desenvolvimento do setor?
Tamar: Deve-se, sobretudo, a um maior conhecimento sobre a fonte a ao avanço da agenda verde em diversos setores da economia, que estão buscando alternativas para cumprir suas metas de descarbonização. O Biometano se apresenta como uma opção bastante interessante, porque reduz custos e dá destinação a um passivo ambiental, que pode ter origem tanto no saneamento, quanto na produção industrial e na agroindústria. Muitas empresas estão adotando o Biometano como combustível em suas frotas, o que pode reduzir em até 100% as emissões de gases do efeito estufa em comparação ao diesel.
Canal: De forma geral, como o biogás ajuda na descarbonização do planeta?
Tamar :O biogás é gerado a partir da decomposição da matéria orgânica. Todos os resíduos orgânicos que são produzidos em diversos segmentos, como no saneamento, na agroindústria ou no processamento da proteína animal, vão gerar biogás. Por ser produzido a partir de resíduos, o biogás já começa o seu ciclo com pegada de carbono nula.
Com o aproveitamento do biogás, que é naturalmente gerado pela decomposição dos resíduos, além de produzir energia renovável, evita-se a emissão de metano para a atmosfera. A ABiogás calcula que poderíamos produzir até 120 milhões de metros cúbico de biogás por dia, o que poderia substituir 70% do consumo de diesel no Brasil ou suprir 35% da demanda por energia elétrica. Como costumamos dizer, o biogás, além de ser um ativo energético de extremo valor, também tem a capacidade de resolver um passivo ambiental, ao dar uma destinação correta aos resíduos orgânicos de diversos setores da economia.