O biogás é produzido a partir da decomposição da matéria orgânica – seja por rejeitos oriundos da agropecuária, por resíduos sólidos urbanos e esgoto, do setor sucroenergético, – por bactérias. A energia elétrica é gerada por meio de combustão em um motogerador ou em uma microturbina. Atualmente, o biogás tem três aplicações: térmica, elétrica e de mobilidade em veículos. Investir na transformação do biogás em energia elétrica é uma prática ecologicamente correta e pode ser lucrativa.
O Brasil conta hoje com 216 usinas ligadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) que produzem energia por meio de biogás. A maior parte desta energia, quase 83%, é proveniente da agropecuária com 179 usinas. Os números são da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás). Em seguida, os resíduos urbanos – aterros e esgotos – somam 33 usinas e o setor sucroenergético com quatro – duas em construção. Mas atualmente, esta energia é pouco participativa na matriz energética brasileira com aproximadamente 0,05 %.
Atualmente, o Brasil apresenta o maior potencial energético do mundo: 84,6 bilhões Nm³/ano entre saneamento (7%), resíduos agroindustriais (45%) e resíduos sucroenergético (48%). Esse potencial tem capacidade de suprir quase 40% da demanda nacional de energia elétrica ou substituir 70% do consumo brasileiro de diesel.
De acordo com a Associação, o potencial estimado a nível nacional é da ordem de 41 bilhões Nm³/ ano para o setor sucroenergético e 29 bilhões Nm³/ano com a suinocultura. O biogás poderia gerar 115 mil gigawatts-hora (GWh) de energia com o aproveitamento dos rejeitos urbanos, da pecuária e agroindústria, isso equivale a mais de uma Itaipu em energia de biogás por ano.
Dados publicados pelo Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), com as plantas em operação temos uma geração da ordem de 3 mi Nm³/dia ou 31,97 GWh, que corresponde a cerca de 14300 habitantes ou seis casas por mês, a partir do consumo médio dado pela EPE no Anuário de 2018.
A maior parcela da produção de energia elétrica atualmente é no estado de São Paulo, por contar com usinas de grande porte. Mas outros estados, como o Paraná, na Região Sul, têm um número total de usinas maior, segundo dados do Banco de Informações de Geração da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Desenvolvimento
O segmento do biogás vem crescendo de forma rápida no país nos últimos anos. O aumento do interesse pela matéria-prima é latente, seja dentro da iniciativa privada ou pela presença em agendas governamentais, eventos do setor e discussões de mercado. De acordo com a Abiogás, por ser uma fonte muito democrática, que pode ser gerada também por micro produtores, o mapeamento fiel de dados é um processo lento e a Associação não tem este dado absoluto.
De acordo com Rodrigo Régis de Almeida Galvão, diretor-presidente Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), a partir de 2010 há uma oferta interna crescente de biogás e o setor se consolidou nas pequenas e nas grandes plantas. “Vemos investidores com interesse no de biogás do país, isso mostra que o setor está se consolidando, ganhando seu espaço, sua musculatura. O que precisamos é que a cada vez de projetos maiores para que consigamos mais robustez e solidificar o setor”, pontua.
O biogás tem se destacado como fonte de renda da atividade agropecuária, além de alternativa para a energia elétrica, cujo custo tem aumentado continuamente, mas faltam incentivos para esse crescimento ser maior e mais duradouro. Um dos os principais entraves, de acordo com a Abiogás, são a falta de informação técnica à sociedade e ao investidor e a falta de políticas públicas que incentivem a fonte. Em nota, a associação afirmou que “ vem trabalhando para superar esses desafios e ajudar o desenvolvimento do setor, afinal temos tecnologia, temos potencial em diferentes setores da economia (agroindústria, esgoto sanitário, resíduos sólidos urbanos) e temos um compromisso ambiental firmado pelo país no acordo de Paris. O que precisamos é colocar isso no mercado e trazer conhecimento robusto e embasado à fonte.”
O diretor-presidente CIBiogás, Rodrigo Régis de Almeida Galvão, complementa que o gargalo hoje na geração distribuída é a atualização da Resolução. “Enquanto não se modernizar, não temos segurança jurídica e ambiente regulatório e, por consequentemente, para negócios e expansão de grandes projetos”.
Para ele, como o biogás é uma tecnologia nova em termo de Brasil existe a falta de confiança no setor. O setor produtivo tem pedido ao Governo Federal a elaboração de uma política de financiamento estruturado para o biogás, dentro do conceito do RenovaBio de redução de emissões, além disso, de leilões dedicados. E que os Estados desenvolvam a compra de biometano, ajudando assim, na consolidação do plano energético no país a partir da concretização destes grandes projetos. “É muito mais fácil hoje uma empresa de comercialização de energia fazer uma compra prévia de seis, dez anos de um bloco de energia eólica do que de biogás, por questão de dominar os processos. Mas isso são processos vencidos com o tempo”, complementa.
Assim, outro ponto que dificulta o crescimento do biogás são os financiamentos. “Precisamos criar condições mais atrativas, como aceitar um PPA de compra de energia como garantia, isso, os bancos de maneira geral não aceitam quando se trata de biogás”, explica.
Mas Rodrigo é otimista. Para ele, o Brasil é muito dependente do diesel, já que recebe um alto subsídio fiscal – que chega a mais de R$ 100 bilhões ao ano. “Esse valor é muito alto. Se tivermos de 3 a 5% desta importância aplicados a investimentos com a flexibilidade de financiamentos para o biometano , conseguiríamos consolidar o mercado de oferta com algumas vantagens, como a geração de emprego e renda, além de desenvolvimento de tecnologia e da nossa indústria de transformação”, conclui.
Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia