O setor sucroenergético utiliza a energia proveniente do bagaço da cana-de-açúcar para gerar eletricidade para seu próprio consumo ou para terceiros. Após a redução gradativa das queimadas nos canaviais, muitos estudos buscam encontrar a melhor maneira de aproveitar o derivado da colheita de cana-de-açúcar crua, o palhiço. Formado por palhas, folhas verdes, rebolos, raízes e ervas daninhas, essa biomassa, geralmente, fica no solo.
Segundo o especialista em Tecnologia Agroindustrial do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Marcelo de Almeida Pierossi, a colheita da cana-de-açúcar sem a queima prévia das folhas acumula a biomassa que chega a corresponder a, aproximadamente, 14% da quantidade de cana colhida. “A palha de cana-de-açúcar não pode ser desperdíçada”, explica o representante do CTC.
O gerente de marketing de produto Colheitadeiras e Enfardadoras da AGCO América do Sul, Douglas Vincensi, complementa que a cada hectare de um canavial são gerados entre dez a 13 toneladas de palha. O especialista do CTC complementa que o palhiço possui praticamente as mesmas características da fibra do colmo e do bagaço da cana-de-açúcar. Essa biomassa representa um terço do conteúdo de energia do canavial. Os outros 2/3 encontram-se, respectivamente, no caldo, que será transformado em açúcar ou etanol, e no bagaço que será transformado em energia térmica e elétrica.
Para aproveitar essa biomassa muitas técnicas podem ser utilizadas. É comum deixar parte da palha no solo para amenizar problemas com rebrote e pragas, mas o padrão é a queima nas caldeiras das usinas. Também é possível aproveitá- la como matéria-prima para a produção de etanol celulósico ou para a biodigestão.
O recolhimento do material
O recolhimento do palhiço é feito em quatro estágios simples. Após a colheita a palha é submetida a um processo de secagem. Esse procedimento depende das condições climáticas de cada solo. A primeira operação é o aleiramento, no qual o palhiço é enleirado; depois a biomassa passa por uma máquina de compactação ou enfardadora e, posteriormente, é acondicionada no caminhão para, finalmente, ser transportada para o centro de processamento das usinas.
Segundo o gerente de Marketing para cana-de-açúcar da John Deere, Marco Rípoli, existem, basicamente, três formas de se recolher a biomassa remanescente da colheita de cana-de-açúcar. A primeira é a colheita integral, no qual o sistema industrial de limpeza da colhedora é desligado, assim a palha é levada para a usina junto da cana picada.
A segunda opção é o recolhimento a granel após a colheita e a secagem da palha, utilizando-se o enleirador, que é um implemento puxado por um trator, que faz o amontoamento da palha em fileiras. Uma forrageira auto-propelida com cabeçote recolhedor retira o material do solo.
O terceiro e mais comum no Brasil é o enfardamento da palha. Após a colheita e a secagem da mesma faz-se o enleiramento. Em seguida, com uma enfardadora são produzidos os fardos, que podem ser processados ou armazenados. Esse processo é desenvolvido, por exemplo, pelo CTC desde 2010.
O enfardamento
Mas algumas técnicas e equipamentos de empresas de máquinas aagrícolas têm facilitado o enfardamento da biomassa. Um exemplo é a Valtra, que desenvolveu as enfardadoras Challenger LB34B. O equipamento colhe a palha no campo em um vão de 9 metros em formato “V” e direciona ao centro em uma fila. A produção média da enfardadora é de 60 fardos por hora, com mais de 450 quilos cada.
“Quanto mais palha, melhor o trabalho. Este produto está disponível para o produtor que precisa de alto volume de produção e rendimento, pois a palha é usada na obtenção de recursos para cogeração de energia e etanol de segunda geração”, explica o gerente de marketing de produto Colheitadeiras e Enfardadoras da AGCO América do Sul, Douglas Vincensi. Ele complementa que o equipamento não machuca a planta, pois possui discos com flutuação.
Os fardos têm, geralmente, a função de ser matéria-prima na combustão das caldeiras. Mas também, depois de prensados, ser transformados em madeira ecológica.
Energia limpa
O destino do palhiço pode ser variável. O mais comum é a combustão da biomassa em caldeiras para a geração de energia, mas a GEO Energética transforma o material em gás natural renovável, o biogás, que pode ser usado em substituição ao óleo diesel para abastecer a frota de veículos, como tratores, colheitadeiras, caminhões e ônibus. Não só a palha é fonte de energia nesse processo, os resíduos da cana, como vinhaça e a torta de filtro podem se transformar em biogás.
Além de energia limpa e gás natural verde, o sistema da produz um composto orgânico de alto valor agregado, devolvendo ao solo os nutrientes que a atividade agrícola retira.
Segundo o sócio e diretor da empresa, Alessandro Gradmann, por meio de um processo bacteriológico uma tonelada de palha é transformada em um megawatt de energia térmica. “O processo é competitivo. Procuramos parcerias para aumentar a nossa implantação”, explica.
De acordo com Gardemann, a redução de emissões de gases de efeito estufa na produção de etanol de cana com tecnologia GEO é de 95%, segundo estudos do Centro Nacional de Referência em Biomassa da Universidade de São Paulo (Cenbio/USP).
Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia