O biogás, gerado pela decomposição de matéria orgânica, é um conjunto de vários outros gases, entre eles, o metano, que tem grande aproveitamento energético. Após a retirada do metano e a correção de seu pH, ele pode ser utilizado para geração de energia elétrica ou como combustível – e é nesta última opção que tem apostado as empresas ligadas à frotas logísticas no Brasil.
Visando principalmente a sustentabilidade econômica e ambiental, o uso do biometano tem sido avaliado em diferentes áreas. O uso do gás em automóveis urbanos já não é mais novidade, mas em máquinas maiores a alternativa tem sido testada e implantada recentemente.
A fabricante New Holland lançou neste segundo semestre o T6.140 – Methane Power. Movido a biometano, o trator gera economia de até 40% quando comparado a maquinário movido a diesel. A linha T6, vale lembrar, atende a todos os tipos de cultura.
A economia não se dá apenas pelas especificações do motor, que foi desenvolvido pela FPT Industrial. Mais que isso, a possibilidade de produzir o combustível na propriedade, reduzindo a necessidade de utilização de recursos fósseis. O T6.140 reduz em até 80% a emissão de CO2 quando comparado ao trator correspondente com motor a diesel. O equipamento tem capacidade para armazenar 300 litros, o que dá uma autonomia de até seis horas.
Nilson Righi, gerente de marketing de produto da New Holland, comenta que um dos grandes desafios na produção do maquinário agrícola está relacionado ao fato de que se trata de um equipamento mais pesado, voltado para o campo. Para ser equivalente ao motor a diesel, que tem capacidade para 220 litros, o trator teria que ter 35 tanques. Entretanto, ele possui apenas nove tanques, o que garante autonomia de seis horas. Com relação ao mesmo T6 a diesel, o valor de venda deverá ser cerca de 5% maior, o que é compensado pela economia de 40% de combustível se utilizado o biodiesel.
Em fase de testes na Europa e agora no Brasil, o protótipo tem potencial nominal de 136cv e apresenta a mesma performance do equipamento a diesel.
O diretor-geral brasileiro de Itapu, Jorge Samek, e o vice-presidente da New Holland Agriculture para a América Latina, Alessandro Maritano, assinaram acordo de cooperação que prevê a cessão por comodato do Methane Power, que percorrerá propriedades agrícolas e cooperativas do Oeste do Paraná para testar e coletar dados técnicos sobre a viabilidade do biometano como combustível para maquinários agrícolas.
“Nas propriedades, o trator será colocado em operação da mesma maneira que os demais. Os produtores serão responsáveis por manuseá-lo e darão a nós o feedback.”, explica Nilson Righi. Ele ressalta que, hoje, há propriedades capazes de produzir biometano para consumo e excedente, que é queimado por falta de aplicação. Samek destaca que a possibilidade de produzir o combustível dentro da propriedade é um grande avanço, se tratando da agricultura do futuro.
O vice-presidente da New Holland para a América Latina, Alessandro Maritano, comentou que o motor a biometano, em si, não é mais uma novidade, mas sim sua aplicação para as necessidades agrícolas. “Se aprimorarmos a tecnologia, esse trator poderá apresentar autonomia de oito a 10 horas, que é o que um trator a diesel faz”.
Nilson Righi destaca que um dos grandes desafios na produção do maquinário agrícola está relacionado ao fato de que se trata de uma máquina mais pesada, voltada para o campo.
Já a Scania, fabricante de ônibus, caminhões e motores a diesel, apresentou ao mercado a primeira unidade de ônibus com sistema de gás nacional. Silvio Munhoz, diretor de vendas de ônibus da marca no Brasil, avalia que os resultados desse primeiro veículo foram positivos, principalmente com relação a viabilidade econômica. “O motor foi projetado e produzido para consumir gás. Os dados iniciais nos levam a um preço final da unidade em torno de 20% a 25% mais alto que a unidade movida a diesel”, diz, explicando que trata-se de uma estimativa, já que ainda não há produção corrente no Brasil.
Entretanto, imaginando que o biometano seria vendido ao mesmo preço do metro cúbico do gás natural, haveria redução por custo de quilômetro rodado na ordem de 28%. “Com essa redução, num prazo de dois a dois anos e meio o investimento adicional é pago. Daí pra frente, até o fim da vida (cerca de 10 anos, que é a media que os operadores utilizam o ônibus) teria ganho adicional para economia do custo por quilômetro”, explica Silvio Munhoz.
Além do ganho econômico, o impacto ambiental e sonoro também é reduzido. O motor já atende à norma Euro VI (padrão europeu de emissões) e, comparado com unidades Euro 5 a diesel, tem-se uma redução de 85% de emissão de gases estufa e até 95% de contaminação de gases, que é o material particulado. Há também emissão de ruídos inferior ao diesel, com efeito no bem estar da população.
Implantação
O Brasil apresenta um potencial de produção de biogás enorme, que não tem sido tão explorado quanto poderia. Alessandro Gardemann, o CEO da Geo Energética, acredita que isso se deve ao fato de se tratar de um mercado ainda em desenvolvimento. Até o final do ano, a empresa deve instalar e colocar em funcionamento planta de biometano no Paraná, onde já possui planta de biogás para geração de energia elétrica.
Segundo Alessandro, a grande dificuldade de produção é tropicalizar a tecnologia, ou seja, prepara-la para as condições locais e para o tipo de biomassa presente no Brasil. Já como vantagens, destaca que trata-se de um combustível renovável, que pode ser estocado, com boa pegada de carbono e que pode reduzir custos com o diesel. “O biogás sofreu no passado. Algumas plantas de referencia não funcionaram bem. Mas, agora, estamos produzindo pelo motivo certo, que é de sustentabilidade econômica, social e ambiental.” Para ele, o desejo de futuro seria o uso do gás em ônibus e maquinário agrícola. “Queremos a interiorização do gás. O diesel é o maior custo da agricultura, juntamente com os adubos químicos.”
Como funciona o motor movido a metano?
Uma vez que os gases são intercambiáveis, ou seja, têm composições químicas similares, não há qualquer diferença entre os motores. O biometano é o combustível usado nesses motores. Ele é gerado na propriedade rural por meio da decomposição anaeróbia de matéria orgânica. Se por algum motivo a produção for interrompida durante a manutenção ou entressafras, por exemplo, é possível abastecer com gás natural veicular (GNV) sem problemas ou mudança de desempenho.
Se o produtor gera mais biometano do que utiliza, pode vendê-lo às companhias de distribuição. A única exigência é que o biometano seja corretamente purificado e tratado para atender às especificações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Fontes: Ministério de Minas e Energia (MME), Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Biogás
Mistura de gases resultante do processo de degradação da matéria orgânica na ausência de oxigênio. O principal componente desta mistura é o metano, gás com alto potencial energético.
Principais fontes de biogás:
– Fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos (RSU)
– Resíduos da produção de açúcar e álcool
– Efluentes sanitários
– Dejetos de animais
– Efluentes industriais diversos
Biometano-Resultado do processo de purificação do biogás, tem características sim ilares ao do gás natural. Para chegar a essa condição, é necessária a remoção da umidade, do dióxido de carbono e do sulfeto do hidrogênio, resultando em um combustível de alto poder calorifico e que pode ser utilizado em substituição do Gás Natural Veicular (GNV).
Ana Flávia Marinho-Canal-Jornal da Bioenergia