Um estudo elaborado pela consultoria internacional Accenture, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV Energia), abordando a mobilidade elétrica no Brasil destaca a necessidade de se aproveitar a infraestrutura de produção e abastecimento de biocombustíveis já consolidadas no País:
“Uma oportunidade que o Brasil deve considerar ao desenvolver sua indústria de carros elétricos é qual tecnologia veicular seria mais adequada dado que a indústria de biocombustíveis e os flex já são bem difundidos nacionalmente (…) Assim, o País se beneficia desta vantagem comparativa para redução das emissões [de poluentes], pois o etanol é renovável e os híbridos flex ou a células de combustível (SOFC) podem vir a ser aproveitados rumo à eletrificação da frota.”
Para o consultor de Emissões e Tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Alfred Szwarc, faz todo sentido associar o pioneirismo do Brasil na fabricação em larga escala do etanol e expertise conquistada no aprimoramento dos automóveis flex com o conceito de eletrificação veicular. Nesta linha, o executivo cita dois importantes projetos voltados para a indústria automotiva nacional.
“Montadoras como Nissan e Toyota já vêm desenvolvendo tecnologias que contemplam o uso do etanol aliado à propulsão elétrica. Isso demonstra a relevância de um biocombustível economicamente viável e ambientalmente correto, pois emite até 90% menos CO2 em comparação à gasolina”, afirma o especialista.
Em 2016, a Nissan fez testes bem-sucedidos com um veículo elétrico movido a célula de combustível alimentada por etanol. Em outubro de 2017, outra marca líder, a Toyota, revelou a intenção de produzir o primeiro híbrido flex do mundo, no qual a eletricidade será gerada por motor à combustão abastecido com etanol, gasolina ou a mistura dos dois combustíveis em qualquer proporção. “Com a utilização do biocombustível sucroenergético hidratado, obtido direto na bomba e capaz de reduzir as emissões de CO2 em até 90% se comparado à gasolina, o modelo se tornará o carro híbrido mais ecológico já fabricado, um sinônimo de sustentabilidade”, ressalta Alfred Szwarc.
Estudo
O mercado de carros elétricos e híbridos vai prosperar no Brasil, mas segundo o levantamento da Accenture-FGV, este crescimento não se dará no mesmo ritmo de países europeus como Noruega e Holanda, onde os subsídios financeiros são maiores e existe pouca disponibilidade de fontes renováveis e terras para a produção de biocombustíveis de primeira geração, como o etanol de cana feito no Brasil.
Considerando os custos de produção dos elétricos/híbridos e cenário econômico no País, os pesquisadores avaliam que o mercado brasileiro tem capacidade para absolver, no máximo, aproximadamente 150 mil unidades eletrificadas por ano. A análise leva em conta os preços elevados destes modelos, cujos custos são acessíveis somente para consumidores das classes A e B com renda mensal bruta superior a 20 salários mínimos.
Além de pesquisar o potencial do mercado brasileiro, o estudo também avalia o cenário global dos carros elétricos. Dentre os países que já apresentaram metas para incorporar estes modelos em sua frota veicular entre 2020 e 2030, destacam-se a China, França e Índia, que, juntos, pretendem instalar mais de 11 milhões de eletropostos para a recarga de baterias.
Os estudos da Accenture-FGV também detalham os principais impactos diretos e indiretos resultantes da expansão da frota eletrificada. Segundo os pesquisadores, o ambiente para a exploração do lítio, um metal raro usado na composição das baterias, e que libera toxinas prejudiciais à saúde, apresenta tendência de elevação do preço de até 75% até 2025. Projeções indicam que nos próximos quatro anos a demanda pelo lítio crescerá em 20 mil toneladas por ano. Considerando esse mesmo período, o levantamento também examina as consequências para o consumo de eletricidade se 10% dos carros em circulação na Califórnia em 2021. Neste caso, haveria um aumento de 8% no consumo.
A estimativa dos pesquisadores é de que frota global de carros elétricos chegue a 13 milhões de unidades em 2020. Atualmente, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), pouco mais de 2 milhões destes modelos rodam em todo o mundo; 3,3 mil deles no Brasil (UNICAData, 2016).
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