Brasil e Paraguai fazem parceria para extrair óleo de macaúba com alta qualidade

A Embrapa Agroenergia (DF) e a Universidade Nacional de Assunção (UNA), no Paraguai, estão desenvolvendo em parceria um conjunto de processos para a extração de óleo da macaúba a partir de sua polpa. Em laboratório, os cientistas já obtiveram óleo de boa qualidade por meio de métodos ambientalmente sustentáveis e capazes de aumentar o volume do produto extraído em mais de 50%.

Também conhecida como bocaiúva em alguns lugares do Brasil, ou como coco Mbokaja, pelos paraguaios, a macaúba pode fornecer um óleo de ótima qualidade e alto valor. Porém, os métodos convencionais utilizados para a sua obtenção, como a prensagem, não conseguem obter um produto com qualidade, o que restringe seu uso.

Desde julho, os pesquisadores paraguaios Mario Smidt e Juan Daniel Rivaldi e a pesquisadora da Embrapa Simone Palma Fávaro realizam nos laboratórios e planta-piloto a extração do óleo da polpa da macaúba em processos sem o uso de derivados de petróleo e com baixo gasto energético, o que dá sustentabilidade ambiental ao método.

Smidt conta que nos primeiros experimentos realizados na Embrapa Agroenergia foram testados os métodos em escala laboratorial. Estão em andamento testes em escala de planta-piloto.

O óleo de macaúba produzido no Paraguai é extraído principalmente da amêndoa de forma tradicional por prensagem, bem como da polpa. Como o manejo aplicado ao fruto após a sua colheita não é adequado, o óleo de polpa tem baixa qualidade. A pesquisadora Simone Fávaro conta que, por causa dessa baixa qualidade, ele não pode ser matéria-prima para a produção do biodiesel.

Aumento em mais de 50% do volume
De acordo com a pesquisadora, os processos que estão sendo testados são de interesse tanto do Paraguai quanto do Brasil. No país vizinho, o óleo do coco Mbokaja comercializado é principalmente da amêndoa, que representa somente 25% do potencial do fruto. Com a aplicação de novos métodos de extração, a produção de óleo poderá ser incrementada em mais de 50% com o aproveitamento também do óleo de polpa. “A parceria com o Paraguai está nos ajudando a complementar o trabalho com a visão da indústria, o que irá trazer um ganho também para a cadeia da macaúba no Brasil”, ressalta Fávaro.

O próximo passo será testar os métodos desenvolvidos em um ambiente de produção na indústria. Os processos são realizados em equipamentos já utilizados para extração de outros óleos, mas que não eram aplicados para macaúba, complementa a pesquisadora da Embrapa.

“Com os resultados desse trabalho pretendemos apoiar as iniciativas de implantação de negócios com a macaúba, aproveitando o fruto de forma mais eficiente, gerando maior viabilidade econômica com produtos de melhor qualidade e com sistemas de produção de baixo impacto negativo sobre o ambiente”, destaca Fávaro.

Macaúba em cosméticos, alimentos e combustíveis
A especialista conta que a melhor qualidade do óleo produzido permitirá sua aplicação não só em biocombustíveis, mas também em outros os segmentos valiosos de mercado como cosméticos, alimentação e vários outros. “No Brasil, existem empresas que importam o óleo de amêndoa da macaúba produzido no Paraguai para produzir sabonete e outros produtos de higiene pessoal e alimentos. Hoje o País tem um déficit de produção de óleos de palmeira. Somente de óleo de palma, o dendê, importa cerca de 200 mil toneladas anuais. É esse o tamanho do mercado apenas no âmbito nacional para os óleos da macaúba”, apresenta a pesquisadora da Embrapa.

Essa é uma entre as iniciativas de pesquisas para domesticar a macaúba e torná-la fonte de matéria-prima para o agronegócio brasileiro. No Brasil, a espécie é encontrada naturalmente em todas as regiões.

A macaúba
A macaúba apresenta ampla dispersão no território brasileiro, especialmente nas áreas de Cerrado e Pantanal, além de algumas do Semiárido, e pelo seu potencial para a produção de grandes quantidades de óleo por unidade de área, além da possibilidade de utilização em sistemas de integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF). Ela pode ocupar áreas de produção que são inadequadas para a palma de óleo (dendê), atualmente a principal fonte de óleo vegetal no mundo, seguida pela soja.

Pesquisas sobre o potencial desses pequenos cocos revelam que eles são fonte de óleo que serve de matéria-prima para a produção de biodiesel e de outros produtos. Dela, praticamente tudo se aproveita: serve de matéria-prima para cosméticos e fármacos; os frutos são comestíveis e a polpa empregada na confecção de produtos de pastelaria e sorvetes; o endocarpo do fruto (parte dura do coco) é usado para a produção de carvão ativado utilizado em filtros (também pode ser empregado em siderurgia); a amêndoa é comestível e não tem compostos tóxicos.

A produtividade potencial por área da macaúba assemelha-se à do dendê, podendo chegar a mais de quatro mil litros de óleo e de 15 a 20 toneladas de frutos por hectare.

Produção extrativista
No entanto, a exploração da macaúba no Brasil e Paraguai ainda está centrada no extrativismo. O Paraguai diferencia-se por já ter um parque industrial em grande escala que processa a macaúba há mais de 80 anos. Atualmente são processados em torno de cinco milhões de toneladas de fruto no Paraguai, que resultam em 2,5 t de óleo de amêndoa e meia tonelada de óleo de polpa. O baixo rendimento em óleo de polpa se deve à forma de colheita, por retirar os cachos com frutos ainda verdes, e ao processamento rudimentar. Com manejo adequado e industrialização, os pesquisadores estimam que poderia se obter mais de seis toneladas de óleo de polpa.

Práticas adequadas de preservação da espécie são fundamentais para garantir a variabilidade genética, característica fundamental para programas de melhoramento visando a domesticação e obtenção de cultivares comerciais.

A Embrapa Agroenergia, em parceria com outras Unidades da Empresa e instituições privadas, desenvolve estudos em melhoramento genético, manejo e tratos culturais e processos industriais de conversão de óleos em produtos de interesse econômico para consolidar a macaúba como uma das matérias-primas na cadeia produtiva do biodiesel. Também mantém Bancos Ativos de Germoplasma para a conservação da variabilidade genética da espécie. Embrapa Agroenergia

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