Em Pernambuco, o sumiço do canavial dá lugar a áreas parecidas com desertos, já bem perceptíveis entre as cidades de Tracunhaém e Nazaré – região considerada o epicentro da seca pela Associação dos Fornecedores de Cana de PE (AFCP). Em Carpina, por exemplo, tem chovido bem abaixo da média desde junho de 2016. Situação bem similar em outras várias cidades. Com isso, a nova safra será afetada significativamente, prejudicando uma das principais cadeias produtivas do PIB do Estado. Mesmo chovendo regular a partir de agora, já se prevê déficit de 30% em comparação a safra atual (11,5 milhões de toneladas de cana).
O cenário é desolador. Vastos hectares sem nada brotar e outros com pequenos pés de cana morrendo. Nos locais do epicentro da estiagem, a AFCP prevê um prejuízo mais drástico, porque mesmo que a chuva chegue, já houve grande mortandade dos brotos da cana nesses últimos meses – período em que a planta mais precisava de água para crescer. A previsão é de uma perda de até 70% em relação a produção anterior. No engenho Quatis, do produtor Felipe Neli, em Lagoa de Itaenga, por exemplo, só deve atingir 30% do montante produzido na safra 2016/17.
Até os canaviais da Zona da Mata Sul, onde tradicionalmente chove mais, têm convivido com a morte de socaria (broto da cana) devido à seca que também provocará impacto sobre a nova produção. A morte da socaria não é comum na região. Ela só ocorre quando o déficit hídrico é elevado e continuado, como tem sido verificado desde junho de 2016. Diversas propriedades da região já penam com esta situação, como observado no engenho Boa Sorte em Xexéu, do produtor rural Frederico Pessoa de Queiroz.
“A seca também tem prejudicado significativamente a produção de cana nos estados de Alagoas e Sergipe. Em SE, há relatos de usinas comprando água de carro pipa para findar a moagem da safra 2016/17″, informa Alexandre Andrade Lima, presidente da União Nordestina dos Produtores de Cana (Unida). O dirigente conta que a situação é menos drástica no Rio Grande do Norte, na Paraíba e em uma pequena faixa em Pernambuco, situada a partir da cidade de Ferreiros em direção a PB. Todavia, a previsão do déficit da nova safra nordestina é elevada. A estimativa já é de um prejuízo de 20% em comparação à safra anterior.
O dirigente aproveita o cenário para criticar os órgãos de meteorologia diante do que ele considera alto nível de contradições e erros entre suas previsões nos últimos tempos. “Ora falavam no fim do El Niño e na chegada da La Niña – cenário que traria chuva para a região Nordeste; depois, com a seca já intensificada na vida real, mudam as previsões e falam em seca ainda mais severa. Até da volta do El Niño”, critica.
Com o cenário de continuação da seca e elevada previsão de frustração da safra canavieira, reacende o debate sobre o papel do gestor público nesta questão. Ainda mais porque a produção da cana afeta diretamente os indicadores social (postos de trabalho) e econômico (cadeia produtiva envolvida em todo setor, inclusive exportações e geração de impostos).
A Unida afirma que retomará a defesa do pagamento da subvenção federal para o setor. Com a crise econômica, a União ainda não pagou o subsídio sancionado desde 2014. Além de cobrar ações emergências, como é a subvenção, o setor também se reunirá em Brasília na próxima semana para defender junto ao governo federal um projeto de irrigação através de pequenas barragens para reter e aproveitar no período de seca a água da quadra chuvosa na região – comum entre março a junho. Sem a barragem, esta água escorre para o rio e vai para o mar sem utilização.
AFCP