Capim Camalote é ameaça para lavouras de cana

Originária do continente africano, a espécie Rottboellia cochinchinensis, o capim-camalote, ou no Nordeste conhecido como rabo de lagarto, já se encontra disseminada em mais de 50 países e 18 culturas, entre as quais se destacam a cana- de-açúcar, arroz,  milho,  feijão e soja. Têm-se notícias que essa planta daninha chegou à América do Sul há mais de 30 anos e atrapalha o desenvolvimento dos canaviais em São Paulo – o maior produtor do País  – e também a região de Campos, no Rio de Janeiro, no Paraná e Mato Grosso do Sul.

Em São Paulo, a disseminação da planta seguiu o trajeto da linha férrea, passando pelas cidades de Mococa, Porto Ferreira, Piracicaba, Igarapava, Dumont e Santa Rita do Passa Quatro. O assessor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) da área de cana-de-açúcar, Alexandro Alves, afirma que ainda não há casos registrados em Goiás. A principal característica da planta é o alto poder de disseminação. Ela pode produzir até 15 mil sementes. Um pedaço de caule também pode gerar outra planta.

O capim camalote é uma planta invasora de efeito alelopático, isso é, que mata e inibe o crescimento das plantas ao redor. “Ela compete com a cana pela busca por água, luz e nutrientes”, explica o assessor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg). Assim, nas regiões canavieiras, o capim- camalote se destaca por causar perdas significativas de produtividade. O pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Carlos Alberto Mathias Azani, mostra que a planta daninha monopoliza a plantação e reduz a produtividade nos canaviais em até 80% para áreas de cana soca, e de até 100% em cana planta.

Considerando as distintas regiões canavieiras do mundo, estima-se que existam cerca de mil espécies de plantas daninhas. O capim-camalote está classificado entre as 12 piores invasoras da cultura, devido à sua agressividade.

A eliminação

A prevenção é a melhor forma de combater a dispersão do capim-camalote pelo País. Em áreas onde a planta ainda não é vista é importante o produtor ter atenção na aquisição de mudas e sempre limpar o maquinário que será utilizado. “Geralmente, a usina não tem paciência para limpar a máquina e seguir para a outra área. A semente do capim-camalote pode estar fixa em partes da cana e até mesmo do maquinário”, orienta o pesquisador do IAC. O assessor da Faeg também destaca que é primordial o monitoramento da área. “Um profissional qualificado consegue identificar a planta daninha, evitando que ela semeie e, assim, se prolifere”, complementa.

Em áreas que a planta já se instalou a indicação é o manejo químico pesado. “Não existe um herbicida 100% eficaz para esse caso”, explica Carlos Alberto Mathias Azania. Quando o canavial está em fase de soqueira, a indicação é a associação de dois químicos.  Já com a cana instalada é indicado a aplicação do herbicida amicarbazone ou do composto de diuron, hexazinoma e sulfumeturom metílico. Mesmo com a aplicação dos herbicidas o capim-camalote ainda resiste. Assim, para eliminar o restante da planta do canavial é indicado o uso da bomba costal com MSMA ou uma mistura de ametrina e trifloxysulfuron. “Na aplicação é preciso estar  atento para não atingir a cana também”, complementa.

O futuro

Para os especialistas, a planta daninha tem potencial para atingir todo o território brasileiro. “O produtor pode retardar o desenvolvimento do capim–camalote com a conscientização sobre o manejo correto e a limpeza das máquinas”, afirma o pesquisador do IAC. O assessor da Faeg destaca que, com a crise do setor sucroenergético, desde o ano de 2008 muitas áreas canavieiras não receberam um bom controle de pragas. “O mau controle das pragas favorece a dissipação mais rápida e ampla pelo País”, conclui.

Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia

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