O Brasil produz etanol de cana-de-açúcar e também de milho. A produção de etanol a partir do cereal tinha como expectativa para a safra 2020/21 de aproximadamente 2,9 bilhões de litros, mas, devido a pandemia a projeção da União Nacional do Etanol de Milho (Unem) caiu para 2,5 bilhões de litros.
As usinas de etanol de milho também foram impactadas com a crise que assolou o mundo devido à Covid-19, uma vez que, que em meio ao consumo mais brando por combustíveis em geral, as empresas produtoras não têm a flexibilidade característica das indústrias que processam cana-de-açúcar.
Segundo o presidente da Unem, Guilherme Nolasco, a pandemia e a alta volatilidade dos preços do petróleo e seus derivados afetaram todos os combustíveis, com diminuição da demanda e representativa queda nos preços. “Os farelos de milho – DDG; DDGs; WDG – resultantes do processo produtivo do etanol estão desempenhando importante papel neste momento, tendo forte demanda e preços em alta, trazendo uma grande contribuição no resultado final da atividade”, explica.
Matheus Costa, analista de inteligência de mercado pleno em açúcar & etanol na INTL FCStone, complementa que muitas das empresas adquiriram a matéria-prima, o milho, de forma antecipada às altas observadas recentemente para o cereal, resultando em custos mais baixos de aquisição. “Com isso, as margens de produção foram preservadas, ainda que parcialmente, dos impactos dos preços mais baixos do etanol – observados entre março e maio de 2020 – e/ou dos preços mais elevados do milho – mesmo considerando uma compra nos momentos de alta, observados entre o fim de 2019 e início de 2020”, explica.
Outro ponto é a demanda por etanol de milho que se mantem, especialmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. “Grande parte dos estados dessas regiões estão em situação deficitária em termos de etanol e as aquisições a partir do Mato Grosso e Goiás acabam compensando em relação aos mercados de São Paulo e Minas Gerais, por exemplo, dada a vantagem logística. O etanol de milho se torna, portanto, fundamental nessa dinâmica”, pontua o analista de inteligência de mercado pleno em açúcar & etanol na INTL FCStone.
Dados
No acumulado de janeiro a maio de 2020, de acordo com a Unem, a produção de etanol de milho cresceu 93% em relação à produção no mesmo período de 2019. A entidade explica que esse crescimento se deve, basicamente, ao início de atividade de duas grandes usinas. Já as estimativas mais recentes da INTL FCStone ainda apontam para crescimento da produção de etanol de milho na safra 2020/21- nos meses de abril e março – em relação ao ciclo anterior. “Esperamos que sejam destilados 1,5 milhão de m³ de hidratado e 796 mil m³ de anidro, o que totaliza cerca de 2,3 milhões de m³ de biocombustível fabricado a partir do cereal”, elucida Costa. A estimativa da consultoria antes da Covid-19 para a temporada atual era de que 1,7 milhão de m³ de hidratado e 804 mil m³ de anidro fossem fabricados, totalizando 2,5 milhões de m³.
A região Centro-Oeste tem uma vocação natural para a produção de etanol de milho devido à grande oferta do grão de segunda safra. Atualmente, os estados de Mato Grosso e Goiás, produzem juntos 97,5% do etanol de milho brasileiro. “No entanto, temos convicção que além dos estados do Centro-Oeste há várias outras regiões com potencial para a produção de milho, e logo estarão neste mercado também”, explana o presidente da Unem.
Nolasco complementa que a cadeia do etanol de milho será a grande indutora do crescimento da produção de grãos e carnes no Brasil sem pressão sobre novas áreas de exploração. “A valorização do preço do milho possibilitará ao produtor rural investir no aumento de sua produtividade na segunda safra. Consequentemente, com a crescente oferta de farelos de milho, a intensificação da terminação de bovinos disponibilizará áreas de pastagens de baixa produtividade para o cultivo de grãos. Projetamos um círculo virtuoso de produção de combustível e incentivo às cadeias de carnes e florestas plantadas para geração de vapor e energia nas usinas de etanol de milho”, finaliza.
Canal-Jornal da Bioenergia