Centro-Sul deve processar menor volume de cana desde 2014/15

O Centro-Sul brasileiro deve moer menos cana-de-açúcar do que o previsto inicialmente. De acordo com a revisão da INTL FCStone, a safra 2018/19 deve cair 3,8% em relação à temporada anterior, para 573,9 milhões de toneladas, o menor volume desde a safra 2014/15. O principal fator influenciando no desenvolvimento da cana e, consequentemente, na produtividade agrícola foi o clima mais seco.

“Entre os meses de fevereiro e junho, a precipitação sobre o cinturão canavieiro registrou 378 mm, 31,4% abaixo do ano passado e 33,4% abaixo da média histórica. Com as chuvas escassas, o nível de umidade no primeiro 1,6 metro de solo também caiu para 346,8 mm no mês de junho, 16,6% abaixo da média de 10 anos”, explica o analista de mercado do grupo, João Paulo Botelho, em relatório.

O indicador de saúde da vegetação, que usa imagens de satélite para analisar a situação das lavouras, também mostra declínio significativo nas condições das principais áreas canavieiras do Centro-Sul. Na média dos principais estados produtores, este índice registra 44,8, queda de 25,1% ante ao ano passado e 19,9% a menos do que a média dos últimos 10 anos.

A INTL FCStone espera que a produtividade agrícola média da região Centro-Sul caia para 72,8 t/ha, uma redução de 4,2% em relação ao ciclo anterior, mas pondera quanto ao impacto do clima sobre a totalidade das regiões produtoras. Isso porque, assim como ocorreu em 2014, o estresse hídrico não está espalhado de maneira uniforme por toda a região canavieira do Centro-Sul.

“No estado de Minas Gerais, responsável por 11% da área esperada, as chuvas no acumulado do ano superam o mesmo período no ano passado”, avalia Botelho. Além disso, o índice de saúde vegetal do estado no começo de julho é maior que o registrado no ano passado, assim como ocorre em Goiás, responsável por 12% da área.

Além disso, a falta de chuvas tem efeito positivo a qualidade da matéria-prima, resultando em aumento do Açúcar Total Recuperável (ATR) médio, estimado pela INTL FCStone em 139,1 Kg/t – o maior nível desde 2010/11.

Em relação ao mix produtivo, a paridade entre os dois produtos da cana-de-açúcar continua favorecendo o etanol, mesmo em uma época do ano em que o açúcar normalmente remunera melhor em função da sazonalidade de preços do biocombustível. Na média das últimas quatro semanas, a produção de álcool combustível remunerou 4,0% melhor o produtor paulista do que o açúcar. Em estados mais distantes dos portos, como Minas Gerais e Goiás, a vantagem oferecida pelo biocombustível é ainda mais expressiva.

“Estimamos que as usinas do Centro-Sul destinarão 60,1% do mix produtivo para o biocombustível e apenas 39,9% para o açúcar. Esta seria a maior concentração da produção canavieira no etanol desde a safra 2008/09. A produção de açúcar, desta forma, cairia 15,8% na comparação com a safra passada, para 30,4 milhões de toneladas”, explica o analista João Paulo Botelho.

A produção de etanol baseado na cana-de-açúcar, por sua vez, deve crescer 10,3%, para 28,2 milhões de m³. O impacto sobre as duas principais variedades, entretanto, será distinto. A INTL FCStone projeta aumento de 23,0% na produção de hidratado, que deve atingir 18,8 milhões de m³, o maior volume da história. Já a produção de anidro deve cair em 8,4%, para 9,5 milhões de m³.

“O motivo para esta disparidade entre as duas variedades se deve à perspectiva de que o aumento da produção de hidratado reduza a participação da gasolina C na demanda por combustíveis do ciclo Otto no Brasil, e também ao cenário de queda na demanda por esta categoria de combustíveis”, resume Botelho.

Etanol de milho

A INTL FCStone espera aumento na produção de etanol de milho para 1,14 milhão de m³, avanço de 119,4% em relação à safra passada, volume que deve ser dividido em 864 mil m³ de hidratado e 281 mil m³ de anidro.

O custo de aquisição do milho no Mato Grosso na média de abril a junho apresentou alta de 51,4% na comparação com o mesmo período no ano passado, quase o triplo da alta no preço do etanol no mesmo período. Com isso, o diferencial médio entre os dois produtos caiu de R$0,94/l em 2017 para R$0,82/L este ano.

“Este diferencial continua significativamente acima da média de R$0,32/L registrado no mesmo período em 2016, o último ano em que a safrinha quebrou. E mesmo com o diferencial baixo, a produção de etanol de milho na safra 2016/17 aumentou em 66% na comparação com o ciclo anterior”, lembra o analista de mercado da INTL FCStone, João Paulo Botelho.

 

 

FCStone

 

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