A influência do clima na produtividade de usinas de cana-de-açúcar e biodiesel está despertando nos empresários a necessidade de informação. Mas, transformar dados em ações ainda é uma realidade longe do ideal e aí não basta medir a quantidade da chuva, da radiação solar ou a temperatura do ar. É preciso saber quais decisões tomar a partir destes dados para garantir além da produtividade, maior retorno financeiro.
Fábio Marin, professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo, explica que o clima ainda é um dos fatores menos estudados do campo da bioenergia. Apesar disso, o professor afirma que grandes e pequenos grupos estão cada vez mais conscientes desta importância. Para ele, a dificuldade de lidar com o tema se dá pelo fato de que a maioria dos cursos de Ciências Agrárias não dá a atenção merecida para esta linha de formação.
“Em qualquer setor há uma diferença entre dados e informação. A maioria das usinas possui os dados mas ainda possuem uma grande dificuldade em avançar no plano de ações. É essa análise que resulta em redução de custos e/ou aumento de receita”, afirma o professor. Ele diz ainda que, normalmente, as usinas contam com estações meteorológicas instaladas internamente, mas que além do serviço público, muitas empresas já estão disponibilizando aluguel de estações e armazenamento de dados meteorológicos na nuvem. “Já contamos com alta qualidade na prestação de serviço no campo da agrometereologia”, completa.
USP oferece monitoramento
A Esalq/USP possui um serviço de de extensão denominado Tempocampo. Idealizado e coordenado pelo professor Fábio Marin, o sistema monitora mais de 800 mil hectares de cana em todo o Centro-Sul brasileiro, os 200 municípios maiores produtores de milho do Brasil e toda a soja do Mato Grosso, Paraná e do Matopiba. Entre os serviços prestados estão: monitoramento e previsão do tempo; previsão de safras; risco de quebra de produtividade em função da época de semeadura, além da ocorrência de doenças e pragas. O serviço opera na universidade desde 2016, mas foi concebido e testado em 2010.
Suporte do Inmet no país todo
Meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Danielle Ferreira explica que, apesar de o instituto não fornecer recomendações de forma direta aos tomadores de decisão, dispõe, de uma ferramenta de apoio chamado Sistema de Suporte à Decisão na Agropecuária (Sisdagro). O sistema utiliza informações registradas em uma rede de estações meteorológicas do Inmet, distribuídas em todo o território nacional. “Também oferecemos dados obtidos por modelo de previsão numérica do tempo referentes às variáveis: temperatura, precipitação, umidade relativa do ar, velocidade e direção do vento e radiação solar.
Por meio destes dados meteorológicos, o sistema pode monitorar as condições vigentes de uma determinada cultura até a data da consulta ao sistema, bem como condições previstas para os próximos cinco dias. Também é possível quantificar a perda de produtividade da cultura em porcentagem, penalizando-a em função somente da deficiência hídrica, ou seja, utiliza uma relação matemática que relaciona a queda relativa da produtividade de uma cultura com o déficit relativo de evapotranspiração.
A meteorologista também aponta outra ferramenta importante para o setor agrícola: previsão climática sazonal do Inmet. “De acordo com o comportamento das chuvas e temperatura, as decisões sobre a época de plantio e colheita, tipos de manejo mais apropriados, entre outros, devem ser feitos de acordo com o cenário climático para três meses à frente, de modo que a referida cultura não seja prejudicada por condições climáticas adversas”, pontua.
Ela finaliza dizendo que, de posse destes resultados, os usuários em geral (produtores e extensionistas rurais, técnicos agropecuários e agrônomos, pesquisadores, etc) podem tomar sua decisão, levando em consideração que os fatores climáticos são preponderantes para o sucesso da produtividade agrícola.
Coeficiente de Produtividade Climática é indicador importante
O Coeficiente de Produtividade Climática (CPC) é um indicador que foi desenvolvido pela USP e é calculado pela razão da produtividade de tonelada de cana por hectare, por exemplo da safra atual e a produtividade da safra anterior. A variação normal é de 0,7 a 1,3. Se o CPC for maior que a unidade, o sistema indica melhora no clima da safra atual comparada à anterior.
Por outro lado, se o CPC fica abaixo de um, o resultado é negativo e a tendência é de que o clima da safra atual resulte em condições de produtividade inferiores à safra passada. A USP exemplifica: “se o CPC para uma dada localidade foi de 1,02, o modo correto de interpretar este valor é de que clima dessa safra elevará a produtividade em 2% em relação à safra passada. Se o CPC é igual a unidade, a indicação do Sistema Tempocampo é de que o clima da safra atual vem resultando no mesmo nível de produtividade da safra anterior”.
Efeito estufa precisa ser considerado
O país já conta hoje com tecnologia que monitora de perto o aumento no buraco da camada de ozônio e o efeito estufa dificulta, e muito, a produção agrícola. Entre os fatores que contribuem para este aumento: poluição crescente do ar, desmatamento e uso descontrolado de combustíveis fósseis. O ecossistema do planeta amarga prejuízos e o resultado se reflete, claro na agricultura. O cuidado então é necessário já que, com alta incidência de raios solares a produção agrícola pode se comprometer e ter como consequência, escassez de alimentos.
Canal-Jornal da Bioenergia