A cogeração de energia no Brasil a partir de biomassa, que tem no bagaço e na palha da cana-de-açúcar sua principal fonte, deve apresentar em 2024 o maior aumento de capacidade instalada dos últimos dez anos. A perspectiva, porém, não indica uma trajetória consistente de crescimento, já que o setor vem passando por uma “gangorra”, com alternâncias de anos de aceleração e outros de redução da velocidade de entrega de novas capacidades.
Segundo levantamento da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) com base em dados da Aneel atualizados no último dia 26, a capacidade instalada de cogeração a partir de biomassas que começará a operar neste ano será de 1.125 megawatts (MW), o maior acréscimo de potência desde 2013.
A expectativa para este ano contrasta com o desempenho da cogeração de biomassa em 2023, quando foram instaladas apenas 223 MW de potência com dez novas plantas. A comparação com o resultado de 2023 e a expectativa para 2024 reforçam a tendência que já vem da última década no setor de cogeração, que é um movimento de “gangorra”, afirma Zilmar de Souza, gerente em bioeletricidade da Unica.
“O setor viveu fases de expansão e de retração desde 2007. Entre 2009 e 2010, com a entrada maciça da fonte eólica e solar, a demanda não cresceu na mesma proporção, e acabou diminuindo a expansão ano a ano da fonte de biomassa”, acrescenta.
As capacidades de cogeração a partir da biomassa que entrarão em operação neste ano começaram a ser contratadas há pelo menos um ano e meio, entre 2021 e 2022. Alguns projetos foram vencedores de leilões — em 2019 um leilão com previsão de início de entrega de energia em 2025 (A-6) e em 2021 outros dois (A-3 e A-4). Do total da capacidade de cogeração a partir de biomassa que entrará em operação, 73% foram contratados em leilões, sendo que 34% foram de projetos de cogeração a partir do bagaço da cana.
Se a previsão para 2024 se confirmar, será o terceiro maior acréscimo anual de capacidade instalada com a fonte de biomassa. O recorde foi em 2010, quando entraram em operação usinas de biomassa com potência de 1.750 MW, seguido do ano de 2013 (1.431 MW). Na média do período de 2013 a 2022, o acréscimo anual de capacidade a partir da biomassa foi de 691 MW.
A inconstância do ritmo de investimentos no setor também está relacionado à falta de uma política de leilões regulares e destinados à biomassa, afirma Souza. O último leilão de contratação de energia nova foi em 2022. A falta de leilões reduz a segurança em novos investimentos, já que as contratações no mercado regulado garantem a venda da energia por prazos longos, de 15 a 20 anos, e com correções atreladas à inflação.
O executivo da Unica defende ainda que os projetos de cogeração que vencem leilões oferecem segurança para os investidores e credores das usinas, uma vez que é comum que eles sirvam de garantia para financiamentos para outros investimentos no setor.
Já o mercado livre está sujeito às oscilações do equilíbrio entre oferta e demanda. Os preços do PLD (Preço de Liquidação das Diferenças) no mercado regional do Sudeste estão na média em R$ 61,12 o MWh neste ano, no terceiro ano seguido abaixo da marca de R$ 100 o MWh. Atualmente, 29% de toda a energia gerada a partir da queima de biomassa no Brasil foi vendida no mercado regulado. Apesar disso, os investimentos em novas capacidades de cogeração à biomassa não pararam.
Nos últimos dez anos, os investimentos em novas capacidades alcançaram R$ 35 bilhões, e acrescentaram 5.700 MW de potência ao parque elétrico nacional no período, metade do tamanho da Usina de Belo Monte. Segundo o gerente da Unica, a maior parte dos investimentos são em ampliação de plantas já existentes, como troca de caldeiras ou instalação de novos turbogeradores. Globo Rural