Como a inversão de fluxo afeta projetos de energia solar de pequeno porte?

Especialista  explica como a recente resolução publicada pela ANEEL pode afetar o abastecimento de residências e pequenos comércios

Desde o ano passado, a Resolução 1.098/2024 da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) tem gerado intensos debates no setor energético, especialmente dentro do ecossistema solar. A nova norma dispensa a análise de inversão de fluxo para determinados projetos de micro e minigeração distribuída, mas gera dúvidas sobre seus efeitos. Visando tornar o cenário mais compreensível, Guilherme Feltre, Coordenador de ESG e Novos Negócios da 77Sol, maior ecossistema de energia solar do Brasil, explica como a nova verificação afeta os projetos solares, principalmente os de pequeno porte.

A inversão de fluxo ocorre quando a energia gerada por um sistema fotovoltaico é injetada na rede elétrica e ultrapassa a capacidade de “absorção” da concessionária em determinado momento, fazendo com que a energia “corra no sentido contrário”. Isso pode acontecer em redes que já possuem alta produção de geração distribuída, levando a impactos técnicos, como elevação de tensão e problemas de estabilidade no sistema.
De acordo com o especialista, o grande ponto envolvendo a resolução está justamente aí. “Como uma forma de prevenir que isso aconteça com frequência, algumas distribuidoras passaram a exigir adequações ou impor restrições para novas conexões, o que tem preocupado aqueles que querem investir em energia solar neste ano”, comenta.

Ainda que exista uma inquietação pela variação nas regras de acordo com a concessionária de energia, Feltre explica que, no geral, projetos de menor porte, conectados em baixa tensão e que estejam dentro de faixas de potência específicas devem ser isentos de uma análise aprofundada de inversão de fluxo. Isso significa que, projetos de energia solar voltados para atender residências ou pequenos comércios, devem passar ilesos das novas determinações. “Unidades que utilizam a energia gerada basicamente para autoconsumo instantâneo têm menor risco de qualquer tipo de restrição neste primeiro momento”, avalia.

Apesar da pouca mudança, o executivo ressalta a tendência de que a exigência da análise se torne mais frequente à medida que a penetração da Geração Distribuída cresça. Isso significa que o impacto pode ser significativo daqui algum tempo mesmo para os consumidores de pequeno porte, uma vez que a obrigatoriedade de análise de fluxo pode aumentar a burocracia e o tempo de aprovação dos projetos. “Com mais exigências, podem surgir custos adicionais e/ou inviabilizar alguns projetos, dependendo da localidade e da capacidade da rede”, explica Guilherme.

Diante dessa possibilidade, o coordenador destaca a necessidade de uma abordagem mais estratégica por parte das distribuidoras e órgãos reguladores. “A inversão de fluxo precisa ser tratada como uma oportunidade para modernizar a rede elétrica, investindo em soluções como redes inteligentes e flexibilização do consumo. Em vez de criar barreiras, o setor elétrico precisa evoluir para integrar melhor a geração distribuída, garantindo segurança e eficiência para todos”, conclui. (77Sol)

Veja Também

Energia solar atinge 53 gigawatts no Brasil

De acordo com a ABSOLAR, desde 2012, o setor fotovoltaico gerou mais de 1,5 milhão …