Cotações do etanol diminui mesmo com demanda em alta

Muitas usinas produtoras de etanol formam estoques durante o período de moagem da cana-de-açúcar e apostam na entressafra para escoar o biocombustível por preços mais atrativos — mas, no momento, essa dinâmica não tem surtido o mesmo efeito. O consumo do hidratado, que compete com a gasolina nas bombas, recuperou-se no mercado interno, e a paridade entre os dois combustíveis está favorável ao etanol, mas as cotações do renovável começaram o ano em baixa.

O indicador Cepea/Esalq para o etanol hidratado nas usinas paulistas ficou em R$ 1,8741 por litro na primeira semana do ano, entre os dias 2 e 5 de janeiro, o que representou uma queda de 1,38% em comparação com a semana anterior. No acumulado dos últimos 12 meses, a queda é de 33,28%.

Filipi Cardoso, analista de inteligência de mercado da StoneX, lembra que esse movimento vem acontecendo desde a segunda quinzena de novembro, quando os preços, que estavam na faixa de R$ 2,50 por litro, com referência em Ribeirão Preto (SP), recuaram para R$ 2,30. Ou seja, a entressafra não impediu a queda.

Na avaliação dos pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), parte dos compradores se abastece com produto adquirido via contratos, sem grande necessidade de atuação no mercado físico (spot).

Outro elemento de pressão sobre as cotações, dizem os pesquisadores, é a oferta expressiva. No acumulado da safra 2023/24 até o fim de dezembro, o Centro-Sul produziu 31,4 bilhões de litros de etanol, um volume 14,4% maior que o ciclo anterior, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

O segmento está em uma temporada de produção muito boa. O consumo de etanol, por sua vez, passou a primeira metade de 2023 pressionado por questões tributárias. A demanda pelo biocombustível começou a se recuperar somente no segundo semestre, após o fim da isenção de PIS/Cofins sobre a gasolina.

“Tivemos uma demora muito grande para ter esse aumento na demanda por etanol. Agora, para que o estímulo ao consumo permaneça, os preços têm que seguir baixos. E, naturalmente, as usinas têm que conseguir reduzir os estoques antes do início da safra 2024/25, que deve começar antecipada, em março”, explica o analista da StoneX.

Segundo ele, a perspectiva do segmentos é de que a nova safra seja ainda maior do que a atual. Assim, se as usinas começarem a temporada com muito estoque de etanol, elas vão ter que reduzir muito o preço no próximo ciclo.

Mesmo que em proporção menor, o recuo do etanol reverberou ao longo da cadeia e chegou aos postos. Dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que o preço médio do etanol hidratado nas revendas do país ficou em R$ 3,39 por litro na semana encerrada em 6 de janeiro, ou 0,87% a menos do que na semana anterior.

Vantagens
Nesse patamar, o biocombustível estava economicamente mais vantajoso para o consumidor do que a gasolina em 11 Estados. A análise considera a paridade válida para a média da frota flex brasileira, de 70%.

Nas próximas safras, o crescimento da produção do etanol de milho no país tende a deixar ainda menos espaço para a valorização do etanol durante a entressafra da cana-de-açúcar.

“A moagem de cana no Centro-Sul começa em abril e vai até meados de novembro. O que tem de etanol comercializado depois disso é estoque, mas, nas usinas de etanol de milho, é possível armazenar o grão — e elas operam o ano inteiro. No longo prazo, isso deve trazer alguns impactos para o funcionamento do comércio de etanol”, afirma Vinícius Damazio, especialista em mercado de etanol da Argus.

Ele acredita que, por enquanto, o volume do biocombustível de milho, na casa dos 6 bilhões de litros, não é suficiente para mexer sozinho com a formação de preços no mercado. Mas Damazio concorda que outros fatores já pesam sobre as cotações. “Os preços estão subindo um pouco, descendo um pouco, mas não dando grandes saltos como em outras entressafras”, diz. Globo Rural

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