A presidente-executiva da (Associação Brasileira do Biogás e do Biometano), Renata Isfer, revela o cenário promissor do setor de biogás e biometano no Brasil. Com mais de 10 milhões de metros cúbicos de biogás produzidos diariamente e 11 plantas autorizadas para biometano, o país se prepara para um crescimento acelerado.
Renata destaca que, até o final do ano, 32 novas plantas devem entrar em operação, podendo dobrar a produção atual até 2030. Contudo, desafios como logística, regulamentação da Lei do Combustível do Futuro e ajustes na reforma tributária precisam ser superados.
A executiva também explora o potencial de descarbonização do biometano para frotas pesadas, inovações tecnológicas no setor e o papel estratégico do setor sucroenergético na expansão do biometano. Acompanhe a entrevista completa e descubra como o biogás e o biometano estão moldando o futuro energético do Brasil.
Canal – Jornal da Bioenergia: Qual é a realidade atual e as perspectivas para o biogás e o biometano no Brasil?
Renata Isfer: Atualmente, o Brasil produz mais de 10 milhões de metros cúbicos de biogás por dia e conta com 11 plantas autorizadas para a produção de biometano, gerando cerca de 820 mil metros cúbicos diários. Esse cenário mostra um avanço significativo e o início de um ciclo de crescimento expressivo. Até o final deste ano, espera-se a operação de mais 32 plantas, que estão aguardando autorização da ANP, além de cerca de 30 novos pedidos em análise.
Essas novas plantas têm o potencial de adicionar 1,4 milhão de metros cúbicos de biogás por dia. Nossa expectativa é que, até 2030, a produção atual possa dobrar, atingindo 8 milhões de metros cúbicos diários. Com o desenvolvimento regulatório em curso, o crescimento pode até superar essas previsões, alcançando um potencial de curto prazo de 34 milhões de metros cúbicos por dia.
Canal: Quais são os principais desafios e oportunidades para o setor?
Renata: O setor de biometano está em um momento de aceleração. Sempre houve um enorme potencial, que agora começa a se concretizar. As oportunidades estão na transformação de resíduos – como os de aterros sanitários, resíduos agroindustriais e do agronegócio – em biometano. Isso não apenas resolve um problema ambiental, como também gera renda adicional e promove a economia circular.
Os principais desafios estão na logística e na necessidade de regulamentação da Lei do Combustível do Futuro, que estabelece o certificado de garantia de origem, além de ajustes na reforma tributária. Esses fatores são cruciais para o desenvolvimento sustentável do setor.
Canal: Quais inovações tecnológicas podem impulsionar a produção?
Renata: A tecnologia para produção de biogás gera dois produtos principais: o biogás e o digestato, que pode ser utilizado como biofertilizante ou transformado em carvão biogênico no futuro. O biogás pode gerar energia elétrica, energia térmica, biometano e até SAF (combustível sustentável para aviação).
O biometano, por sua vez, pode ser utilizado na indústria para gerar energia ou como matéria-prima para produzir amônia verde e fertilizantes. Além disso, ele substitui o gás natural em veículos pesados, como caminhões e tratores, contribuindo para a descarbonização do transporte.
As inovações tecnológicas focam em aumentar a produção de biometano com a mesma quantidade de resíduos e em explorar novos combustíveis sintéticos, como metanol verde, SAF e hidrogênio de baixa pegada de carbono, todos essenciais para a descarbonização.
Canal: Como está o uso de biometano em frotas de veículos pesados?
Renata: O biometano é atualmente a solução mais madura e economicamente competitiva para descarbonizar frotas pesadas. Embora o número de caminhões movidos a biometano ainda seja pequeno, há uma tendência crescente de adoção, principalmente no setor agrícola e de resíduos. Usinas de etanol, por exemplo, já consideram utilizar caminhões a biometano para o transporte de seus produtos. Acreditamos que essa tendência se intensificará significativamente nos próximos anos.
Canal: O PATEN trará benefícios imediatos para o setor?
Renata: O PATEN é uma grande oportunidade de financiamento verde, especialmente para pequenos e médios produtores, que frequentemente enfrentam dificuldades com as garantias exigidas em financiamentos tradicionais. Embora ainda não estejam totalmente definidos os detalhes de implementação, foi criado um grupo de trabalho para desenvolver soluções e tornar o PATEN um fator de transformação para a transição energética no Brasil.
Canal: O setor sucroenergético será um grande produtor de biometano?
Renata: Sim, o setor sucroenergético tem o maior potencial de produção de biometano no Brasil e já está liderando o movimento de expansão. Das novas plantas autorizadas até novembro, a maioria é desse setor. Nos próximos anos, espera-se um aumento significativo na participação das usinas sucroenergéticas na produção de biometano, agregando valor ao setor como um todo.
Canal: Qual é a importância do biogás e do biometano para o futuro energético do Brasil?
Renata: O biogás e o biometano são fundamentais para o futuro energético do Brasil. Eles desempenham um papel crucial na descarbonização de setores difíceis de eletrificar, como transporte, agricultura e indústria. Além disso, ajudam na estabilidade do sistema elétrico, principalmente nos horários de pico de consumo.
Na agricultura, o biometano pode reduzir emissões relacionadas ao frete e aos fertilizantes. Na indústria, pode ser utilizado tanto para geração de energia quanto como matéria-prima. Além de contribuir para a sustentabilidade, o biogás e o biometano substituem combustíveis fósseis importados, promovendo a autossuficiência energética e gerando renda local.
Em termos de políticas públicas, a regulamentação do Combustível do Futuro e a reforma tributária são essenciais para garantir competitividade aos biocombustíveis. Estados também estão avançando com licenças ambientais mais ágeis e isenções de ICMS. No entanto, é necessário resolver o impasse do “ovo e da galinha” no abastecimento de veículos: a demanda limitada por caminhões a biometano desincentiva o investimento em infraestrutura de abastecimento, e vice-versa. Esse é um ponto crítico para o crescimento do setor.