Crise energética: medidas a curto prazo e a corrida pela biomassa

Na atual crise energética, o aumento na tarifa de energia pesa no bolso do consumidor e das empresas, além de ambos sofrerem com um possível racionamento. A justifica é que a falta de água nas hidrelétricas desencadeou o uso das termelétricas, que possuem um custo elevado de produção. Numa rápida comparação, a diferença no custo é dez vezes maior, ou seja, enquanto numa hidrelétrica o custo médio é de 100 reais por megawatt hora, na queima de diesel esse valor chega a 1.000 reais para gerar a mesma quantidade de energia.

Além de pagar mais caro, ainda há o risco do racionamento. Diante desse cenário caótico, que envolve a sociedade civil, as empresas e o governo, como medida de curto prazo e que está ao alcance de todos nós, está uma severa mudança de rotina, que começa dentro de casa. A exemplo do racionamento ocorrido em 2001, fomos obrigados a economizar 20% do consumo de energia ou pagaríamos uma multa sobre esse valor. E foi possível atingir a meta de redução de consumo, tornando essa rotina um hábito.

Pequenas atitudes podem trazer grandes impactos, como tirar da tomada alguns eletrodomésticos e eletrônicos sem uso; trocar equipamentos antigos por novos para melhorar a eficiência energética; adotar lâmpadas de Led; reduzir o tempo no banho; apagar as luzes ao deixar o ambiente, assim como trocar a borracha da geladeira se estiver solta para diminuição de consumo. Adotar novos hábitos, na época, reduziram para 80% a carga energética do País, situação que permaneceu por alguns anos.

No médio prazo, entram as empresas com investimentos em novas opções de energias renováveis, considerando o cenário de baixa hidrologia dos últimos anos e ao cenário internacional. A procura pela biomassa virou a principal corrida entre empresas e indústrias que possuem caldeiras. Porém, a principal fonte desse recurso, que é a segunda na matriz energética brasileira, vem da cana de açúcar que, em período de entressafra, oscila e não sustenta a demanda, além de estar com sua capacidade instalada esgotada. Esse aumento de procura pela biomassa está no centro da razão pela qual o seu valor tem subido de forma expressiva e sustentada, mostrando que os investimentos nesta área são uma ótima opção.

Um caminho para suprir essa demanda seria o desenvolvimento de termoelétricas com o uso de resíduos, como sofás, madeiras de obras e galhos, entre outros sólidos, que é um material infinito, pois aumenta seu volume a cada dia, porém, pouco utilizado para este fim, mesmo tendo um aproveitamento de 100%. Esse processamento pode ser destinado a caldeiras de biomassa para produção de vapor e energia, além de endereçar um problema ambiental grave, transformando o lixo em energia renovável.

Uma termoelétrica demandaria apenas dois anos para entrar em operação e traz a garantia de um constante combustível, pois existem inúmeras fontes de processamento de resíduos, lembrando que o Brasil produz cerca de 150 mil toneladas de resíduos por dia de grandes volumes, que poderia gerar 6,4 mil megawatts de energia, ou seja, 3,64% da capacidade instalada no País. Além disso, é um investimento atrativo, pois o retorno financeiro ocorre em até três anos.

As ações precisam ser imediatas, pois os riscos dessa crise vão afetar a economia e seu crescimento, inclusive de 2022. Este é um problema de todos nós e, além de fazermos nossa parte e serem criadas condições para alternativas, também é preciso pensar na permanência de nossos preciosos bens, que são a energia e a água.

*Felipe Barroso é diretor-presidente da Transforma Energia, primeira empresa brasileira a desenvolver um projeto que atende em 100% o novo marco regulatório de tratamento e destinação final de resíduos.

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