Custos seguem em elevação

Ter controle de gastos é fundamental em qualquer empresa. Nas usinas, também é importante saber quanto é investido em cada área e ter um controle rígido dos custos de produção da cana-de-açúcar, do etanol e do açúcar.  Principalmente nesse período que o setor sucroenergético brasileiro passa por um momento delicado, ainda engatinhando para se recuperar de uma pesada crise que provocou o fechamento de várias empresas em toda a cadeia produtiva.

Plínio Nastari, da Datagro Consultoria, diz que os custos continuam crescendo, em consequência do aumento nos salários e do elevado preço de insumos importantes, como os fertilizantes e o diesel. “Um indicador da crise é o tamanho do endividamento do setor, estimado atualmente em cerca de 75 bilhões de reais”, exemplifica.

O presidente da Comissão Nacional de Cana-de-açúcar da CNA, Ênio Fernandes, complementa que o preço do etanol está estabilizado desde 2008. “Devido à dependência do governo, os empresários concentraram na produção de açúcar, assim, há muito produto no mercado e o preço atual de comercialização é o pior dos últimos 15 anos”.

Segundo o levantamento de Custos de produção de Cana-de-açúcar, Açúcar e Etanol no Brasil do Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (Pecege), grupo de Extensão da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), realizado desde de 2008, os custos de produção da safra tiveram tendência de variação anual acima de 9 % na região de Expansão do Brasil – compreendida pelos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

 “Considerando a tendência de variação anual e a acumulada, nota-se que os preços pagos pela cana de fornecedores nas últimas sete safras, bem como os custos de produção de cana produzida pela própria usina e os produtos industriais, apresentaram variabilidade similar no período analisado”, explicam os pesquisadores do Pecege, Aline Bigaton, André Danelon e Haroldo Torres. Os custos com a produção da cana-de-açúcar foram ligeiramente superiores aos da produção industrial, indicando um maior impacto no setor agrícola.

Para se mensurar, por exemplo, o preço pago pela cana para os fornecedores subiu entre a safra 2007/2008 a 2013/2014, 75,1%. Na primeira, o valor por tonelada era de R$ 35,41, agora, atingiu a casa de R$ 61,98.

Outros importantes aumentos podem ser conferidos no quadro (box na página ao lado). Assim, os valores são superiores aos índices de inflação como, por exemplo, o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), que foi de, aproximadamente, 6,16% a.a. no período.

No setor agrícola, a mecanização das lavouras foi o item de maior pressão nos custos do setor sucroenergético. As análises do Pecege confirmam que processo de mecanização da lavoura torna-se rentável para canaviais com alta produtividade. Com isso, o setor precisou investir nos últimos anos mais intensivamente na formação de seus canaviais. “Entre as safras 2009/10 e 2013/14 a mecanização da lavoura saltou de 65% para 96%, enquanto que a produtividade não acompanhou o crescimento”, pontuam os pesquisadores.

Essa baixa produtividade pode ser comprovada pela redução da taxa de ATR – concentração de açúcar na planta -, fundamental para a alta produtividade, seja de etanol, seja de cana. Na safra 2013/2014 o teor de ATR em Kg/t de cana na área de Expansão foi de 133,26, em comparação com a safra 2007/2008, representa uma redução de 10,1%. Durante esse período os números sofreram alterações, chegando em 2009/2010 a atingir o menor patamar, de 132,91.

O levantamento

Desde 2008, cerca de 200 usinas participaram do levantamento de custos do Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (Pecege), grupo de Extensão da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Todas as usinas brasileiras são convidadas anualmente para participar da pesquisa. Como resultado, na safra 2013/2014, 98 agroindústrias, responsáveis pelo processamento de 213 milhões de toneladas de cana, ou seja, aproximadamente um terço da produção nacional, preencheram os questionários da pesquisa.

A indústria

No âmbito industrial, os custos de mão de obra impactaram a produção agroindustrial. Os reajustes do salário mínimo causaram grandes impactos, superando a casa dos 40% de acréscimo. O custo da mão de obra no setor industrial subiu 41,5% na safra 2013/2014 em comparação a 2009/2010. Já no setor administrativo das usinas, esse reajuste foi de 62,1% superior ao mesmo período.

Para o presidente da Comissão Nacional de Cana-de-açúcar da CNA , os custos trabalhistas foram superiores em proporção ao aumento da produção. Em 2008, o salário mínimo era R$ 415, já em 2015, chegou a R$ 788, um aumento de quase 90%. “Quando há aumento de salário todos os encargos também sobem”, explica Fernandes. “As alterações na legislação trabalhista também influenciaram no acréscimo de custo.”

Assim, a pressão do aumento de custos das operações agrícolas extrapolou o efeito da variação de produtividade agrícola e causou aumento da matéria-prima e, consequentemente, dos custos agroindustriais. O valor pago para insumos, por exemplo, em 2013/2014 é mais de 14% superior a safra de 2009/2010.

O dólar

Para os pesquisadores do Pecege, a desvalorização cambial traz benefícios para o agribusiness brasileiro, em especial para a exportação. O câmbio favorece o fechamento de contratos para exportação do açúcar e pode impactar, em partes, os custos de produção. Mas, essa alteração de câmbio também pode ser danosa. Para Nastari, a desvalorização do real é, a médio e longo prazo, benéfica para o setor, mas a alta dos juros impacta enormemente, em especial devido ao seu nível de endividamento  que é elevado. O câmbio complica a situação das usinas que possuem dívidas dolarizadas, reduzindo o caixa, encarecendo importações e investimentos e elevando ainda mais a dívida.

Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia

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