Desafios e oportunidades na produção de etanol em Goiás: a perspectiva de Pedro Leonardo Rezende

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Nesta edição do Cana – Jornal da Bioenergia, conversamos com o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Pedro Leonardo Rezende, sobre a relevância da cana-de-açúcar e do milho para a produção de etanol em Goiás. Com uma safra promissora estimada em 76,6 milhões de toneladas de cana e uma produção significativa de etanol de milho, Goiás se destaca no cenário nacional.

Rezende aborda os desafios enfrentados pelos produtores, as inovações tecnológicas adotadas e as iniciativas governamentais que promovem a sustentabilidade e eficiência na produção agrícola. Acompanhe a entrevista e descubra como essas culturas impactam a economia e o desenvolvimento social do estado.

Cana – Jornal da Bioenergia: Segundo a Conab, a safra de milho em Goiás deve reduzir. Já a de cana a expectativa aponta para uma produção estimada de 76,6 milhões de toneladas de cana em Goiás na safra de 2023/24.  Qual a importância da cana-de-açúcar e do milho como matérias-primas para a produção de etanol em Goiás?

Pedro Leonardo Rezende: A cana-de-açúcar e o milho são essenciais para a produção de etanol em Goiás, ajudando a diversificar nossa matriz energética e impulsionar a economia do estado. A cana-de-açúcar, historicamente, é a principal matéria-prima para o etanol, com alta produtividade e um ciclo de produção bem estabelecido. Em Goiás, somos o segundo maior produtor de etanol de cana-de-açúcar do país, com 4,72 bilhões de litros na safra 2024/25, representando 17,3% da produção nacional.

Por outro lado, o milho está se destacando como uma alternativa promissora. Com maior rendimento por tonelada de matéria-prima e a possibilidade de produção durante a entressafra da cana, o etanol de milho tem crescido significativamente. Goiás é o terceiro maior produtor de etanol de milho, com 686 milhões de litros na safra 2024/25, representando 10% da produção nacional. Além disso, a produção de etanol de milho gera coprodutos valiosos como o DDG – ou grãos secos de destilaria –, utilizados na alimentação animal.

Canal:  Como a produção dessas culturas tem evoluído nos últimos anos no estado?

Pedro Leonardo: A produção de cana-de-açúcar tem se mantido estável, com uma leve queda de -1,2% na produção da safra 2024/25, totalizando 75,7 milhões de toneladas, o que reafirma a importância contínua da cana para nosso setor sucroenergético. Em relação ao milho, a produção vinha crescendo nos últimos anos devido à demanda por etanol e à expansão da área plantada. Contudo, a Conab prevê uma redução na safra 2023/24 para 10,7 milhões de toneladas, em função da diminuição da área plantada (-13,7%) e uma leve queda na produtividade (-1,7%).

Canal:  Quais são os principais desafios enfrentados na produção de etanol a partir dessas matérias-primas?

Pedro Leonardo: Para a cana-de-açúcar, os principais desafios são a dependência de condições climáticas favoráveis, a necessidade de renovação dos canaviais, a gestão de pragas e doenças, e a busca por variedades mais produtivas e resistentes. A queda de 2,3% na produtividade da cana-de-açúcar na safra 2024/25, conforme relatado pela Conab, reflete esses desafios.

No caso do milho, enfrentamos a volatilidade dos preços no mercado internacional, a competição com outras culturas e a necessidade de garantir a segurança alimentar, já que o milho é vital para a alimentação humana e animal. A redução na área plantada e na produção de milho na safra 2023/24 é o que evidencia esses desafios.

Canal:  Quais tecnologias e inovações estão sendo implementadas para melhorar a eficiência e a sustentabilidade na produção de cana e milho?

Pedro Leonardo: A Secretaria de Agricultura de Goiás está empenhada em modernizar e tornar sustentável a produção agrícola da cana e do milho, promovendo ativamente a adoção de tecnologias inovadoras. Entre as ferramentas destacam-se a agricultura de precisão, que otimiza o uso de recursos como água e fertilizantes por meio de sensores, drones e softwares, além do desenvolvimento de variedades mais produtivas e resistentes a pragas e doenças, adaptadas às condições climáticas de Goiás.

Outras iniciativas incluem o manejo integrado de pragas com controle biológico, a implementação de sistemas de irrigação eficientes como gotejamento e microaspersão, e a utilização de biotecnologia para desenvolver plantas mais resistentes e melhorar a eficiência na produção de etanol. Essas ações visam promover uma agricultura mais moderna, sustentável e competitiva no estado.

Canal:  Há incentivos ou programas governamentais que apoiam os produtores na adoção dessas tecnologias?

Pedro Leonardo: O Governo de Goiás oferece diversos incentivos para apoiar os produtores na adoção dessas tecnologias. Entre eles, estão linhas de crédito com juros reduzidos, assistência técnica e capacitação. Um exemplo recente é o Projeto de Lei n° 374/2024, que visa estabelecer benefício fiscal para os estabelecimentos industriais que produzem etanol hidratado combustível no estado, independentemente da matéria-prima utilizada. Além disso, investimos constantemente em pesquisa e desenvolvimento para criar tecnologias e soluções para o setor sucroenergético.

Canal:  Quais iniciativas estão sendo adotadas para promover a sustentabilidade na produção de cana e milho?

Pedro Leonardo: A Secretaria de Agricultura tem promovido a sustentabilidade na produção de cana e milho por meio de diversas iniciativas, com destaque para a Política Estadual de Bioinsumos e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). A Política Estadual de Bioinsumos, instituída pela Lei nº 21.005/2021, visa ampliar a adoção de práticas sustentáveis no setor agropecuário, incentivando o uso de bioinsumos e sistemas de produção que respeitem as dimensões econômica, ambiental e social. Já a ILPF busca intensificar práticas sustentáveis no campo, recuperando áreas degradadas e integrando sistemas produtivos diversificados na mesma propriedade, com benefícios para todas as atividades.

Além disso, a Secretaria também incentiva outras práticas sustentáveis, como o plantio direto, a rotação de culturas, o manejo integrado de pragas e doenças, o uso eficiente da água e a geração de energia renovável a partir da biomassa da cana e do milho. Essas ações conjuntas visam garantir a produção de alimentos de forma responsável, preservando o meio ambiente e promovendo o desenvolvimento econômico e social do estado.

Canal:  Qual é o impacto econômico da produção de cana-de-açúcar e milho para a economia de Goiás? Assim, quais são os benefícios sociais decorrentes do crescimento dessas culturas no estado?

Pedro Leonardo: A produção de cana-de-açúcar e milho tem um impacto econômico expressivo em Goiás, gerando empregos e renda. O setor sucroenergético é um dos principais motores da economia do estado, contribuindo para o desenvolvimento de diversas regiões. Ocupamos o terceiro lugar na produção nacional de etanol total, com 5,4 bilhões de litros na safra 2024/25, representando 15,8% da produção nacional.

Os benefícios sociais incluem a geração de empregos diretos e indiretos, o aumento da renda da população rural, o desenvolvimento de infraestrutura e a melhoria da qualidade de vida nas comunidades produtoras. O etanol produzido em Goiás abastece o mercado interno e também é exportado para países como Índia, Estados Unidos e Austrália.

Canal:  Quais são as principais mensagens que a Secretaria de Agricultura de Goiás gostaria de transmitir aos produtores e à população sobre o futuro da produção de cana e milho no Estado?

Pedro Leonardo: Reafirmamos nosso compromisso com o desenvolvimento sustentável do setor sucroenergético, incentivando a adoção de tecnologias e práticas que aumentem a eficiência, produtividade e sustentabilidade na produção de cana e milho. Nosso objetivo é consolidar Goiás como um importante polo produtor e exportador de etanol, gerando benefícios econômicos e sociais para toda a população.

Destacamos também a importância de investir em pesquisa e desenvolvimento para enfrentar os desafios do setor, como a busca por variedades mais resistentes a pragas e doenças, o uso eficiente da água e a redução da dependência de fertilizantes químicos. Continuaremos promovendo a diversificação da matriz energética, incentivando o uso de biocombustíveis e outras fontes de energia renovável.  (Canal- Jornal da Bioenergia)

 

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