Quando se fala em fogo, todo cuidado é pouco. Em áreas de grandes plantações, esses cuidados devem ser ainda maiores, principalmente durante o período de seca. Há alguns anos, a queima controlada fazia parte do calendário dos produtores de cana-de-açúcar, atividade hoje quase extinta graças à mecanização. Entretanto, os acidentes e crimes relacionados a isso ainda merecem atenção daqueles que querem evitar prejuízos no campo.
De acordo com informações do Corpo de Bombeiros do Estado de Goiás, segundo maior produtor de cana do Brasil, atualmente há um número considerado baixo de atendimentos a incêndios nos canaviais pela corporação, já que essas ocorrências costumam ser resolvidas pelas brigadas de incêndio das próprias usinas.
O capitão dos Bombeiros de Goiás, Willian Alvez Diniz Júnior, explica que um dos grandes prejuízos dos incêndios, na prática, são mortes de animais que estão dentro do canavial, principalmente quando a queima ocorre a favor do vento e em linhas opostas. “A queima, desde que autorizada, deve ser controlada e em linhas transversais (queima em L), para permitir a fuga de animais”. Além disso, há riscos de propagação para outras propriedades, acidentes em rodovias devido a fumaça, queima de maquinários agrícolas, queima de áreas de preservação, e o risco secundário de problemas respiratório para pessoas.
De acordo com o capitão Willian, a prevenção se dá por meio da construção de aceiros adequados para controle de incêndios e às margens das rodovias; colheitas com acompanhamentos de caminhão de combate a incêndio e cuidados com ações criminosas. As ações do Corpo de Bombeiros nesse sentido são o gerenciamento de planos de auxílio mútuo entre usinas das regionais, auxílio na construção de aceiros na queima controlada, campanhas educativas para evitar incêndios às margens da rodovia e comando do incidente.
Segundo as estatísticas do Corpo de Bombeiros, foram atendidos em Goiás 42 chamados nos canaviais no ano de 2015, sendo que, neste ano, por enquanto, foi apenas um. Para se fazer uma comparação, nas plantações de milho e arroz foram 55 atendimentos em 2015 e nenhum neste ano.
Prevenção
Marcos Matos, diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto (Abag/RP), relembra que o ano de 2014 foi caracterizado pela crise hídrica, principalmente em São Paulo, o que desencadeou um alto índice de incêndios. “Isso ocorreu devido a alta quantidade de ventos, baixa umidade e grande quantidade de biomassa no solo”.
Por isso, a Associação criou um comitê de campanha para estabelecer a melhor estratégia de informar sobre a diferença de incêndios e queima controlada. “Os incêndios causam prejuízos para o cidadão, o produtor e o meio ambiente. As causas podem ser desconhecidas ou criminosas”, ressalta Marcos. Ao contrário do que se fazia há alguns anos, as queimadas nos canaviais não são mais comuns, isso graças à mecanização da lavoura.
Durante a campanha, realizada de julho a novembro de 2014, os resultados junto à comunidade foram positivos. Com o novo quadro de instabilidade climática em 2016, a entidade está novamente engajando o setor produtivo e convocando todos os participantes das linhas estratégias para atuar neste ano.
O ano de 2015 fechou com 93% das usinas paulistas mecanizadas. As queimadas controladas ainda podem ser realizadas por pequenos produtores e plantações em áreas íngremes.
É preciso que sejam desenvolvidas ações de prevenção rotineiramente, já que os prejuízos dos incêndios nos canaviais podem ser imensos devido ao fato de que a cana produz muita biomassa – chegando a 100 toneladas por área por hectare. “A matéria orgânica é um combustível. Pela quantidade de biomassa que tem no solo, qualquer acidente ou ação criminosa ganha grandes proporções”, diz Marcos.
Usinas
No sentido de minimizar possíveis problemas relacionados ao fogo, muitas usinas mantém em sua estrutura um setor destinado à prevenção de incêndios. Exemplo disso é a Raízen, que monitora diariamente os canaviais para prevenir e combater eventuais incêndios de origem desconhecida ou acidental.
“Todas as unidades de produção contam com uma equipe extremamente qualificada de brigadistas de incêndio, que atualmente é composta por 1.633 funcionários e 189 caminhões pipas voltados exclusivamente para este fim e que oferecem um serviço de proteção 24 horas. A empresa também mantém um forte relacionamento com o corpo de bombeiros das regiões onde atua, inclusive realiza treinamentos em parceria com eles”, explica o gerente de logística agroindustrial da Raízen, Ian Erhard Dobereiner.
O gerente comenta que, atualmente, todas as unidades da companhia participam ativamente, de acordo com sua localidade, do Plano de Auxílio Mútuo Externo (Pame) – sistema de cooperativismo nas ações de grandes emergências, ou da Rede Integrada de Emergências (Rinen), que trabalha na mesma linha e objetivo. Outra ação que conta com o apoio e participação da Raízen é a Campanha Institucional de Conscientização, Prevenção e Combate aos Incêndios, liderada pela Abag/RP.
Ana Flávia Marinho-Canal-Jornal da Bioenergia