O Ministério de Minas e Energia (MME) deu início aos testes do projeto-piloto de geração de energia solar em reservatórios de hidrelétricas. De acordo com o ministro Eduardo Braga, deve haver uma política pública de financiamento para esses projetos na Região Sudeste.
Flutuadores com placas solares vão ser colocados em grandes reservatórios, sendo o primeiro a Usina Hidrelétrica de Balbina, no Amazonas. Isso porque, segundo o ministro, o ambiente é favorável graças a grande área alagada com reduzida geração de energia.
O custo nos leilões de energia fotovoltaica atualmente fica entre R$ 190 e R$ 210 o megawatt, segundo Braga. A expectativa é que esse custo com os flutuadores fique entre R$ 220 a R$250 o megawatt, em função do custo adicional desses equipamentos.
Com a implantação do projeto, a energia será captada dentro dos reservatórios usando subestações e linhas que já existem, o que é visto como uma vantagem pelo ministro, já que deve haver uma resposta de geração muito rápida. Isso resulta em ganho de eficiência.
De acordo com o analista de tecnologia e inovação do Instituto Senai de Tecnologia em Automação de Goiás, César Jahnecke, o projeto tem chances reais de dar certo. “Acredito que, se não esbarrar nos entraves de fornecimento das boias com painéis solares por parte de alguma empresa e nos custos desta operação, o projeto poderá apresentar resultados positivos.”
Projeto
Conforme explica Jahnecke, tecnicamente o Brasil é um país propício para que esse projeto se desenvolva, já que os lagos para geração de energia têm imensas áreas de “espelho de água”, a infraestrutura de transmissão e distribuição das usinas hidrelétricas poderá ser aproveitada e o índice solarimétrico do Brasil é um dos maiores do mundo.
“Uma questão que pode causar dificuldade é o fornecimento das boias com painéis solares. O plano do Governo Federal deve envolver a utilização de tecnologias internacionais: um sistema criado em parceria entre França e China ou um sistema criado em parceria entre Japão e Alemanha. Acredito que a escolha dos fornecedores e uma possível exigência de transferência de tecnologia poderiam ser entraves para o projeto”, diz. Na opinião do analista, esse projeto poderia fazer parte de um programa nacional destinado às energias sustentáveis, visando desenvolver a indústria nacional do setor.
Outro ponto fraco destacado por Jahnecke está relacionado ao custo da produção de energia fotovoltaica, que ainda é elevado. Além disso, o tempo de implantação dos parques fotovoltaicos pode ser alto – pois a quantidade mão de obra especializada ainda é pequena-, e há indefinições sobre qual tecnologia importada utilizar e sobre questões de transferência tecnológica para propiciar o desenvolvimento da tecnologia fotovoltaica no Brasil.
Jahnecke afirma que o projeto pode ser mais um incentivo ao setor. “Entendo que esse projeto seja uma continuidade para ‘popularizar’ a tecnologia e suprir deficiências de fornecimento de energia elétrica.” Para o futuro, o analista deseja ainda que a ação sirva de incentivo para que as indústrias nacionais de painéis solares melhorem a eficiência de seus produtos para concorrerem de maneira competitiva no mercado nacional e internacional, além de incentivar a maior formação de mão de obra especializada para o setor.
Ana Flávia Marinho-Canal-Jornal da Bioenergia