A energia solar fotovoltaica permite que casas, prédios e empresas produzam a própria energia. Mas o campo agora também percebeu que esta tecnologia pode agregar muito valor a sua produção, além de reduzir a tarifa de energia elétrica.
Hoje no Brasil, 747 consumidores rurais são cadastrados no sistema como produtores de energia limpa a partir do sol, que representa 12,2 Megawatts de energia distribuída, que é 5,4% de toda a potência instalada no país. Os dados são da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
Os agricultores podem gerar energia o suficiente para alimentar toda a propriedade e ainda fornecer ao sistema elétrico nacional, gerando os chamados créditos energéticos, que podem ser utilizados por até 60 meses, na própria unidade geradora ou em outras unidades consumidoras, dentro da área de abrangência da concessionária e desde que as contas estejam no mesmo CPF ou CNPJ.
Ao optar por investir em energia solar, o homem do campo consegue obter benefícios, sendo o principal deles, economizar na conta de luz, conseguindo reduzir o valor da fatura em até 95%, pagando somente a taxa mínima, também chamada de taxa de disponibilidade de rede, uma vez que o sistema é conectado à concessionária local.
As aplicações no campo são inúmeras, mas o presidente-executivo da Absolar, Rodrigo Lopes Sauaia, destaca o bombeamento de água para o abastecimento de animais ou para tanques de piscicultura, além da irrigação – seja para resfriamento de equipamentos, seja para lavouras. Também para vigilância, telecomunicação, secagem e tantas outras ações.
“A energia solar está crescendo no campo. O produtor descobriu a tecnologia como uma alternativa para reduzir custos com a regulamentação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Annel) desta fonte em 2016”, explica Sauaia. A CEO da SS Solar, CatiaStoyan, complementa que a regulação e consequentemente, as linhas de financiamento, foram marcos para este crescimento. “O do setor agropecuário brasileiro depende da energia para crescer ainda mais”, explica.
O uso da energia solar fotovoltaica traz a independência energética da propriedade, além de permitir uma construção de imagem de uma marca compromissada com o meio ambiente. Porém, para o presidente executivo da Absolar, o principal fator favorável do uso da energia solar fotovoltaica no campo é a previsibilidade dos custos com a energia elétrica nos próximos 25 anos, que é o tempo de vida útil do equipamento. “O agricultor já enfrenta as incertezas do clima e, atualmente, também as da instabilidade energética. Com a geração na propriedade ele consegue ser autossuficiente e não depender das tarifas das concessionárias de energia elétrica, que sobem anualmente”, orienta.
O diretor da Solar Volt, Gabriel Guimarães, complementa que os custos de operação e manutenção das placas são muito baixos e envolvem a limpeza dos painéis no período seco de duas a três vezes ao ano. “Além disso, as garantias dos equipamentos de primeira linha são de 25 anos de geração, o que torna o sistema um investimento seguro e rentável”, explica.
A tecnologia também permite que as propriedades rurais, que são localizadas longe das redes convencionais, produzam sua própria energia. “A energia solar fotovoltaica é uma solução viável e natural para unidades que dependiam do uso de motor a diesel para ter energia”, pontua Catia. O motor a diesel, além de ser poluente, tem custo de manutenção. O diesel está caro e ainda tem um alto valor de deslocamento ser levado a unidade rural.
As placas solares fotovoltaicas podem ser instaladas em inúmeros lugares em uma propriedade rural. Telhados e coberturas de edificações, como silos, currais, área de abatimento de gado ou produção de leite e em casas, mas também pode ser uma área de solo degradado. “O objetivo é aproveitar as áreas de pouco uso”, revela Rodrigo.
A respeito dos custos, Gabriel afirma que o dimensionamento do sistema adequado depende da quantidade de energia que deverá ser gerada para atender o percentual desejado de economia na conta de energia. “O valor do investimento pode variar de R$ 15 mil para uma pequena casa a mais de R$ 100 mil para grandes propriedades”, esclarece.
Auxílio
Atualmente o produtor rural possui inúmeras possibilidades de conseguir uma linha de financiamento. Existem o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Mais Alimentos e o Pronaf Eco, com prazos de 10 a 12 anos; no Banco do Brasil o agricultor tem o Programa Agro Energia; já na região Centro-Oeste há possibilidade de financiamento pelo Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO); na região Norte destaca-se no Banco da Amazônia com o FNO Energia Verde; no Nordeste o FNE Sol. Também há linhas de financiamento pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e pelos bancos convencionais.
Mesmo com o alto investimento, que com o passar dos anos está reduzindo, a Absolar acredita que o retorno do que se gasta seja convertido entre cinco a sete anos.
O diretor Solar Volt pontua que o tempo necessário para que a instalação se pague – o chamado retorno do investimento – está cada dia menor. “Para chegar a ele, de maneira simplificada, basta dividir o custo total do sistema pelo valor da economia mensal na conta de luz após a devida instalação, considerando nesse cálculo a variação anual com os reajustes das contas”, orienta.
Centro – Oeste
A Fazenda Figueiredo das Lages, em Cristalina(GO), no entorno do Distrito Federal, aderiu ao sistema solar fotovoltaico. A lagoa artificial, que é abastecida com águas das chuvas por captação dos telhados dos galpões da fazenda e é utilizada para irrigação, recebeu 1.150 painéis fotovoltaicos. Hoje, com alguns meses em funcionamento a energia solar é responsável por 30% do consumo da propriedade.
Segundo o proprietário da fazenda, Luiz Carlos Figueiredo, o projeto piloto que abastece o sistema leiteiro já ameniza a conta de energia de cada mês. “Por ser flutuante, o projeto ficou um pouco mais caro que os tradicionais instalados no telhado, mas se pagará em um período em longo prazo”, reflete.
Além de gerar energia, que é acompanhada diariamente, as placas flutuantes também permitem a redução sensível de perda de água da lagoa, impedindo até 70% da evaporação da água.
Figueiredo não quer parar por aí. O proprietário rural já pensa em, no futuro, instalar placas solares nos telhados da unidade rural para aproveitar o sol e gerar energia. “A tendência do mercado atual é melhorar os custos do sistema solar fotovoltaico”.
Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia