Energia solar : por que não aproveitar?

Por Rodrigo Sauaia*

Considerado um dos feitos mais notáveis da história militar da Segunda Guerra Mundial, a Operação Dínamo resgatou mais de 338 mil soldados das forças aliadas, encurralados por tropas alemãs na costa de Dunquerque, no norte da França. O resgate dos soldados não poderia ser feito por grandes embarcações militares, pois seriam alvos fáceis dos caças alemães.

Diante do impasse, o governo britânico fez o inesperado: convocou a população da região para ajudar na retirada das tropas, usando pequenas embarcações civis. A sociedade atendeu prontamente ao pedido, garantindo o sucesso da missão e salvando a vida de centenas de milhares de pessoas. O episódio, retratado no filme Dunkirk, mostra como a criatividade, a ousadia e a força do coletivo são fundamentais na superação de crises aparentemente insolúveis.

Atualmente, o Brasil enfrenta outro tipo de crise: a falta de chuvas esvaziou os reservatórios das hidrelétricas, obrigando o acionamento em massa de termelétricas fósseis, muito mais caras e poluentes. A situação também aumentou a dependência da nossa nação, pois tivemos de passar a importar energia elétrica gerada na Argentina e no Uruguai, a preços exorbitantes. Encurralados com bandeira vermelha e uma conta de luz cada vez mais salgada, os consumidores brasileiros anseiam pelo resgate.

Parte da solução para o problema está diante de nós, basta olhar para o céu. A geração própria de energia solar é forte aliada do Brasil para superar a atual crise hídrica. Sistemas solares em telhados e pequenos terrenos já representam mais de 40% de toda a potência instalada da usina hidrelétrica de Itaipu, a segunda maior do mundo. A energia solar também tem ajudado o Brasil a diversificar seu suprimento de eletricidade, aliviando a pressão sobre a água escassa e reduzindo os riscos de racionamento e de bandeira vermelha na conta de luz.

Trata-se de energia limpa, barata e sustentável, que é gerada justamente no horário diurno, período em que os brasileiros mais precisam e usam este recurso. Usinas solares de grande porte, contratadas em leilões, por exemplo, geram eletricidade a preços até dez vezes menores do que as termelétricas fósseis ou a energia elétrica importada dos países vizinhos.

Assim, fica a pergunta no ar: por que o governo federal não está aproveitando mais o recurso valioso da energia solar, sobretudo na geração própria, feita por pessoas, pequenos negócios e produtores rurais? Continuamos atrasados nesse fronte, pois dos mais de 87 milhões de consumidores de energia elétrica do País, menos de 0,7% usa o sol para produzir eletricidade.

Desde 2012, a geração própria de energia solar trouxe ao país mais de R$ 30,6 bilhões em novos investimentos, feitos diretamente pelos consumidores. Com isso, gerou 180 mil empregos no Brasil neste período.

Dos atuais 6,1 gigawatts (GW) de potência instalada solar em telhados e pequenos terrenos do país, mais de um terço foi implantado em 2020. Mesmo diante da pandemia de COVID-19, o setor seguiu batalhando, sem depender de recursos do governo, com impressionante resiliência. Graças à versatilidade e agilidade da tecnologia solar, basta um dia de instalação para transformar uma residência ou empresa em uma pequena usina geradora de eletricidade limpa, renovável e acessível. Para uma usina solar de grande porte, são menos de 18 meses desde o leilão até o início da geração de energia elétrica. A solar é reconhecidamente campeã na rapidez de novas usinas de geração.

Em Dunkirk, os cidadãos britânicos atenderam ao chamado, enfrentaram a crise de frente e tiveram papel fundamental no sucesso da Operação Dínamo. No cenário brasileiro atual, a oportunidade da energia solar está diante de nós: com o esforço coletivo e a livre iniciativa da sociedade brasileira, o Brasil poderá avançar mais rápido na diversificação da matriz elétrica.

Energia elétrica competitiva e limpa é imprescindível para o País recuperar a sua economia e conseguir crescer, como projetam especialistas, gerando novos empregos, renda e oportunidades aos cidadãos. Assim como ocorreu com os britânicos na Operação Dínamo, é chegada a hora de um chamado do governo brasileiro, com programas e políticas públicas para acelerar a energia solar. A população e os setores produtivos certamente responderão e ajudarão o Brasil a superar a crise hídrica que nos ameaça, com mais energia solar nos seus telhados. Artigo publicado no Correio Braziliense

*CEO da Absolar RONALDO KOLOSZUK Presidente do Conselho de Administração da Absolar

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