Entrevista/ Cenários para energia solar em 2026

rodrigo absolar

Entre desafios e oportunidades, energia solar aposta em modernização regulatória em 2026

Rodrigo Sauaia, presidente executivo da ABSOLAR, analisou os principais desafios e perspectivas do setor solar brasileiro para 2026 em entrevista ao Canal – Jornal da Bioenergia. Após um ano marcado por dificuldades regulatórias, cortes de geração e alto custo de capital, o executivo destacou os riscos que ainda ameaçam novos investimentos, mas também apontou oportunidades estratégicas ligadas à expansão da capacidade instalada, ao avanço do armazenamento de energia e à modernização do setor elétrico, que podem preparar o mercado para uma retomada mais sustentável a partir de 2027.

Canal- Jornal da Bioenergia:  Após um 2025 desafiador para a Geração Centralizada e Distribuída, quais são os principais riscos e oportunidades para o setor solar em 2026?

Rodrigo Sauaia: Em 2026, o setor solar enfrenta riscos relevantes, como a ausência de compensação financeira pelos cortes de geração (curtailment), as dificuldades de conexão à rede elétrica para pequenos e médios sistemas, o alto custo de capital com juros próximos de 15% ao ano, além da volatilidade cambial e das elevadas alíquotas de importação de equipamentos. Esses fatores podem afastar novos investimentos e reduzir a geração de empregos no setor.
Por outro lado, permanecem oportunidades importantes associadas ao papel estratégico da fonte solar na transição energética brasileira, ao crescimento do volume acumulado de potência instalada — que deve ultrapassar 75,9 GW até o final de 2026 — e à agenda de modernização regulatória, especialmente com o avanço do armazenamento de energia, da expansão da infraestrutura de transmissão e distribuição e da reforma do setor elétrico.

Canal: A Lei nº 15.269 representou um avanço, mas deixou lacunas importantes. Quais ajustes regulatórios serão prioritários no próximo ano, especialmente para o armazenamento de energia?

Rodrigo: Embora a Lei nº 15.269/2025 represente um marco importante, persistem lacunas regulatórias que precisam ser enfrentadas em 2026. Entre as prioridades estão a regulamentação adequada dos sistemas de armazenamento de energia elétrica, a definição de regras claras para os Leilões de Reserva de Capacidade (LRCAP) de armazenamento e a implantação infralegal da reforma do setor elétrico. Esses ajustes são fundamentais para integrar o armazenamento ao sistema, reduzir gargalos operacionais e dar previsibilidade aos investimentos.

Canal: Os cortes de geração renovável e as negativas de conexão seguem como entraves. Que soluções estruturais precisam avançar para destravar novos investimentos?

Rodrigo: É essencial avançar na construção de uma solução urgente de compensação aos cortes recorrentes de geração enfrentados pelas grandes usinas solares, mitigando os prejuízos financeiros aos geradores. Além disso, é necessário superar os obstáculos de conexão enfrentados pelos pequenos e médios sistemas de geração própria, hoje frequentemente barrados sob alegações de incapacidade das redes e inversão de fluxo de potência. A expansão da infraestrutura de transmissão e distribuição, aliada a melhorias na operação do sistema elétrico e à inclusão dos agentes nos debates regulatórios sobre Recursos Energéticos Distribuídos (REDs), é decisiva para destravar novos investimentos.

Canal: O armazenamento de energia foi apontado como um caminho inevitável. Em que estágio o Brasil pode chegar nesse tema até o final de 2026?

Rodrigo: Até o final de 2026, o Brasil pode avançar significativamente na consolidação do armazenamento de energia como elemento estrutural do sistema elétrico, especialmente se houver regulamentação adequada e regras claras para sua contratação e operação. A expectativa é que o armazenamento passe a ser reconhecido como ferramenta essencial para mitigar cortes de geração, aumentar a confiabilidade do sistema e viabilizar maior penetração das fontes renováveis, ainda que o mercado esteja em fase inicial de implantação.

Canal: Mesmo com juros elevados e incertezas econômicas, o setor deve atrair mais de R$ 31 bilhões em investimentos em 2026. O que sustenta essa confiança do mercado?

Rodrigo: A confiança do mercado é sustentada pelo papel estratégico da energia solar na matriz elétrica brasileira, pela demanda contínua por energia limpa e renovável e pelo crescimento do mercado acumulado, especialmente na geração distribuída. Mesmo em um cenário adverso, o setor deve adicionar 10,6 GW em 2026 e alcançar quase 76 GW de capacidade instalada, demonstrando resiliência e relevância econômica. Além disso, a perspectiva de avanços regulatórios e estruturais mantém o interesse de investidores de médio e longo prazo.

Canal: apoiar empresas e investidores para atravessar esse período e preparar o setor para 2027?

Rodrigo: A ABSOLAR atuará de forma proativa em 2026, incluindo a apresentação de propostas aos candidatos à Presidência da República, com foco na compensação aos cortes de geração, na superação dos entraves de conexão e na regulamentação do armazenamento de energia. A entidade também reforçará sua atuação junto às autoridades e aos órgãos do setor elétrico em temas como expansão da infraestrutura, aprimoramento da operação do sistema, modernização das tarifas, valoração da geração distribuída e implantação da reforma do setor elétrico. Esse trabalho visa dar previsibilidade ao mercado, apoiar empresas e investidores e preparar o setor solar para uma retomada mais sustentável a partir de 2027.

Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia

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