Entrevista – Marcos Fava Neves – Professor Titular das Faculdade de Administração da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto
Pandemia traz preocupação na área ambiental
Marcos Fava Neves é Professor Titular das Faculdades de Administração da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, e da Fundação Getúlio Vargas (FGV)em São Paulo. E é especialista em planejamento estratégico do agronegócio.
Canal – Jornal da Bioenergia: A pandemia pegou todo o setor e o mundo de surpresa. Quais são os principais desafios para o setor de produção de biocombustíveis?
Marcos Fava Neves: A pandemia reduziu o consumo devido a queda na movimentação das pessoas e as políticas de isolamento social , derrubando u o preço do petróleo, que já tiveram alguma recuperação, mas isso afetou muito o setor de biocombustíveis . Agora, os principais desafios são cuidar dos custos de produção e torcer para que a retomada do consumo venha mais rapidamente.
Canal: Algum deles foi mais impactado que o outro?
Marcos: O etanol hidratado foi o mais afetado. As atividades de transporte continuaram, não impactando tanto o diesel, mas a política de isolamento reduziu o consumo dos veículos de família.
Canal: A produção de etanol foi muito impactada devido à guerra de preços do petróleo. E agora, como vai ficar o setor?
Marcos: A produção de etanol foi impactada devido à guerra de preços com o petróleo. O setor esperava um ano excelente e sofreu um golpe, e agora, enfrenta algumas dificuldades, mas por outro lado a safra segue com bons resultados. A cana-de-açúcar está com melhor qualidade e uma grande parte do produto está sendo alocado para a produção de açúcar, praticamente 10% do índice do ano passado e isso ajuda a diminuir o volume de etanol , podendo até ter alguma recuperação de preços no segundo semestre deste ano. A política das usinas foi muito efetiva para diminuir a produção de etanol pelo fortalecimento da produção de açúcar, que vem sendo exportado em grande velocidade.
Canal: Quais foram os principais efeitos na expansão dos setores de biodiesel e etanol?
Marcos: Falando em biodiesel em geral, incluindo o etanol de cana e de milho, quando se tem uma crise como essa, todos os planejamentos e ações são congelados por seis meses, quem estava demandando projeto para. Só continua aqueles que estavam em fase final, isso é, passou de 2/3 do plano prossegue. Isso gera um atraso na nossa capacidade de expansão da produção.
Canal: Já há previsão de futuros cenários para o mercado de biocombustíveis no Brasil e no mundo?
Marcos: Os cenários continuam praticamente inalterados para o futuro do mercado de biocombustíveis no Brasil e no mundo. A pandemia traz uma aceleração da preocupação na área ambiental, que deve beneficiar o mercado de biocombustíveis , mas por outro lado, também temos que entender que a política do home office e do digital podem fazer com que a velocidade de crescimento dos biocombustíveis diminua um pouco em virtude dos deslocamentos. Com esse novo normal que começa, há expectativa de redução de movimentação das pessoas. O cenário continua mas, após os mercados voltarem a funcionar bem após a crise econômica, de emprego , de saúde, há o retorno da confiança e a vontade de movimentar o mercado de biocombustíveis.
Canal: Para o setor sucroenergético, quais os cenários? A adoção de novas tecnologias é inviável diante do caixa baixo das usinas?
Marcos: O uso de novas tecnologias no setor sucroenergético será postergado. Porém aquelas unidades, que representam 1/3 das usinas, que não possuem graves problemas de endividamento e que tem caixa, vão investir mais e, consequentemente, abrir distância maior das outras usinas do 1/3 que estão no meio- em média situação financeira – e das unidades do setor que estão com problema. Vamos observar os aumentos dos hiatos no setor sucroenergético , quem estava melhor vai se destacar mais e se distanciar de quem estava no meio e na ponta.
Mas sempre a adoção de novas tecnologias é o caminho para conseguir fazer mais, usando menos recursos, construindo margens no setor de cana. Tudo vai depender para a saída da crise, quanto tempo vai levar. Se o Brasil começar a se estabilizar e os casos de contaminação pelo vírus começarem a cair em 15 a 30 dias, a confiança na economia volta e ela reage para voltar a crescer.
Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia